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Appropriating Marx’s Capital II

Two decades after 1989, when he was too hastily consigned to oblivion, Karl Marx has returned to the limelight. In the last few years Capital has not merely received the attention of university professors, but has also been the focus of widespread interest prompted by the international financial crisis, as leading daily and weekly papers throughout the world have been discussing the contemporary relevance of its pages. Furthermore, the literature dealing with Marx, which all but dried up 20 years ago, is showing signs of revival in many countries; and there are now, once again, many international conferences and university courses dedicated to his analysis of capitalism.

Though among the most important books of the last 150 years, Karl Marx’s Capital nevertheless represents an incomplete project. Marx himself was only able to publish the first volume (1867) in his lifetime; volumes two (1885) and three (1894) were prepared for publication by Friedrich Engels. Moreover, after Engels’ death, many of Capital’s preparatory manuscripts were published by others, still some of which provided valuable further elucidations of Marx’s theoretical project, sometimes significantly changing previous interpretations (e.g., Theories of Surplus Value, edited by Karl Kautsky, in three volumes between 1905 and 1910, and the Grundrisse, published by the Marx-Engels-Lenin Institute of Moscow between 1939-41).

Marx’s notebooks of excerpts and preparatory manuscripts for the second and third volumes of Capital are now being published in German under the auspices of the Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA²) project. The former include not only material from the books he read but also the reflections they stimulated in him; they reveal the trajectory of his thought and the sources on which he drew in developing his own ideas. The publication of all the Capital manuscripts, and all the editorial revisions made by Engels (to be completed in German in 2012), enable a reliable critical evaluation of the extent of Engels’s input into the published editions of Volumes Two and Three.

In the light of the philological acquisitions of MEGA², this course aims to reconstruct all the stages of Marx’s critique of political economy (starting from Parisian studies of 1843-44), and, particularly, the making of Capital through the various drafts, like the Grundrisse (the interpretation of which will be emphasized), the Theories of Surplus Value and the ‘Results of the Immediate Process of Production’, better known as the ‘Unpublished Chapter VI’. Similar attention will be devoted to Marx’s 1850s journalism for the New-York Tribune, in which he dealt with topics beyond those explored in Capital and his scholarly manuscripts, which are important sources for every serious scholar of Marx.

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Zhang Xiuqing, China Books Review

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Karl Marx

Com a retomada, em 1998, das publicações da Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA2), o pensamento de Karl Marx pode ser recuperado, de maneira não instrumental, por pesquisadores do mundo todo. Ao longo das publicações anteriores, sua obra foi marcada por uma profunda e reiterada incompreensão, consequência das tentativas de sistematização mecânica de sua teoria crítica, pelo empobrecimento que acompanhou sua popularização, pela manipulação e censura de seus escritos e pelo uso instrumental dos mesmos para fins políticos. Agora, a incompletude dessa obra pode se destacar e, desobstruída pelas interpretações que anteriormente a deformaram, tornar-se, até mesmo, sua negação.

Nos últimos anos houve um ressurgimento internacional, por parte dos estudiosos, do interesse sobre um autor incompreendido. Seu pensamento, aparentemente fora de moda, de fato ainda se mantém indispensável para entender nosso momento atu- al, e finalmente retorna aos campos livres do conhecimento. Seu trabalho, liberto da odiosa fungão de instrumentum regni a qual serviu a um propósito instrumental no passado, torna-se foco de um renovado interesse.

As publicações da Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA2), retomada em 1998, após a interrupção que se seguiu ao colapso dos países socialistas; a reorganização da edição em curso dos seus escritos; e a transferência da sede da MEGA2 para Berlin- Brandenburgische Akademie der Wissenschaften, são os exemplos mais significantes desse renovado interesse na obra de Karl Marx. Recentemente, a importante meta de publicação do quinquagésimo volume — 0 décimo desde a retomada da publicação dos 114 previstos (cada um composto por dois livros, texto e aparato critico) — foi alcançada.

Muitas das ultimas descobertas filológicas da nova edição histérico-critica iluminam uma característica peculiar da obra de Marx: sua incompletude. Marx deixou muito mais manuscritos que escritos impressos. Esse foi ocaso também d’O Capital, cuja publicação completa, incluídos todos os trabalhos preparatórios de 1857 em diante, só será finalmente concluída na segunda secção da MEGA2, em 2010. Depois da morte de Marx, Friedrich Engels foi o primeiro a enfrentar a desafiadora empreitada — dada a dispersão dos materiais, a dificuldade da linguagem de Marx e a ilegibilidade de sua caligrafia – de publicar os fragmentários Nachlassde seu amigo. Esta série de dificuldades é especialmente aparente no terceiro livro d’O Capital (MEGA2, II/15), 0 único para o qual Marx foi incapaz, mesmo minimamente, de providenciar uma for- ma definitiva. A intensa atividade editorial, na qual Engels focou seus esforços no período entre 1885 e 1894, resultou na transição de um texto muito cru, principalmente através da composição de “pensamentos registrados in statu nascendi” e notas preliminares, para um texto orgânico de uma teoria económica sistemática. Não é surpreendente que isso tenha resultado em muitos erros de interpretação. E de grande interesse, a esse respeito, o volume prece- dente (MEGA2, II/14). Na verdade, ele contém os últimos seis manuscritos de Marx, escritos de modo esparso no período de 1871 a 1882, para o terceiro livro d’O Capital. O mais importante destes

manuscritos é volumoso Mehrwertrate und Profitrate mathematisch behandelt de 1875 — bem como os textos incluídos por Engels durante sua atividade editorial. Esses manuscritos, em particular, descrevem com inequívoca exatidão o trajeto percorrido até sua versão publicada que, levando em conta numero de intervenções no texto, se mostra bem maior do que se tinha até agora como hipótese: eles permitem entender os pontos fortes e fracos de Engels em seu papel de editor. Outra coisa que confirma o valor desse livro é o fato de que 45 dos seus 51 textos estão sendo publicados pela primeira vez.

A pesquisa filológica da MEGA2 produziu importantes resulta- dos também para a primeira Secção, a qual incluiu os escritos, artigos e rascunhos de Marx e Engels. Dois volumes foram publicados recentemente. O primeiro (MEGA2, I/14) inclui duzentos artigos e rascunhos, elaborados pelos dois autores em 1855 para o New York Tribune e para o Neue Order-Zeitung de Breslau. Muitos estudos suplementares tornaram possível incluir outros 21 textos (que não tinham sido atribuídos aos dois autores na medida em que foram publicados anonimamente no importante American Daily), pertencentes aos seus escritos mais famosos sobre a politica e diplomacia europeia, sobre crise economica internacional e sobre a guerra da Crimeia; 0 segundo volume (MEGA2, I/31) apresenta alguns dos textos tardios de Engels. O volume contém projetos, notas, incluindo o manuscrito Rolle der Gewalt in der Geschichte, mas sem os comentários de Edouard Bernstein, que foi o seu primeiro editor; comunicados para a organização movimento dos trabalha- dores; e uma série de prefácios para reimpressão de escritos e artigos já publicados. Entre esses últimos, de particular interesse são Die auswartige Politik des russischen Zarentums, a historia de duas décadas de politica externa da Russia publicada no Die Neue Ziet e depois proibida por Josef Stalin em 1934, e Juristen-Sozialismus, escrito com Karl Kautsky, cuja a paternidade das partes individuais esta, pela primeira vez, reconhecida com precisão.

Ha também desenvolvimentos interessantes na terceira secção da nova edição histérico-critica, que contém a correspondência. O tema principal em um volume (MEGA2, III/13) publicado recente- mente é a atividade politica de Marx na Associagao Internacional dos Trabalhadores (AIT), fundada em Londres em 28 de setembro de 1864. As cartas documentam a atividade de Marx no primeiro ano de vida da Associação, na qual ele rapidamente assumiu um papel dirigente cada vez maior, e atestam seu esforço em combinar comprometimento publico – depois de 16 anos estava novamente na linha de frente – com trabalho cientifico. Entre as questões debatidas: o papel dos sindicatos, cuja importância Marx enfatizava ao se opor diretamente a Ferdinand Lassalle, e sua proposta de formação de cooperativas fundadas pelo Estado prussiano: “a classe trabalhadora ou é revolucionária, ou não é nada”; a polémica contra o owenista John Weston, que resultou no conjunto de conferências que foram reunidas em 1898, depois de sua morte, em Salário, prego e lucro; os comentários sobre a Guerra Civil nos Estados Unidos; a brochura A questão militar prussiana e o partido alemão dos trabalhadores, de Engels.

O outro volume recente de correspondência (MEGA2, III/9) tem como pano de fundo a recessão económica de 1857. A crise deflagrou a esperança de Marx na recuperação do movimento revolucionário depois do impasse que se seguiu a derrota de 1848: “a crise continua cavando, como a boa velha toupeira que é°. Essa expectativa resultou no ressurgimento da produtividade intelectual de Marx e 0 impulsionou a delinear os contornos de sua teoria económica “antes do déluge’, pelo qual esperava, mas que novamente não se realizou. Foi nesse período mesmo que Marx compôs os últimos cadernos dos Grundrisse – um ponto de vista privilegiado para se observar a evolução da concepçao do autor – e decidiu pela publicação do seu trabalho em parcelas, a primeira das quais, Contribuição para a Critica da Economia Politica, apareceu em junho de 1859. De ponto de vista pessoal essa fase foi marcada por uma “miséria gangrenada’: “eu não acho que alguém alguma vez tenha escrito sobre ‘dinheiro’ tendo tao pouco da coisa”. E possível ver Marx lutando desesperadamente apesar de sua situação precária para completar sua “Economia”: “eu preciso perseguir meu objeto nos bons e maus momentos e não permitir que a sociedade burguesa me transforme numa máquina de fazer dinheiro”. Não obstante, ainda que completa- mente dedicado a completar a segunda parte, Marx não foi capaz de concluí-la e o primeiro livro d’O Capital sé foi publicado em 1867. A porção restante de seu imenso projeto, apesar do carater sistemático que lhe é normalmente atribuído, só seria realizada em parte e permaneceria cheia de manuscritos abandonados, rascunhos e projetos inacabados.

Fiel companhia e danação de toda produção literária de Marx, essa incompletude também é naturalmente evidente em seus primeiros trabalhos. O primeiro numero da nova série do Marx-Engels-Jahrbuch (Marx, Engels e Weydemeyer, 2004), que é inteiramente dedicado a Ideologia Alemā, é uma prova irrefutável disso. Esse livro — que antecipa o volume I/5 da MEGA2, finalmente publicado – contém partes de um manuscrito diretamente atribuído a Moses Hess e, diferente das edições anteriores, conterá as anotações de Marx e Engels exatamente como foram deixadas pelos autores, i.e. sem qualquer tentativa de reconstrução. As partes incluídas no Marx-Engels-Jahrbuch correspondem aos “capítulos” I. Feuerbach e I. Sankt Bruno. Os sete manuscritos que sobreviveram a “critica roedora dos ratos” estão selecionados como textos independentes e colocados em ordem cronológica. A natureza desigual dos textos é imediatamente percebida nessa edição. Em particular o capitulo sobre Feuerbach esta longe de completo. Ainda, como conjunto esse volume ajuda a estabelecer bases confiáveis para pesquisa futura sobre a elaboração do pensamento de Marx. A Ideologia Alemã, por vezes considerada como uma apresentação exaustiva da concepçao materialista de Marx, recuperou seu cárter fragmentário original.

Finalmente, tomando sempre a medida da preocupação do jovem Marx, vale a pena assinalar a reedição da coleção das obras de juventude de Marx pelos estudiosos social-democratas Landshut e Mayer (Marx, 2004). Essa edição, publicada originalmente em 1932 —ao mesmo tempo em que a “primeira” MEGA -,permitiu a disseminaçao dos Manuscritos Econémico-Filoséficos e da Ideologia Alemã, até então nao publicados, apesar do numero de erros de conteúdo e no arranjo das diferentes partes do texto, além de uma ma decifração da versão original.

Depois de muitas temporadas marcadas por uma profunda e reiterada incompreensão de Marx, consequência de certo esforço de sistematização de sua teoria critica – levando em conta seu caráter originalmente incompleto e não-sistemático -, pelo empobrecimento que acompanhou sua popularização, pela manipulação e censura de seus escritos e pelo uso instrumental dos mesmos para fins políticos, a incompletude dessa obra se destaca com indiscreto charme, desobstruída pelas interpretações que anteriormente a deformaram, tornando-se, até mesmo, sua negação. Dessa incompletude reemerge a riqueza de um pensamento problemático e polimórfico e um horizonte distante para o qual a Marx Forschung (a pesquisa em Marx) possui ainda tantos caminhos a percorrer.

Traducao: Daniela Mussi.

Referěncias bibliográficas
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Marx, Karl. Das Kapital. Kritik der politischen Okonomie. Dritter Band. Hamburg 1894. Berlim: Akademie Verlag, 2004 (MEGA’, II/15).
Marx, Karl, Die Fruhschriften. Stuttgart: Kroner, 2004.