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A guerra civil nos EUA e as lutas pela independência da Polônia

A luta contra a escravidão nos EUA
Na primavera de 1861, a política mundial foi sacudida pela eclosão da Guerra Civil Americana. Ela começou rapidamente após a eleição de Abraham Lincoln como presidente dos Estados Unidos, quando sete estados escravocratas declararam sua secessão dos EUA: Carolina do Sul, Mississippi, Florida, Alabama, Geórgia, Luisiana e Texas. Somaram-se a eles Virgínia, Arkansas, Tennessee, Carolina do Norte e, posteriormente, Missouri e Kentucky (embora estes dois últimos não tenham proclamado oficialmente sua separação). O conflito sangrento que se sucedeu tomou aproximadamente 750.000 vidas entre os Confederados (que eram a favor da manutenção e expansão da escravidão) e a União (os estados leais à Lincoln, ainda que em alguns casos considerando a escravidão legal).

Marx imediatamente se pôs a estudar a situação e, no começo de julho, escreveu à Engels: “O conflito entre Sul e Norte […] finalmente chegou ao ponto culminante (se desconsideramos as novas exigências desavergonhadas da ‘cavalaria’ ) devido ao peso que o extraordinário desenvolvimento dos estados do noroeste colocou na balança.” Na visão de Marx, nenhum dos componentes do movimento separatista tinha qualquer legitimidade; esses movimentos deveriam ser considerados como “usurpações”, já que “em nenhum momento eles deixaram o povo votar em massa”. De todo modo, o que estava em questão não foi apenas a “secessão do Norte, mas também consolidar e intensificar a oligarquia dos 300.000 senhores de escravos no Sul.” (MARX, [1861c] 1985, p.300-1) Alguns dias depois, ele observou que “o assunto [foi] erroneamente representado no noticiário britânico”, já que em todo o lugar, exceto na Carolina do Sul, “havia a mais firme oposição à secessão.” (MARX, [1861d] 1985, p.305) Além do mais, em lugares nos quais a consulta eleitoral era permitida – “apenas poucos” dos estados no Golfo do México possuíam um “voto popular adequado” – ela ocorria em condições censuráveis. Na Virgínia, por exemplo, “uma enorme massa de tropas confederadas foi repentinamente posicionada no território” e “sob sua proteção legal (deveras bonapartista, isso), ela votou pela secessão” – ainda assim, “apesar do terrorismo sistemático”, houveram “50.000 votos” pela União. O Texas, que, “depois da Carolina do Sul, [possuía] o maior terrorismo e partido escravocrata”, ainda registrou “11.000 votos a favor da União”. No Alabama, não havia “voto popular nem pela secessão nem pela nova constituição”, e só foi possível a maioria de 39/61 dos delegados da convenção a favor da secessão em razão do fato de que sob a Constituição “cada escravocrata também votava por 3/5 dos seus escravos.” (MARX, [1861d] 1985, p.306-7). No caso da Luisiana, na “eleição de delegados para a convenção” foram proferidos mais votos pela União ao invés da secessão, mas um número suficiente de delegados desertou para reverter o jogo (MARX, [1861d] 1985, p.307).

Tais considerações nas cartas de Marx à Engels foram complementadas por argumentos ainda mais importantes em suas obras jornalísticas. Em adição às esporádicas contribuições com o New-York Tribune, em outubro de 1861, ele começou a escrever também para o diário liberal vienense Die Presse que, com seus 30.000 assinantes, foi o mais amplamente lido jornal na Áustria e um dos mais populares onde quer que se falasse a língua alemã. O tema central desses artigos – que também incluíam relatórios sobre a segunda invasão da França ao México – eram os efeitos econômicos da guerra norte-americana contra a Grã-Bretanha. Em particular, Marx se concentrou no desenvolvimento do comércio e da situação financeira, bem como em avaliar as tendências na opinião pública. Portanto, em Um encontro de trabalhadores londrinos (1862), ele expressou satisfação em relação às demonstrações organizadas pelos trabalhadores ingleses que, apesar de “não representados no Parlamento”, tinham conseguido exercer sua “influência política” (MARX, [1862b] 1984, p.153) e impediram uma intervenção militar da Grã-Bretanha contra a União.

Similarmente, Marx escreveu um artigo inspirado para o New-York Tribune, após o Caso Trent, quando a Marinha dos EUA prendeu de maneira ilegal dois diplomatas confederados a bordo de um navio britânico. Os Estados Unidos, escreveu Marx, não deveriam se esquecer “de que pelo menos as classes trabalhadoras da Inglaterra nunca os abandonaram”. Para elas, “a paz oscilava na balança” porque “apesar dos estímulos venenosos diariamente administrados por uma imprensa corrupta e irresponsável, não era possível realizar uma única reunião de guerra no Reino Unido durante todo o período”. (MARX, [1862a] 1984, p.137) A “atitude das classes trabalhadoras britânicas” seria ainda mais valorizada quando colocada lado a lado com “o bullying, a conduta hipócrita, covarde e estúpida da oficial e abastada figura do John Bull”; coragem e consistência de um lado, incoerência e autocontradição de outro. Em uma carta que escreveu à Lassalle em maio de 1861, ele comentou: “o todo da imprensa oficial na Inglaterra era, claro, a favor dos escravocratas. Eles são os mesmos sujeitos que fatigaram o mundo com sua filantropia comercial antiescravista. Mas algodão é algodão!” (MARX, [1861a] 1985, p.291)

Os interesses de Marx quanto à Guerra Civil vão além do possível impacto para a Grã-Bretanha; ele queria, acima de tudo, iluminar a natureza do conflito. O artigo que escreveu para o New-York Tribune alguns meses depois que a guerra eclodiu é um bom exemplo disso: “O povo da Europa sabe que uma luta pela continuidade da União é uma luta contra a continuidade da escravocracia – que nesta disputa a forma mais elevada de autogoverno popular já realizada até agora está dando embate à mais vil e vergonhosa forma de escravidão humana já registrada nos anais da história” . (MARX, [1861f] 1984, p.30)

Em alguns dos artigos para a Die Presse, Marx analisou em maior profundidade os argumentos dos dois lados opositores. Ele começou demonstrando a hipocrisia dos partidários ingleses liberais e conservadores. Em A guerra civil norte-americana (25 de outubro de 1861), ele ridicularizou a “descoberta brilhante” do The Times, então um proeminente jornal britânico, de que foi “uma mera guerra tarifária, uma guerra entre um sistema protecionista e um sistema de livre comércio” e sua conclusão de que os britânicos não tinham escolha senão declarar suporte ao “livre comércio” representado pela confederação do sul. Alguns semanais, incluindo o The Economist e o The Saturday Review, deram um passo além e insistiram que “a questão da escravidão […] não tinha absolutamente nada a ver com essa guerra”. (MARX, [1861e] 1984, p.32-33)

Ao se opor à essas interpretações, Marx chamou atenção para as razões políticas por trás do conflito. Sobre os proprietários de escravos do Sul, assinalou que seu objetivo central era manter controle do senado e, portanto, “influência política sobre os Estados Unidos”. Para isso, era necessário conquistar novas regiões (como havia acontecido em 1845 com a anexação do Texas) ou transformar partes existentes dos EUA em “estados escravistas”. (MARX, [1861e] 1984, p.33) Os defensores da escravidão na América do Norte eram “uma pequena oligarquia que sempre [foi] confrontada com muitos milhões dos assim chamados brancos pobres, cujos números haviam crescido constantemente por meio da concentração da propriedade de terra e cuja condição só se compara àquela dos plebeus romanos no período de extremo declínio da Roma”. (MARX, [1861e] 1984, p.40-41) Portanto, a “aquisição e perspectiva de aquisição de novos territórios” foi a única maneira possível de coincidir os interesses dos pobres com aqueles dos proprietários de escravos, para dar uma direção inofensiva à sua sede incansável de ação e para domá-los com a perspectiva de um dia se tornarem eles próprios donos de escravos”. Por outro lado, Lincoln perseguia o objetivo do “confinamento rigoroso da escravidão dentro de seu antigo terreno”, o que “inevitavelmente levaria, de acordo com a lei econômica, à sua extinção gradual” e, portanto, à aniquilação da “hegemonia” dos “estados escravistas”. (MARX, [1861e] 1984, p.41)

Marx usou seu artigo para argumentar o oposto: “o movimento como um todo estava e é baseado, como se vê, na questão da escravidão. Não no sentido de se os escravos nos estados escravistas devem ser completamente emancipados ou não, mas sim se os 20 milhões de homens livres do Norte deveriam continuar a se submeter a uma oligarquia de 300.000 escravocratas”. O que estava em jogo – e Marx baseava nisso o seu insight sobre o mecanismo expansivo da forma econômica – era “se os vastos territórios da república deveriam ser incubadoras para os estados livres ou para a escravidão; [e] se a política nacional da União deveria usar enquanto um dispositivo seu a disseminação armada da escravidão no México, América Central e do Sul” . (MARX, [1861e] 1984, p.41)

Essas análises realçam o abismo que separa Marx de Giuseppe Garibaldi, que havia rejeitado a oferta de um posto de comando no exército do Norte com a justificativa de que se tratava apenas de uma disputa por poder que não dizia respeito à emancipação dos escravos. Sobre a posição de Garibaldi e sua tentativa fracassada de restaurar a paz entre os dois lados, Marx comenta com Engels que: “Garibaldi, o jumento, fez a ele próprio de trouxa com sua carta aos ianques promovendo harmonia.” (MARX, [1861b] 1985, p.293). Enquanto Garibaldi falhou em entender os verdadeiros objetivos e possibilidades no processo em curso, Marx – como um não-maximalista alerta para os possíveis desenvolvimentos históricos – imediatamente percebeu que o resultado da Guerra Civil Norte-Americana seria decisivo em escala mundial para pôr em movimento o relógio da história no caminho da escravidão ou da emancipação.

Em novembro de 1864, confrontado com o rápido e dramático desenrolar dos eventos, Marx pediu a seu tio Lion Philips para refletir sobre “como, na época da eleição de Lincoln [em 1860], era apenas uma questão de não fazer mais concessões aos donos de escravos, quando agora o objetivo declarado, e que em parte já havia sido realizado, era a abolição da escravidão”. E adicionou: “deve-se admitir que nunca tamanha revolução ocorreu com tamanha rapidez. Ela terá uma influência extremamente benéfica para todo o mundo.” (MARX, [1864b] 1987, p.48).

Abraham Lincoln e Andrew Johnson
A reeleição de Lincoln em novembro de 1864 ofereceu à Marx a ocasião para expressar, em nome da Associação Internacional dos Trabalhadores, uma mensagem de felicitações contendo uma clara importância política: “se a resistência ao poder escravo era a palavra de ordem de sua primeira eleição, o triunfante grito de guerra de sua reeleição é morte à escravidão.” (MARX, [1864c] 1985, p.19)

Alguns representantes da classe dominante sulista haviam declarado que “a escravidão [era] uma instituição beneficente”, e até pregavam que era “a única solução para o grande problema da relação do trabalho com o capital” . (MARX, [1864c] 1985, p.19) Decorre daí a disposição de Marx em colocar as coisas nos seus devidos lugares:

A classe trabalhadora da Europa entendeu de uma vez, antes mesmo que o partidarismo fanático das classes superiores para com o senhorio da Confederação tivesse dado seu sombrio aviso, de que a rebelião dos donos de escravos iria soar como sinal de guerra para uma cruzada sagrada da propriedade contra o trabalho, e que para os homens do trabalho, com suas esperanças de futuro, mesmo as conquistas do passado estariam em risco naquele tremendo conflito do outro lado do Atlântico. (MARX, [1864c] 1985, p.20)

Marx então tocou em um assunto não menos importante:

Enquanto os trabalhadores, o verdadeiro poder político do Norte, permitiram que a escravidão sujasse sua própria república; enquanto diante do Negro, subjugado e vendido sem seu consentimento, eles se gabavam do mais alto privilégio do trabalhador de pele branca de vender a si mesmo e escolher seu próprio senhor; eles foram incapazes de obter a verdadeira liberdade do trabalho ou de apoiar seus irmãos europeus em sua luta por emancipação. (MARX, [1864c] 1985, p.20)

Um argumento muito similar é feito em O capital, livro I, onde Marx sublinha enfaticamente que “nos Estados Unidos da América do Norte, todo movimento operário independente ficou paralisado durante o tempo em que a escravidão desfigurou uma parte da república. O trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro”. Contudo, “da morte da escravidão brotou imediatamente uma vida nova e rejuvenescida. O primeiro fruto da guerra civil foi o movimento” por uma jornada diária de trabalho de oito horas. (MARX, [1867] 1976, p.414)

Marx estava bem consciente das posições políticas moderadas de Lincoln , e ele não encobriu os preconceitos raciais de alguns de seus aliados. Mas ele sempre enfatizou de maneira clara, sem nenhum sectarismo, as diferenças entre o sistema escravocrata no Sul e o sistema baseado em trabalho assalariado no Norte. Ele compreendia que, nos Estados Unidos, estavam sendo formadas as condições para demolir uma das mais infames instituições do mundo. O fim da escravidão e da opressão racial permitiria ao movimento global dos trabalhadores que operassem em uma conjuntura mais favorável à construção de uma sociedade sem classes e de um modo de produção comunista .

Com isso em mente, Marx escreveu a Mensagem da Associação Internacional dos Trabalhadores para o presidente Johnson, que havia sucedido Lincoln após seu assassinato em 14 de abril de 1865. Marx queria lembrar a Andrew Johnson que, com sua eleição presidencial, ele havia recebido “a tarefa de arrancar pela raiz a lei que havia sido cortada pela espada”: isto é, “presidir sobre o árduo trabalho de reconstrução política e regeneração social…; para iniciar uma nova era de emancipação do trabalho.” (MARX, [1865a] 1985, p.100)

Alguns anos depois, em nome da Internacional, Marx enviou uma Mensagem para a União Nacional dos Trabalhadores dos Estados Unidos (1869). Ele estava bem ciente – escreveu – que “o sofrimento das classes trabalhadoras partiu como um florete o luxo modernizado dos aristocratas financeiros … e vermes semelhantes criados pelas guerras.” (MARX [1869] apud MUSTO, 2014, p. 259) Contudo, não se deve esquecer que “a Guerra Civil Americana compensou por libertar o escravo e ímpeto moral decorrente”. “De você,” ele conclui, “depende a gloriosa tarefa de provar para o mundo que agora, finalmente, as classes trabalhadoras estão percorrendo a cena da história não mais como criados servis, mas como atores independentes, conscientes de sua própria responsabilidade.” (MARX [1869] apud MUSTO, 2014, p.260)

A questão da revolução polonesa e o papel reacionário da Rússia
Quanto às refinadas contribuições analíticas que Marx escreveu para o Die Presse, apenas uma parte delas chegou a ser publicada. Em fevereiro de 1862 ele escreveu à Engels que, “em vista do atual estado de podridão das questões na Alemanha”, o jornal vienense ainda não havia se mostrado a “vaca leiteira que ele poderia ter sido” para escorar suas finanças miseráveis. Os “companheiros” tinham impresso, talvez, “um a cada quatro”, de forma que ele não apenas havia falhado em ganhar o suficiente para atenuar as circunstâncias de sua família, mas também sofreu de “perda de tempo” e o incômodo de “ter que escrever sobre um tópico específico, quer o gracioso conselho editorial seja condescendente em concordar com o imprimatur do artigo ou não.” (MARX, [1862c] 1985, p.340) Marx repetiu a questão em abril, em um comentário sarcástico que ele enviou à Engels: “em sua Nova ciência, Vico diz que a Alemanha é o único país da Europa onde ainda se fala uma ‘lingua heróica’. Se ele tivesse tido o prazer de entrar em contato com o Presse de Viena ou o National-Zeitung de Berlin, o velho Napolitano teria abandonado essa ideia pré-concebida.” (MARX, [1862d] 1985, p.353-54) Pelo fim de 1862, Marx decidiu romper suas colaborações com o jornal austríaco. Dentro de pouco mais de um ano, ele havia conseguido publicar um total de 52 artigos, alguns deles escritos com a ajuda de Engels.

Apesar de os eventos que abalaram os Estados Unidos terem sido a principal preocupação de Marx na política internacional, ele também perseguiu com seu habitual interesse todos os principais desenvolvimentos na Rússia e no leste europeu. Em uma carta de junho de 1860 para Lassalle, Marx faz alguns argumentos a respeito de um de seus maiores enfoques políticos: sua oposição à Rússia e seus aliados Henry Palmerston e Luís Bonaparte. Ele tentou convencer Lassalle de que não havia nada de ilegítimo na convergência entre as posições de seu “partido” e aquelas de David Urquhart, um político com visões românticas partidário do Tory. A respeito de Urquhart – quem teve a audácia de republicar, para fins anti-russos e antiliberais, os artigos de Marx contra Palmerston que haviam aparecido no órgão dos cartistas ingleses no início dos anos 1850 – ele escreveu: “ele é … subjetivamente reacionário … isso de forma alguma inviabiliza o movimento da política externa, da qual ele é o líder, de ser objetivamente revolucionário. Para mim [… a posição pessoal de Urquhart] é uma questão totalmente indiferente, da mesma forma que, digamos, em uma guerra contra a Rússia também seria indiferente para você se, ao atirar nos russos, os motivos do seu vizinho na linha de tiro fossem preto, vermelho e dourado, [i. e., nacionalistas] ou revolucionários.” (MARX, [1860] 1985, p.152-53) Marx continuou: “E não é preciso dizer que, em política externa, ganha-se pouco usando slogans como ‘reacionário’ e ‘revolucionário’.” (MARX [1860] in MUSTO, 2018, p.132)

Sempre vigilante para sinais de uma revolta que pudesse limitar o papel reacionário da Rússia na política europeia, Marx escreveu para Engels no começo de 1863 (logo após a revolta polonesa de janeiro e da imediata oferta de Bismarck para ajudar a suprimi-la) que “a era da revolução est[ava] agora mais uma vez aberta na Europa.” (MARX, [1863a] 1985, p.453) E quatro dias depois, ele refletiu: “Os assuntos poloneses e a intervenção da Prússia de fato representam uma combinação que nos impele à falar.” (MARX, [1863b] 1985, p.455)

Dada a importância desses eventos, Marx não pensou que seria suficiente para eles falar apenas através de artigos publicados. Ele sugeriu, portanto, a imediata emissão de um manifesto em nome da Associação Educacional dos Trabalhadores Alemães em Londres, que se mantinha próxima de suas posições políticas. Isso o daria cobertura caso ele procedesse com a ideia de requerer a cidadania alemã e “retornar à Alemanha”. Engels deveria escrever a “parte militar” desse pequeno texto, focando nos “interesses políticos e militares da Alemanha na restauração da Polônia”, enquanto Marx assumiria a “parte diplomática.” (MARX, [1863b] 1985, p.455). Quando, em 18 de fevereiro de 1863, a câmara dos deputados condenou a política do governo e emitiu uma resolução no sentido de neutralidade, Marx disparou com entusiasmo: “devemos ter uma revolução em breve.” (MARX, [1863d] 1985, p.461). Tal como ele a via, a questão polonesa oferecia “mais uma circunstância para provar que é impossível prosseguir com os interesses alemães enquanto continuar a existir um estado próprio dos Hohenzollerns.” (MARX, [1863e] 1985, p.462). A oferta de Bismarck para apoiar o tzar Alexandre II, ou sua autorização para que “a Prússia tratasse seu território [o da Polônia] como Russo” (MARX, 1981, p.89) , deu a Marx mais motivação política para completar seu plano.

Foi nesse período, portanto, que Marx embarcou em outro de seus minuciosos projetos de pesquisa. Em uma carta que enviou à Engels no final de maio, ele reportou que nos meses anteriores – além de economia política – ele esteve estudando aspectos da questão polonesa; isso o permitiu “preencher as lacunas em [seu] conhecimento (diplomático, histórico) da questão russa-prussiana-polonesa.” (MARX, [1863f] 1985, p.474) Portanto, entre fevereiro e maio, ele havia escrito um manuscrito intitulado Polônia, Prússia e Rússia (1863), no qual documentou bem a sujeição histórica de Berlim à Moscou. Para os Hohenzollerns, “o progresso da Rússia represent[ou] a lei de desenvolvimento da Prússia”; “Não [havia] Prússia sem Rússia”. Para Marx, ao contrário, “a restauração da Polônia significa[va] a aniquilação da Rússia de hoje, o cancelamento de sua aposta de hegemonia global.” (MARX, 1981, p.7) Pela mesma razão, “a aniquilação da Polônia, sua definitiva entrega à Rússia, [significaria] o declínio certo da Alemanha, o colapso da única barragem que segura o dilúvio universal eslavo.” (MARX, 1981, p.7) O texto planejado nunca chegou a ver a luz do dia. Nessa ocasião, a responsabilidade claramente recai sobre Engels (que escreveria a parte mais substancial, sobre os aspectos militares), enquanto a “parte diplomática” de Marx, a qual ele estaria “pronto para fazer a qualquer momento”, era para ser “apenas um apêndice.” (MARX, [1863c] 1985, p.458) Em outubro, todavia, Marx conseguiu publicar uma Proclamação da Sociedade Educacional dos Trabalhadores Alemães em Londres sobre a Polônia (1963), o que o ajudou a levantar fundos para os combatentes pela liberdade polonesa. Ela começou com uma proclamação retumbante: “A questão polonesa é a questão alemã. Sem uma Polônia independente não pode haver uma Alemanha unida, nenhuma emancipação da Alemanha da dominação russa que se iniciou com a primeira repartição da Polônia”. (MARX, [1863g] 1984, p.296) Para Marx, enquanto “a burguesia alemã assistia, calada, passiva e indiferente, ao massacre da heroica nação que sozinha ainda proteg[ia] a Alemanha do dilúvio moscovita”, a “classe trabalhadora inglesa”, “que [tinha] conquistado honra histórica imortal para si própria ao frustrar as repetidas tentativas das classes dominantes de intervir em nome dos escravocratas norte-americanos”, continuaria a lutar ao lado dos insurgentes poloneses. (MARX, [1863g] 1984, p.297)

Esse conflito, que durou mais de um ano, foi o mais longo já travado contra a ocupação russa. Ele chegou ao fim apenas em abril de 1864, quando os russos, tendo executado os representantes do governo revolucionário, finalmente esmagaram a revolta. Em maio, as tropas russas também completaram a anexação do norte do Cáucaso, colocando fim a uma guerra que havia começado em 1817. Mais uma vez, Marx mostrava perspicácia, e ao contrário “do resto da Europa” – “que assistia com idiota indiferença” – ele considerava “a supressão da insurreição polonesa e a anexação do Cáucaso” como “os dois eventos mais importantes já acontecidos na Europa desde 1815.” (MARX, [1864a] 1985, p.538)

O apoio à luta polonesa durante e depois da Internacional
Marx continuou a se ocupar com a questão polonesa, que surgiu várias vezes no debate dentro da Internacional. De fato, o encontro preparatório mais importante da fundação da Internacional aconteceu em julho de 1863 e foi organizado porque um número de organizações de trabalhadores franceses e ingleses havia se encontrado em Londres especificamente para expressar solidariedade ao povo polonês contra a ocupação tzarista.

Posteriormente, três meses após o nascimento da Internacional, em uma reunião da Comissão Permanente do Conselho Geral acontecida em dezembro de 1864, o jornalista Peter Fox argumentou em sua fala sobre a Polônia que “os franceses [haviam sido] tradicionalmente mais solidários [com os polacos] do que os ingleses”. Marx então não contestou isso, mas, quando ele escreveu para Engels, já havia “desdobrado um quadro historicamente irrefutável de traições francesas constantes da Polônia, de Luís XV até Bonaparte III”. Foi nesse contexto que ele rascunhou um novo manuscrito, que mais tarde ficou conhecido como Polônia e França (1864). Escrito em inglês, ele cobria o intervalo de tempo desde a Paz de Westphalia, em 1648, até 1812.

Um ano depois, em setembro de 1865, logo após a conferência da Internacional acontecida em Londres, Marx propôs um projeto de agenda para a política externa do movimento trabalhador na Europa. Enquanto uma de suas prioridades, ele indicou “a necessidade de eliminar a influência moscovita da Europa aplicando o direito de autodeterminação das nações, e o reestabelecimento da Polônia sobre uma base democrática e social (MARX, [1865b] 1987, p.400). Levou décadas para que isso acontecesse.

Marx continuou a apoiar a causa polonesa também após a dissolução da Internacional. No outono de 1875, ele foi convidado a falar em uma reunião sobre a liberação da Polônia, mas precisou recusar em razão de seu estado de saúde precário. Na carta que enviou ao publicitário e ativista político Pyotr Lavrov, onde explica sua ausência, ele deixou claro que, se tivesse feito sua fala, poderia apenas ter reafirmado a opinião que manteve por mais de trinta anos – a de que “a emancipação da Polônia é um dos pré-requisitos da emancipação da classe trabalhadora na Europa.” (MARX, [1875] 1991, p.111).

O caso da Polônia demonstra que Marx, quando confrontado com os grandes eventos históricos em muitos lugares distantes, foi capaz de apreender o que estava acontecendo no mundo e contribuir para sua transformação. Essa perspectiva internacionalista precisa urgentemente ser revivida nos movimentos atuais de esquerda.

Tradução: Álvaro Martins

Notas
1. Professor de teoria sociológica na Universidade de York, Toronto, Canadá, e autor de inúmeros livros, capítulos de livro e artigos acadêmicos publicados em diversas línguas ao redor do mundo. No Brasil, a editora Boitempo lançou seus livros Trabalhadores, uni-vos! Antologia política da I Internacional (2014) e O velho Marx: uma biografia de seus últimos anos [1881-1883] (2018). Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0911-5907. E-mail: marcello.musto@gmail.com.
2. Doutorando em economia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Membro do Núcleo Interdisciplinar de estudos e pesquisas sobre Marx e o Marxismo (NIEP-Marx) e do Grupo de estudos e pesquisas sobre ontologia crítica (Gepoc) – http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/227143. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7135157368229858. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9630-7108. E-mail: alvaromsiqueira@gmail.com.
3. Esse era o nome usado por Marx para se referir aos senhores de engenho sulistas.
4. O censo de 1860, com o qual Marx ainda não estava familiarizado no momento em que escrevia, registrou pouco mais de 394.000 senhores de escravos, ou 8 por cento das famílias norte-americanas. O número de escravos, contudo, totalizou 3.950.000. Ver Departamento do Censo dos Estados Unidos: “A população dos Estados Unidos em 1860, compilada dos resultados originais do Oitavo Censo sob a Secretaria de Interior”. Washington: Escritório governamental de imprensa, 1866.
5. Sobre o pensamento de Marx a respeito da escravidão, ver BACKHAUS (1974).
6. Sobre o caráter “inerentemente expansionista da escravidão sulista”, ver BLACKBURN (2011, p.21).
7. [M.M.] Tradução modificada.
8. Marx estava aqui citando uma fala do senhor de escravos A. Stephens in Savannah, em 21 de março de 1861, que foi publicada no New-York Daily Tribune em 27 de março de 1861.
9. [N.T.: trecho traduzido da edição brasileira: O capital, livro 1. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 372.]
10. Sobre as diferenças entre os dois, ver também o recente trabalho: KULIKOFF (2018).
11. “Derrotar o poder escravista e libertar os escravos não destruiria o capitalismo, mas criaria condições bem mais favoráveis para organizar e elevar o trabalho, seja ele branco ou negro. Marx retratou os abastados senhores de escravos como semelhantes aos aristocratas europeus, e sua remoção enquanto uma tarefa em prol da revolução democrática que ele havia defendido no Manifesto Comunista enquanto o objetivo imediato dos revolucionários alemães.” (BLACKBURN, 2011, p.13, tradução livre)
12. Ver MARX, [1853] 1979, p.341-406.
13. Dentre os numerosos estudos dedicados às concepções políticas de Marx sobre a Rússia, ver RJASANOW (1909) e RABEHL (1977). Ver também BONGIOVANNI (1989), especialmente p.171-189.
14. Ver também MARX [1863] 1985, p.458, e ENGELS [1863] 1985, p.459.
15. Para uma coletânea tematicamente organizada dos manuscritos de Marx sobre a Polônia, ver MARX (1961). E para uma edição cronológica baseada na data de elaboração, ver MARX (1971).
16. Ver introdução de Bongiovanni (1981, p.xxv, tradução livre): “Para Marx, um observador apaixonado do grande jogo, a solução para os problemas estava em alguma medida atrelada à perigosa persistência das características arcaicas que resistiam ao progresso social […] era de certa forma preliminar à luta final, isto é, à resolução de contradições peculiares ao mundo dominado pelo modo capitalista de produção.”

Referências
BACKHAUS, Wilhelm. Marx, Engels und die Sklaverei. Düsseldorf: Schwann, 1974.
BLACKBURN, Robin. An unfinished revolution: Marx and Lincoln. London: Verso, 2011.
BONGIOVANNI, Bruno (1989). Le repliche della storia. Turim: Bollati Boringhieri, 1989.
ENGELS, Friedrich. Carta de Engels para Marx, 21 de fevereiro de 1863. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
KULIKOFF, Allan. Abraham Lincoln and Karl Marx in dialogue. New York: Oxford University Press, 2018.
MARX, Karl. Lord Palmerston, 1853. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.12: Marx and Engels 1853-1854. New York: Lawrence & Wishart, 1979. p.341-406.
MARX, Karl. Carta de Marx para Lassalle, 1 ou 2 de junho de 1860. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Lassalle, 29 de maio de 1861. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 10 de junho de 1861. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 1 de julho de 1861. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 5 de julho de 1861. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. The North American Civil War, Die Presse, Viena, 25 de outubro de 1861. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.19: Marx and Engels 1861-64. New York: Lawrence & Wishart, 1984. [Ed. bras.: A guerra civil americana (25/10/1861). In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Escritos sobre a guerra civil americana. Organização, notas e tradução de Felipe Vale da Silva e Muniz G. Ferreira. Londrina: Aetia; São Paulo: Peleja, 2020. p.47-57.]
MARX, Karl. The London Times on the Orleans Princes in America, New-York Daily Tribune, Nova Iorque, 7 de novembro de 1861. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.19: Marx and Engels 1861-64. New York: Lawrence & Wishart, 1984. [Ed. bras.: O Times de Londres e os princípes de Orléans na América. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Escritos sobre a guerra civil americana. Organização, notas e tradução de Felipe Vale da Silva e Muniz G. Ferreira. Londrina: Aetia; São Paulo: Peleja, 2020. p.262-265.]
MARX, Karl. English public opinion, New-York Daily Tribune, Nova Iorque, 1 de fevereiro de 1862. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.19: Marx and Engels 1861-64. New York: Lawrence & Wishart, 1984. [Ed. bras.: A opinião pública inglesa. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Escritos sobre a guerra civil americana. Organização, notas e tradução de Felipe Vale da Silva e Muniz G. Ferreira. Londrina: Aetia; São Paulo: Peleja, 2020. p.216-220.]
MARX, Karl. A London workers’ meeting, Die Presse, Viena, 2 de fevereiro de 1862. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.19: Marx and Engels 1861-64. New York: Lawrence & Wishart, 1984. [Ed. bras.: Uma reunião operária em Londres. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Escritos sobre a guerra civil americana. Organização, notas e tradução de Felipe Vale da Silva e Muniz G. Ferreira. Londrina: Aetia; São Paulo: Peleja, 2020. p.225-228.]
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 25 de fevereiro de 1862. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 28 de abril de 1862. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 13 de fevereiro de 1863. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 17 de fevereiro de 1863. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 20 fevereiro de 1863. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 21 de fevereiro de 1863. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 24 de março de 1863. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 29 de maio de 1863. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Proclamation on Poland by the German Workers’ Educational Society in London (novembro de 1863). In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.19: Marx and Engels 1861-64. New York: Lawrence & Wishart, 1984.
MARX, Karl. Carta de Marx para Engels, 7 de junho de 1864. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.41: Marx and Engels: 1860-64. New York: Lawrence & Wishart, 1985.
MARX, Karl. Carta de Marx para Lion Philips, 29 de novembro de 1864. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.42: Marx and Engels: 1864-68. New York: Lawrence & Wishart, 1987.
MARX, Karl. To Abraham Lincoln, president of the United States of America, The Daily News, 23 de dezembro de 1864. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.20: Marx and Engels 1864-68. New York: Lawrence & Wishart, 1985. [Ed. bras.: A Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos da América. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Escritos sobre a guerra civil americana. Organização, notas e tradução de Felipe Vale da Silva e Muniz G. Ferreira. Londrina: Aetia; São Paulo: Peleja, 2020. p.289-291.]
MARX, Karl. Address from the Working Men’s International Association to president Johnson, The Bee-Hive Newspaper, 20 de maio de 1865. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.20: Marx and Engels 1864-68. New York: Lawrence & Wishart, 1985. [Ed. bras.: Mensagem da Associação Internacional dos Trabalhadores ao presidente Johnson. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Escritos sobre a guerra civil americana. Organização, notas e tradução de Felipe Vale da Silva e Muniz G. Ferreira. Londrina: Aetia; São Paulo: Peleja, 2020. p.292-293.]
MARX, Karl. Carta de Marx para Hermann Jung, 20 de novembro de 1865. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.42: Marx and Engels: 1864-68. New York: Lawrence & Wishart, 1987.
MARX, Karl. Carta de Marx para P.L. Lavrov, 3 de dezembro de 1875. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx & Engels collected works (MECW), v.45: Marx and Engels: 1874-1879. New York: Lawrence & Wishart, 1991.
MARX, Karl. Manuskripte über die polnische Frage (1863-1864). S’-Gravenhage: Mouton & co, 1961.
MARX, Karl. Przyczynki do historii kwestii polskiej. Rękopisy z lat 1863-1864. Beitrage zur Geschichte der polnischen Frage. Manuskipte aus den Jahren 1863-1864. Warsaw: Książka i Wiedza, 1971.
MARX, Karl. Address to the National Labour Union of the United States. In: MUSTO, Marcelo (ed.). Workers unite! The International 150 years later. London: Bloomsbury, 2014. [Ed. bras.: Mensagem à União Nacional do Trabalho dos Estados Unidos. In: MUSTO, Marcelo (org.). Trabalhadores, uni-vos! Antologia política da I Internacional. São Paulo: Boitempo, 2014. p.285-286]
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MUSTO, Marcello (ed.). Workers unite! The International 150 years later. London: Bloomsbury, 2014. [Ed. bras.: Trabalhadores, uni-vos! Antologia política da I Internacional. São Paulo: Boitempo, 2014.]
MUSTO, Marcello. Another Marx: early manuscripts to the International. London; New York: Bloomsbury, 2018.
RABEHL, Bernd (1977). Die Kontroverse innerhalb des russischen Marxismus über die asiatischen und westlich-kapitalistischen Ursprünge der Gesellschaft, des Kapitalismus und des zaristischen Staates in Russland. In: WOLTER, Ulf. Karl Marx. Die Geschichte der Geheimdiplomatie des 18. Jahrhunderts. Über den asiatischen Ursprung der russischen Despotie. Berlin: Olle & Wolter, 1977. p.112-178.
RJASANOW, Dawid. Karl Marx über den Ursprung der Vorherrschaft Russland in Europa. Die Neue Zeit, n.5, p. 1-64, 1909.

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El factor discriminatorio sobre la guerra en la historia de la izquierda

El pensamiento socialista ha ofrecido su contribución más interesante para comprender el fenómeno de la guerra al resaltar el fuerte vínculo entre el desarrollo del capitalismo y la propagación de la guerra. Los líderes de la Primera Internacional señalaron que las guerras no son provocadas por las ambiciones de los monarcas, sino que están determinadas por el modelo socioeconómico dominante. La lección de civilización del movimiento obrero nació de la convicción de que toda guerra debía ser considerada «como una guerra civil». En El Capital, Marx afirmó que la violencia era un poder económico, “la partera de toda vieja sociedad que está preñada de una nueva”. Sin embargo, no concibió la guerra como un atajo necesario para la transformación revolucionaria y utilizó una parte sustancial de su militancia política para vincular a la clase obrera con el principio de la solidaridad internacionalista.

Con la expansión imperialista por parte de las principales potencias europeas, la controversia sobre la guerra asumió un peso cada vez más importante en el debate de la Segunda Internacional. En su congreso de fundación se aprobó una moción que sancionaba la paz como «primera condición indispensable de toda emancipación obrera». Sin embargo, con el paso de los años, se esforzó cada vez menos en promover una política concreta de acción a favor de la paz y la mayoría de las fuerzas reformistas europeas terminaron apoyando la Primera Guerra Mundial. Las consecuencias de esta decisión fueron desastrosas. El movimiento obrero compartió los objetivos expansionistas de las clases dominantes y se vio contaminado por la ideología nacionalista. Para Lenin, sin embargo, los revolucionarios debían “transformar la guerra imperialista en guerra civil”, ya que quienes querían una paz verdaderamente “democrática y duradera” debían eliminar a la burguesía y los gobiernos coloniales.

La «Gran Guerra» también provocó divisiones en el movimiento anarquista. Kropotkin postuló la necesidad de «resistir a un agresor que representa el aniquilamiento de todas nuestras esperanzas de emancipación». La victoria de la Triple Entente contra Alemania fue el mal menor para no comprometer el nivel de libertad existente. Por el contrario, Malatesta expresó el convencimiento de que la responsabilidad del conflicto no podía recaer en un único Gobierno y que «no se debe hacer distinción entre guerra ofensiva y defensiva».

Cómo comportarse ante la guerra también provocó el debate en el movimiento feminista. La necesidad de reponer a los hombres enviados al frente, en puestos antes monopolizados por ellos, favoreció la difusión de una ideología chovinista incluso en el movimiento sufragista. Oponerse a quienes agitaban el coco del agresor para desmontar reformas sociales fundamentales fue uno de los logros más significativos de Rosa Luxemburgo y de las feministas comunistas de la época. Señalaron que la batalla contra el militarismo era un elemento esencial de la lucha contra el patriarcado.

Tras el estallido de la Segunda Guerra Mundial, la URSS se vio envuelta en la Gran Guerra Patriótica que más tarde se convirtió en un elemento central de la unidad nacional rusa. Al dividir el mundo en dos bloques, Stalin creía que la principal tarea del movimiento comunista internacional era salvaguardar la URSS. El establecimiento de una zona tapón de ocho países en Europa del Este fue un elemento central de esta política. Con Jruschov se inauguró un ciclo político que tomó el nombre de Coexistencia Pacífica. Sin embargo, este intento de «colaboración constructiva» se llevó a cabo exclusivamente en las relaciones con los EEUU y no con los países del «socialismo real». En 1956, la URSS ya había reprimido sangrientamente la revuelta húngara. Acontecimientos similares tuvieron lugar en Checoslovaquia en 1968. El PCUS respondió enviando medio millón de soldados contra las reivindicaciones de democratización que florecieron con la «Primavera de Praga». Brezhnev explicó su intervención siguiendo un principio que se definió como «soberanía limitada». Con la invasión de Afganistán en 1979, el Ejército Rojo volvió a convertirse en la principal herramienta de la política exterior de Moscú, que siguió reivindicando el derecho a intervenir en lo que creía que era su «zona de seguridad». La combinación de estas intervenciones militares no solo perjudicó el proceso de reducción general de armamentos, sino que también contribuyó a desacreditar y debilitar el socialismo a nivel mundial. La URSS se percibía, cada vez más, como una potencia imperial que actuaba de formas no muy diferentes a las de los EEUU. El fin de la Guerra Fría no ha disminuido la injerencia en la soberanía territorial de los países concretos, ni ha aumentado el nivel de libertad de cada pueblo en cuanto a poder elegir el régimen político por el que pretende ser gobernado.

Cuando Marx escribió sobre la Guerra de Crimea en 1854, afirmó, en oposición a los demócratas liberales que elogiaban a la coalición antirrusa: “Es un error definir la guerra contra Rusia como un conflicto entre la libertad y el despotismo. Aparte de que, si esto fuera cierto, la libertad estaría actualmente representada por un Bonaparte, el objetivo manifiesto de la guerra es el mantenimiento de los tratados de Viena, es decir, lo que anula la libertad e independencia de las naciones”. Si reemplazamos a Bonaparte con los EEUU y los tratados de Viena con la OTAN, estas observaciones parecen escritas hoy.

La tesis de quienes se oponen tanto al nacionalismo ruso como al ucraniano y a la expansión de la OTAN no contiene ninguna indecisión política ni ambigüedad teórica. Debe perseguirse una incesante iniciativa diplomática, basada en dos puntos esenciales: la desescalada y la neutralidad de una Ucrania independiente.

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William Clare Roberts, Political Science Quarterly

In The Last Years of Karl Marx, Marcello Musto provides an affectionate and careful journey through the final two years of Marx’s life. These years are, as Musto notes (p. 5), frequently neglected in full biographies. Marx prepared almost nothing for publication during these years—only a short (but important) preface to the Russian edition of the Manifesto of the Communist Party. This was due, partly, to illness. He spent almost all of 1882 traveling—to the Isle of Wight, Algeria, and various spas in France and Switzerland—in search of relief from bronchitis and pleurisy. Moreover, these years were dominated by the deaths of his two Jennys: his wife in December of 1881, and his eldest daughter in the first days of 1883.
Despite this, Musto treats these years as intellectually fruitful. Because he was not publishing, reconstructing Marx’s intellectual life entails reporting on his reading notes. These are voluminous, even in these years of illness and grief, and the recitation of their contents can be a bit tedious. Despite Musto’s effort to inject some theoretical interest, the massive “annotated year‐by‐year timeline of world events”—from 91 BCE to the Treaty of Westphalia—that Marx produced late in 1881 (pp. 99–102) seems to have been a way of literally marking time as his wife succumbed to liver cancer.
However, Marx was also regularly corresponding with friends, family members, and activists in the international socialist movement, and his letters are a richer source of insight into theoretical and political questions. The Paris Commune of 1871 had dwarfed all the earlier experiments with communist colonies and cooperative factories. The workers had asserted their right to one of the great cities of Europe and governed it for two months. The destruction of the Commune, however, demonstrated a new that the city was dependent upon the countryside, and that a militant urban proletariat was helpless without the support of a revolutionary peasantry.
Marx, therefore, extended his research “to new areas” (p. 25), oriented above all by the possibility and prospects of social revolution in the countryside. This dovetailed with the development of revolutionary socialism in Russia, and with the question of whether or how the Russian peasant commune might play into this development. The most substantial chapter of Musto’s story treats Marx’s involvement with the Russian revolutionary movement and the questions about Russian social development that occupied populists and socialists.
At the same time, Marx was also involved in the creation and growth of working‐class political parties in France (pp. 44–48, 77–80), England (pp. 82–85), and Germany. (Musto’s book does not devote sustained attention to German Social Democracy. Engels corresponded much more actively than Marx with August Bebel, Eduard Bernstein, and Karl Kautsky, and this explains, even if it does not fully justify, this lacuna.) Musto repeatedly claims that Marx’s work in these years stands in sharp contrast with the “dogmatic, economistic, and Eurocentric” picture of Marx produced by the Marxist parties of the Second and Third Internationals (p. 4). His concluding thoughts on Marx are entitled, “What is certain is that I am not a Marxist” (pp. 118–21). Engels claimed that Marx declared this to his son‐in‐law Paul Lafargue, one of the chief propagators of Marx’s ideas in the French Parti Ouvrier. Musto’s book, however, convinces me that Marx
was very much a Marxist—not because he was actually dogmatic, economistic, and Eurocentric, nor because he actually agreed with the Lafargue and Guesde, but because Marx’s late research and correspondence presaged the debates and questions that would be the center of Marxist thought right up through 1917 and beyond. Even if this was not Musto’s intention, it is a valuable contribution.

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La guerra i l’esquerra (II)

El fi no justifica els mitjans i els mitjans equivocats perjudiquen el fi
La profunda divisió entre revolucionaris i reformistes, que es va ampliar fins a convertir-se en un abisme estratègic després del naixement de la Unió Soviètica i el creixement del dogmatisme ideològic en els anys 20 i 30, va descartar qualsevol aliança contra el militarisme entre la Internacional Comunista (1919-1943) i els partits socialistes i socialdemòcrates europeus. En haver donat suport a la guerra, els partits que formaven la Internacional Socialista i del Treball (1923-1940) havien perdut tot el crèdit als ulls dels comunistes. La idea leninista de «convertir la guerra imperialista en guerra civil» continuava sent vàlida a Moscou, on els principals polítics i teòrics pensaven que era inevitable un «nou 1914». Per tant, en tots dos bàndols es parlava més de què fer si esclatava una nova guerra que de com evitar que comencés. Els eslògans i les declaracions de principis diferien substancialment del que s’esperava que ocorregués i del que després es va convertir en acció política. Entre les veus crítiques del bàndol comunista es trobaven les de Nikolai Bujarin, partidari de la consigna «lluita per la pau», i un dels dirigents russos més convençuts que aquesta era «una de les qüestions clau del món contemporani»; i Georgi Dimitrov, que sostenia que no totes les grans potències eren igualment responsables de l’amenaça de guerra, i que era partidari d’un apropament amb els partits reformistes per a construir un front popular ampli contra el conflicte. Tots dos punts de vista contrastaven amb la lletania de l’ortodòxia soviètica, que, lluny d’actualitzar l’anàlisi teòrica, repetia que el perill de guerra estava incorporat per igual, i sense distinció, en totes les potències imperialistes.

L’opinió de Mao Zedong sobre aquest tema era molt diferent. Al capdavant del moviment d’alliberament contra la invasió japonesa, va escriure en ‘Sobre la guerra prolongada’ (1938) que les «guerres justes» —en les quals els comunistes haurien de participar activament — estan «dotades d’un poder terrible, que pot transformar moltes coses o aplanar el camí per a la seva transformació». L’estratègia proposada per Mao, per tant, era «oposar-se a la guerra injusta amb la guerra justa», i «continuar la guerra fins a aconseguir el seu objectiu polític». Els arguments a favor de la «omnipotència de la guerra revolucionària» son reiterats a ‘Problemes de la guerra i l’estratègia’ (1938), on sosté que «només amb les armes pot transformar-se el món sencer», i que «la presa del poder per la força armada, la resolució de la qüestió a través de la guerra, és la tasca central i la forma més elevada de la revolució».

A Europa, l’escalada de violència del front nazi-feixista, tant a l’interior com a l’exterior, i l’esclat de la Segona Guerra Mundial (1939-1945) van crear un escenari encara més nefast que el de la guerra de 1914-18. Després que les tropes d’Hitler ataquessin la Unió Soviètica el 1941, la «Gran Guerra Patriòtica» que va acabar amb la derrota del nazisme es va convertir en un element tan central de la unitat nacional russa que va sobreviure a la caiguda del mur de Berlín i ha perdurat fins als nostres dies.

Amb la divisió del món de la postguerra en dos blocs, Stalin estableix la doctrina per la qual la principal tasca del moviment comunista internacional era salvaguardar la Unió Soviètica. La creació d’una zona de contenció de vuit països a Europa de l’Est (set, després de la sortida de Iugoslàvia) va ser un pilar central d’aquesta política. Durant el mateix període, la Doctrina Truman va marcar l’adveniment d’un nou tipus de guerra: la Guerra Freda. Amb el seu suport a les forces anticomunistes a Grècia, el Pla Marshall (1948) i la creació de l’OTAN (1949), els Estats Units d’Amèrica van contribuir a evitar l’avanç de les forces progressistes a Europa Occidental. La Unió Soviètica va respondre amb el Pacte de Varsòvia (1955). Aquesta configuració va donar lloc a una enorme carrera armamentística que, malgrat el record encara recent d’Hiroshima i Nagasaki, va suposar també la proliferació de proves d’armament nuclear.

A partir de 1961, sota el lideratge de Nikita Khrushchev, la Unió Soviètica va iniciar un nou rumb polític que va arribar a conèixer-se com a «coexistència pacífica». Aquest gir, amb el seu èmfasi en la no ingerència i el respecte a la sobirania nacional, així com en la cooperació econòmica amb els països capitalistes, havia d’allunyar el perill d’una tercera guerra mundial (la possibilitat de la qual havia evidenciat la crisi dels míssils cubans el 1962) i donar suport a l’argument que defensava que la guerra no era inevitable. No obstant això, aquest intent de cooperació constructiva es dirigia únicament als Estats Units, no als països del «socialisme realment existent». El 1956, la Unió Soviètica ja havia aixafat una revolta a Hongria, i els partits comunistes d’Europa Occidental no només no van condemnar-la, sinó que van justificar la intervenció militar en nom de la protecció del bloc socialista. Palmiro Togliatti, per exemple, secretari del Partit Comunista Italià, va declarar: «Estem amb el nostre bàndol fins i tot quan s’equivoca». La majoria dels que compartien aquesta posició, van penedir-se’n amargament en anys posteriors, quan van comprendre els efectes devastadors de l’operació soviètica.

Fets similars van tenir lloc el 1968 a Txecoslovàquia, en plena coexistència pacífica. Davant les demandes de democratització i descentralització econòmica fetes durant la «Primavera de Praga», el Politburó del Partit Comunista de la Unió Soviètica va decidir per unanimitat respondre enviant mig milió de soldats i milers de tancs. El 1968, al congrés del Partit Obrer Unificat de Polònia, Leonid Brezhnev va explicar l’acció referint-se al que va anomenar la «sobirania limitada» dels països del Pacte de Varsòvia: «Quan les forces hostils al socialisme intenten orientar el desenvolupament d’algun país socialista cap al capitalisme, es converteix no sols en un problema del país en qüestió, sinó en un problema i una preocupació comuna de tots els països socialistes». Segons aquesta lògica antidemocràtica, la definició del que era i no era «socialisme» requeia naturalment en la decisió arbitrària dels dirigents soviètics. Aquesta vegada, però, els crítics de l’esquerra van alçar més la veu i, fins i tot, van representar una majoria. Encara que la desaprovació vers l’acció soviètica va ser expressada no sols pels moviments de la Nova Esquerra, sinó per la majoria dels partits comunistes (inclosos els xinesos), els russos no es van tirar enrere, sinó que van dur a terme un procés que van anomenar de «normalització». La Unió Soviètica va continuar destinant una part important dels seus recursos econòmics a la despesa militar, la qual cosa va contribuir a reforçar una cultura autoritària en la societat. D’aquesta manera, va perdre per sempre la bona voluntat del moviment pacifista, que s’havia fet encara més gran gràcies a les extraordinàries mobilitzacions contra la guerra de Vietnam.

Una de les guerres més importants de la següent dècada va començar amb la invasió soviètica de l’Afganistan. El 1979, l’Exèrcit Roig es va convertir de nou en un important instrument de la política exterior de Moscou, que va continuar reclamant el dret a intervenir en el que va descriure com la seva pròpia «zona de seguretat». La desencertada decisió es va convertir en una esgotadora aventura que es va prolongar durant més de deu anys, causant un gran nombre de morts i creant milions de refugiats. En aquesta ocasió, el moviment comunista internacional es va mostrar molt menys reticent que en relació amb les invasions soviètiques d’Hongria i Txecoslovàquia. No obstant això, aquesta nova guerra va revelar encara més clarament a l’opinió pública internacional la divisió entre el «socialisme realment existent» i una alternativa política basada en la pau i l’oposició al militarisme.

En el seu conjunt, aquestes intervencions militars no sols van ser contràries a una reducció general de l’armament, sinó que van servir per a desacreditar i afeblir globalment al socialisme. La Unió Soviètica era vista cada vegada més com una potència imperial que actuava de forma no gaire diferent a la dels Estats Units, que, des de l’inici de la Guerra Freda, havia secundat de manera més o menys secreta cops d’estat i contribuït a enderrocar governs democràticament escollits a més de vint països de tot el món. Finalment, les «guerres socialistes» de 1977-1979 entre Cambodja i Vietnam i la Xina i Vietnam, amb el teló de fons del conflicte sino-soviètic, van dissipar qualsevol avantatge que tingués la ideologia «marxista-leninista» (ja allunyada dels fonaments originals establerts per Marx i Engels) en atribuir la guerra exclusivament als desequilibris econòmics del capitalisme.

Ser d’esquerres és estar en contra de la guerra
La fi de la Guerra Freda no va disminuir la quantitat d’ingerències als assumptes d’altres països, ni va augmentar la llibertat de cada poble per a triar el règim polític sota el que viu. Les nombroses guerres —fins i tot sense mandat de l’ONU i definides, absurdament, com a «humanitàries» — dutes a terme pels EUA en els últims vint-i-cinc anys, a les quals cal afegir noves formes de conflicte, sancions il·legals i condicionaments polítics, econòmics i mediàtics, demostren que la divisió bipolar del món entre dues superpotències no va donar pas a l’era de llibertat i progrés promesa pel mantra neoliberal del «Nou Ordre Mundial». En aquest context, moltes forces polítiques que abans reivindicaven els valors de l’esquerra s’han sumat a diverses guerres. Des de Kosovo fins a l’Iraq i l’Afganistan -per esmentar només les principals guerres empreses per l’OTAN des de la caiguda del mur de Berlín- aquestes forces han donat cada vegada el seu suport a la intervenció armada i s’han fet cada vegada menys distingibles de la dreta.

La guerra russo-ucraïnesa ha tornat a enfrontar a l’esquerra amb el dilema de com reaccionar quan s’ataca la sobirania d’un país. No condemnar la invasió russa d’Ucraïna és un error polític del govern de Veneçuela, i fa que les denúncies de possibles futurs actes d’agressió comesos pels Estats Units semblin menys creïbles. És cert que, com va escriure Marx a Ferdinand Lassalle el 1860, «en política exterior, poc es guanya fent servir paraules com a ‘reaccionari’ i ‘revolucionari’», el que és «subjectivament reaccionari [pot resultar] objectivament revolucionari en política exterior». Però les forces d’esquerra haurien d’haver après del segle XX que les aliances «amb l’enemic del meu enemic» sovint condueixen a acords contraproduents, especialment quan, com en la nostra època, el front progressista és políticament feble, teòricament confús i no disposa del suport de les mobilitzacions de masses.

Recordant les paraules de Lenin a ‘La revolució socialista i el dret de les nacions a l’autodeterminació’: «El fet que la lluita per l’alliberament nacional contra una potència imperialista pugui, en determinades circumstàncies, ser utilitzada per una altra gran potència en els seus interessos igualment imperialistes no ha de tenir més pes per a induir a la socialdemocràcia a renunciar al seu reconeixement del dret de les nacions a l’autodeterminació». Més enllà dels interessos i intrigues geopolítiques que solen estar també en joc, les forces de l’esquerra han secundat històricament el principi d’autodeterminació nacional i han defensat el dret dels estats individuals a establir les seves fronteres sobre la base de la voluntat expressa de la població. L’esquerra ha lluitat contra les guerres i les «annexions» perquè és conscient que aquestes condueixen a conflictes dramàtics entre els treballadors de la nació dominant i la nació oprimida, creant les condicions perquè aquesta última s’uneixi amb la seva pròpia burgesia en considerar a la primera com el seu enemic. A ‘Resultats de la discussió sobre l’autodeterminació’ (1916), Lenin va escriure: «Si la revolució socialista triomfés a Petrograd, Berlín i Varsòvia, el govern socialista polonès, igual que els governs socialistes rus i alemany, renunciaria a la ‘retenció forçosa’ de, per exemple, els ucraïnesos dins de les fronteres de l’Estat polonès». Per què suggerir, llavors, que es concedeixi una cosa diferent al govern nacionalista dirigit per Vladimir Putin?

D’altra banda, massa membres de l’esquerra han cedit a la temptació de convertir-se —directament o indirecta— en co-bel·ligerants, alimentant una nova union sacrée (expressió creada el 1914, justament per a entomar l’abjuració de les forces de l’esquerra francesa que, en esclatar la Primera Guerra Mundial, van decidir recolzar les opcions bèl·liques del govern). Aquesta posició serveix avui dia per a difuminar cada vegada més la distinció entre atlantisme i pacifisme. La història demostra que, quan no s’oposen a la guerra, les forces progressistes perden una part essencial de la seva raó de ser i acaben empassant-se la ideologia del camp contrari. Això succeeix quan els partits d’esquerra fan de la seva presència al govern la forma fonamental de mesurar la seva acció política —com van fer els comunistes italians en donar suport a les intervencions de l’OTAN a Kosovo i l’Afganistan, o l’actual majoria d’Unidas-Podemos, que uneix la seva veu al cor unànime de tot l’arc parlamentari espanyol, a favor de l’enviament d’armes a l’exèrcit ucraïnès—. Aquestes conductes subalternes han estat castigades moltes vegades al passat, fins i tot a les urnes quan s’ha presentat l’ocasió.

Bonaparte no és la democràcia
Durant el període 1853-1856, Marx va escriure una brillant sèrie d’articles per al New York Daily Tribune que contenen molts paral·lelismes interessants i útils amb l’actualitat. El 1853, parlant del gran monarca moscovita del segle XV —el que es considera que va unificar Rússia i va establir les bases de la seva autocràcia—, Marx va afirmar «N’hi ha prou amb substituir una sèrie de noms i dates per unes altres i queda clar que la política d’Iván III, i la de la Rússia actual, no són simplement similars sinó idèntiques». No obstant això, a l’any següent, en oposició als demòcrates liberals que exaltaven la coalició anti-russa, va escriure: «És un error descriure la guerra contra Rússia com una guerra entre la llibertat i el despotisme. A part del fet que, si tal fos el cas, la llibertat estaria per una vegada representada per un Bonaparte, tot l’objecte declarat de la guerra és el manteniment dels tractats de Viena, aquests mateixos tractats que anul·len la llibertat i la independència de les nacions». Si substituïm a Bonaparte pels Estats Units d’Amèrica i els tractats de Viena per l’OTAN, aquestes observacions semblen escrites per al dia d’avui.

El pensament dels qui s’oposen tant al nacionalisme rus com a l’ucraïnès, així com a l’expansió de l’OTAN, no dona mostres d’indecisió política ni d’ambigüitat teòrica. En les últimes setmanes, diversos experts han ofert explicacions sobre les arrels del conflicte (que no redueixen en absolut la barbàrie de la invasió russa), i la posició dels qui proposen una política de no alineació és la forma més eficaç de posar fi a la guerra al més aviat possible i garantir el menor nombre de víctimes. No es tracta de comportar-se com les «ànimes belles» xopes d’idealisme abstracte, a les quals Hegel considerava incapaços d’enfrontar-se a la realitat efectiva de les contradiccions terrenals. Al contrari: es tracta de donar realitat a l’únic antídot veritable contra una expansió il·limitada de la guerra. No cessen les veus que demanen més reclutament, ni les que, com l’Alta Representant de la Unió Europea per a Afers exteriors i Política de Seguretat, pensen que és tasca d’Europa subministrar als ucraïnesos «les armes necessàries per a la guerra». Però davant d’aquestes postures, és necessari dur a terme una incessant activitat diplomàtica basada en dos punts ferms: la desescalada i la neutralitat d’una Ucraïna independent.

Malgrat l’augment del suport a l’OTAN després de les maniobres russes, és necessari treballar més que mai perquè l’opinió pública no vegi a la major i més agressiva maquinària bèl·lica del món —l’OTAN— com la solució als problemes de seguretat global. Cal demostrar que es tracta d’una organització perillosa i ineficaç que, en el seu afany d’expansió i dominació unipolar, serveix per a alimentar les tensions que condueixen al món a la guerra.

A ‘El socialisme i la guerra’, Lenin va argumentar que els marxistes es diferencien dels pacifistes i els anarquistes en que «consideren necessari històricament (des del punt de vista del materialisme dialèctic de Marx) estudiar cada guerra per separat». Continuant, va afirmar que: «A la història hi ha hagut nombroses guerres que, malgrat tots els horrors, atrocitats, angoixes i patiments que inevitablement acompanyen a totes les guerres, van ser progressives, és a dir, van beneficiar el desenvolupament de la humanitat». Si això va ser cert en el passat, seria miop repetir-ho sense més per les societats contemporànies, on les armes de destrucció massiva no deixen d’estendre’s. Rares vegades les guerres —que cal no confondre amb les revolucions— han tingut l’efecte democratitzador que esperaven els teòrics del socialisme. De fet, sovint han demostrat ser la pitjor manera de dur a terme una revolució, tant pel cost en vides humanes com per la destrucció de les forces productives que comporten. És una lliçó que també l’esquerra moderada no hauria d’oblidar mai.

Per a l’esquerra, la guerra no pot ser «la continuació de la política per altres mitjans», per citar la famosa frase de Clausewitz. En realitat, només certifica el fracàs de la política. Si l’esquerra vol tornar a ser hegemònica i mostrar-se capaç d’utilitzar la seva història per a les tasques d’avui, necessita escriure de manera indeleble a les seves banderes les paraules «antimilitarisme» i «No a la guerra!».

 

Part I