1. Dos Grundrisse à análise crítica das Teorias do mais-valor
Marx somente começou a escrever O capital muitos anos depois de iniciar seus estudos rigorosos de economia política. Desde 1843, ele já trabalhava com grande intensidade em direção àquela que mais tarde ele definiria como sua própria “economia”. Foi a erupção da crise financeira de 1857 que o forçou a começar seu trabalho. Marx estava convencido de que a crise que se desenvolvia em nível internacional criava as condições para um novo período revolucionário em toda a Europa. Ele esperava por esse momento desde as insurreições populares de 1848 e, agora que finalmente parecia ter chegado, não queria que os eventos o pegassem despreparado. Então, decidiu retomar seus estudos econômicos e dar-lhes uma forma acabada.
Este período foi um dos mais fecundos da sua vida: em poucos meses, conseguiu escrever mais do que nos anos precedentes. Em dezembro de 1857, escreveu a Engels: “Estou trabalhando como louco durante toda a noite e todas as noites, reunindo meus estudos econômicos para que eu possa ao menos ter os fundamentos [Grundrisse] claros antes do dilúvio.” (MARX; ENGELS, 2010i, p. 257)3
O trabalho de Marx era agora notável e abrangente. De agosto de 1857 a maio de 1858, ele preencheu os oito cadernos conhecidos como Grundrisse, enquanto, como correspondente do New York Tribune (o jornal de maior circulação nos Estados Unidos da América, com o qual colaborou a partir de 1851), escreveu dezenas de artigos sobre, entre outras coisas, o desenvolvimento da crise na Europa. Por fim, de outubro de 1857 a fevereiro de 1858, compilou três livros de extratos, chamados de Cadernos sobre as crises4. Graças a isso, é possível mudar a imagem convencional de um Marx que estuda a Ciência da lógica de Hegel à procura de inspiração para os Manuscritos de 1857-8, pois, naquela época, ele estava muito mais preocupado com os eventos ligados à maior crise já prevista. Ao contrário dos extratos que havia produzido anteriormente, esses manuscritos não eram compêndios das obras dos economistas, mas consistiam em uma grande quantidade de notas, recolhidas de vários jornais, sobre os principais desenvolvimentos da crise, tendências do mercado de ações, flutuações cambiais e falências importantes na Europa, nos Estados Unidos da América e em outras partes do mundo. Uma carta escrita a Engels em dezembro indica a intensidade de sua atividade:
Estou trabalhando intensamente, como regra, até às quatro horas da manhã. Estou empenhado numa dupla tarefa: 1. Elaborar os fundamentos da economia política. (Para o benefício do público, é absolutamente essencial abordar o assunto a fundo, assim como é, para mim mesmo, individualmente, livrar-me desse pesadelo.) 2. A crise atual. Além dos artigos para o [New York] Tribune, tudo o que faço é manter registros dela, o que, no entanto, leva uma quantidade considerável de tempo. Eu acho que, em algum momento da primavera, devemos fazer juntos um panfleto sobre o assunto. (MARX; ENGELS, 2010i, p. 224)5
Os Grundrisse foram divididos em três partes: uma “Introdução” metodológica, um “Capítulo sobre o dinheiro”, no qual Marx se ocupou do dinheiro e do valor, e um “Capítulo sobre o capital”, centrado no processo de produção e circulação do capital, e que abordou temas-chave, como o conceito de mais-valor e as formações econômicas que precederam o modo de produção capitalista. Contudo, mesmo o imenso esforço de Marx não lhe permitiu completar o trabalho. No final de fevereiro de 1858, ele escreveu a Lassalle:
Na verdade, tenho trabalhado nas etapas finais há alguns meses. Mas a coisa está indo muito devagar porque não se consegue dispor finalmente dos assuntos aos quais se devotou anos de estudo antes que eles comecem a revelar novos aspectos e demandar que se pense mais. (…) O trabalho que atualmente me preocupa é uma Crítica das Categorias Econômicas ou, se quiser, uma exposição crítica do sistema da economia burguesa. É ao mesmo tempo uma exposição e uma crítica do sistema. Eu tenho pouquíssima ideia de a quantas folhas isso vai chegar. (…) Agora que estou finalmente preparado para trabalhar depois de 15 anos de estudo, tenho, no final das contas, uma sensação desconfortável de que os movimentos turbulentos vindos de fora provavelmente interferirão. (MARX; ENGELS, 2010i, pp. 270-1)6
Não havia sinal do tão esperado movimento revolucionário que deveria nascer juntamente com a crise. Marx também abandonou o projeto de escrever um volume sobre a crise atual. Ainda assim, ele não conseguiu terminar o trabalho com o qual lutava havia muitos anos, pois sabia que ainda estava longe de uma conceptualização definitiva dos temas abordados no manuscrito. Portanto, os Grundrisse permaneceram apenas um rascunho, do qual – depois de ter trabalhado cuidadosamente o “Capítulo do dinheiro” –, em 1859, ele publicou um pequeno livro sem repercussão pública: Contribuição para a crítica da economia política.
Em agosto de 1861, Marx voltou a dedicar-se à crítica da economia política, trabalhando com tanta intensidade que, em junho de 1863, havia preenchido 23 cadernos volumosos sobre a transformação do dinheiro em capital, sobre o capital comercial e, acima de tudo, sobre as diversas teorias por meio das quais os economistas tentaram explicar o mais-valor7. Seu objetivo era concluir a Contribuição para a crítica da economia política, que tinha sido designada como a primeira parte do seu plano de trabalho. O livro publicado em 1859 continha um breve primeiro capítulo, “A mercadoria”, diferenciando valor de uso e valor de troca, e um segundo capítulo mais longo, “Dinheiro ou circulação simples”, tratando das teorias do dinheiro como uma unidade de medida. No “Prefácio”, Marx declarou: “Examino o sistema da economia burguesa na seguinte ordem: capital, propriedade da terra, trabalho assalariado, o estado, comércio exterior, mercado mundial.” (MARX; ENGELS, 2010b, p. 261)
Dois anos depois, o plano de Marx não havia mudado: ele ainda pretendia escrever seis livros, cada um dedicado a um dos temas listados por ele em 18598. No entanto, do verão de 1861 a março de 1862, ele trabalhou em um novo capítulo, “O capital em geral”, que pretendia tornar o terceiro capítulo no seu plano de publicação. No manuscrito preparatório contido nos primeiros cinco dos 23 cadernos compilados até o final de 1863, ele se concentrou no processo de produção do capital e, mais especificamente, em: 1) transformação do dinheiro em capital; 2) mais-valor absoluto; e 3) mais-valor relativo9. Alguns desses temas, já abordados nos Grundrisse, foram agora demonstrados com maior riqueza e precisão analítica.
Um alívio momentâneo dos imensos problemas econômicos que o atormentaram por anos permitiu a Marx dedicar mais tempo aos seus estudos e fazer significativos avanços teóricos. No final de outubro de 1861, ele escreveu a Engels que “as circunstâncias [tinham] finalmente se tranquilizado ao ponto que [ele tinha] ao menos um chão firme sob os [seus] pés novamente”. Seu trabalho para a New York Tribune garantia “duas libras por semana” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 323)10. Ele também firmou um contrato com Die Presse. Ao longo do ano anterior, ele havia “penhorado tudo que não estava efetivamente empenhado”, e sua condição deixou sua mulher profundamente deprimida. Mas agora a “dupla ocupação” prometia “colocar um fim à torturante existência levada por [sua] família” e permitir a ele “terminar seu livro”.
Não obstante, em dezembro, ele contou a Engels que foi forçado a deixar notas promissórias no açougue e no armazém e que sua dívida com variados credores chegou a cem libras (MARX; ENGELS, 2010j, p. 332)11. Por conta dessas preocupações, sua pesquisa progredia devagar: “Dadas as circunstâncias, havia de fato uma possibilidade pequena de dar às questões teóricas resoluções rápidas.” Mas ele avisou a Engels que “a coisa está assumindo uma forma muito mais popular, e o método está em menor evidência que na Parte I” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 333)12.
Nesse contexto dramático, Marx tentou pedir dinheiro emprestado à sua mãe, bem como a outros parentes e ao poeta Carl Siebel (1836-68). Em uma carta a Engels do final de dezembro, explicou que estas foram tentativas de evitar “importuná-lo” constantemente. De toda forma, nenhuma surtiu efeito. Nem o contrato com Die Presse estava dando certo, pois eles estavam publicando (e pagando por) somente metade dos artigos submetidos ao jornal. Confidenciou em resposta às mensagens de feliz ano-novo enviadas por seu amigo que se o novo ano mostrasse “qualquer semelhança com o antigo” ele iria “mandar logo ao diabo” (MARX; ENGELS, 2010j, pp. 337-8)13.
As coisas voltaram a piorar quando o New York Tribune, em face das restrições financeiras associadas à Guerra Civil Americana, teve de reduzir o número de seus correspondentes estrangeiros. O último artigo de Marx para o jornal foi publicado em 10 de março de 1862. A partir de então, ele teve de se virar sem aquela que tinha sido sua principal fonte de renda desde o verão de 1851. Naquele mesmo mês, o locador de sua casa ameaçou mover uma ação para recuperar o aluguel atrasado, e em tal caso – como contou a Engels –, ele seria “processado por tudo e por todos” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 344)14. E acrescentou logo em seguida: “Eu não estou indo bem com meu livro, já que o trabalho é frequentemente interrompido, ou seja, suspenso durante semanas a fio por distúrbios domésticos.” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 352)15
Durante esse período, Marx se lançou em uma nova área de pesquisa: Teorias do mais-valor16. Esta foi planejada para ser a quinta e última parte17 do longo terceiro capítulo sobre “O capital em geral”. Em mais de dez cadernos, Marx dissecou minuciosamente a maneira como os principais economistas haviam tratado a questão do mais-valor; sua ideia fundamental era que “todos os economistas compartilham o erro de examinar o mais-valor não como tal, em sua forma pura, mas nas formas particulares do lucro e da renda” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 348)18.
No Caderno VI, Marx iniciou pela crítica dos fisiocratas. Em primeiro lugar, ele os reconheceu como os “verdadeiros pais da economia política moderna” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 352), já que foram eles que “assentaram as bases para as análises da produção capitalista” e buscaram a origem do mais-valor não na “esfera da circulação” – na produtividade do dinheiro, como pensavam os mercantilistas –, mas na “esfera da produção”. Eles entenderam o “princípio fundamental de que somente aquele trabalho que é produtivo cria mais-valor” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 354). Por outro lado, estando erroneamente convencidos de que o “trabalho agrícola” era “o único trabalho produtivo”, concebiam a “renda” como “a única forma de mais-valor” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 355). Eles limitaram sua análise à ideia que a produtividade da terra possibilitou ao homem produzir “não mais do que o suficiente para mantê-lo vivo”. De acordo com essa teoria, então, o mais-valor aparecia como “uma dádiva da natureza” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 357).
Na segunda metade do Caderno VI, e na maior parte dos Cadernos VII, VIII e IX, Marx se concentrou em Adam Smith, que não compartilhava da falsa ideia dos fisiocratas, para quem “um só tipo definido de trabalho concreto – trabalho agrícola – cria mais-valor” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 391). De fato, aos olhos de Marx, um dos grandes méritos de Smith foi ter compreendido que, no processo de trabalho distintivo da sociedade burguesa, o capitalista “se apropria de graça, apropria-se sem pagar por isso, de uma parte do trabalho vivo” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 388); ou, novamente, que “mais trabalho é trocado por menos trabalho (do ponto de vista do trabalhador), menos trabalho é trocado por mais trabalho (do ponto de vista do capitalista)”(MARX; ENGELS, 2010c, p. 393). A limitação de Smith, entretanto, foi sua incapacidade de diferenciar o “mais-valor como tal” das “formas específicas que ele assume no lucro e na renda” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 389). Ele calculou o mais-valor não em relação à parte do capital do qual se originou, mas como “um excedente sobre o valor total do capital adiantado” (MARX; ENGELS, 2010c, p. 396), incluindo a parte que o capitalista gasta na compra de matérias-primas.
Marx expressou muitos desses pensamentos por escrito durante uma estada de três semanas com Engels em Manchester, em abril de 1862. Ao retornar, relatou a Lassalle:
Quanto ao meu livro, não será concluído por mais dois meses. Durante o ano passado, para evitar morrer de fome, tive de fazer o mais desprezível trabalho por encomenda e, muitas vezes, estive por meses sem poder adicionar uma linha à “coisa”. Além disso, também possuo o hábito de encontrar falhas em qualquer coisa que escrevi e não olhei por um mês, de modo que eu tenho de revisá-la completamente. (MARX; ENGELS, 2010j, p. 356)19
Marx retomou obstinadamente o trabalho e, até o início de junho, estendeu sua pesquisa a outros economistas, como Germain Garnier (1754-1821) e Charles Ganilh (1758-1836). Então, abordou mais profundamente a questão do trabalho produtivo e improdutivo, voltando a concentrar-se, particularmente, em Smith, que, apesar da falta de clareza em alguns aspectos, delineou a distinção entre os dois conceitos. Do ponto de vista capitalista, trabalho produtivo
é um trabalho assalariado que, trocado pela parte do capital que é gasta em salários, reproduz não só esta parte do capital (ou o valor de sua própria capacidade de trabalho), mas também produz mais-valor para o capitalista. É somente assim que a mercadoria ou o dinheiro são transformados em capital, são produzidos como capital. O único trabalho assalariado que é produtivo é aquele que produz capital (MARX; ENGELS, 2010d, p. 8).
O trabalho improdutivo, por outro lado, é “trabalho que não é trocado por capital, mas diretamente por receita, isto é, por salários e lucro” (MARX; ENGELS, 2010d, p. 12). Segundo Smith, a atividade dos soberanos – e dos oficiais jurídicos e militares que os cercam – não produzia valor e, dessa forma, era comparável aos afazeres dos empregados domésticos. Isto, Marx apontou, era a linguagem de uma “burguesia ainda revolucionária”, a qual ainda não havia “subjugado a si própria toda a sociedade, o estado, etc.”,
as profissões ilustres e tradicionalmente honradas – a de soberano, juiz, oficial, sacerdote etc. –, com todas as antigas castas ideológicas a que dão origem, seus homens de letras, seus professores e sacerdotes estão de um ponto de vista econômico no mesmo nível que o enxame de seus próprios lacaios e bobos da corte mantidos pela burguesia e pela riqueza ociosa – a aristocracia fundiária e os capitalistas ociosos (MARX; ENGELS, 2010d, p. 197).
No Caderno X, Marx voltou-se a uma análise rigorosa do Tableau économique de François Quesnay (1694-1774) (MARX; ENGELS, 2010j, p. 381)20. Ele o louvou aos céus, descrevendo-o como “uma concepção extremamente brilhante, incontestavelmente a mais brilhante pela qual a economia política até então seria responsável” (MARX; ENGELS, 2010d, p. 240).
Enquanto isso, as condições econômicas de Marx continuavam desesperadoras. Em meados de junho, ele escreveu a Engels: “Todos os dias, minha esposa diz desejar que ela e as crianças estivessem seguras em seus túmulos, e eu realmente não posso culpá-la, pois as humilhações, tormentos e alarmes pelos quais têm de passar em tal situação são de fato indescritíveis”. Já em abril, a família tivera de penhorar novamente todas as posses que havia recentemente recuperado da casa de penhor. A situação era tão extrema que Jenny decidiu vender alguns livros da biblioteca pessoal do marido – embora não conseguisse encontrar alguém que quisesse comprá-los.
Marx, no entanto, conseguiu “trabalhar duro” e, em meados de junho, manifestou sua satisfação a Engels: “estranho dizer, mas minha massa cinzenta está funcionando melhor em meio à pobreza circundante do que funcionou por anos” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 380)21. Continuando sua pesquisa, ele compilou os Cadernos XI, XII e XIII no decorrer do verão; eles se concentravam na teoria da renda, que ele decidiu incluir como “um capítulo extra” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 394)22 ao texto que estava preparando para publicação. Marx examinou criticamente as ideias de Johann Rodbertus (1805-75) e então passou a uma extensa análise das doutrinas de David Ricardo (1772-1823)23. Negando a existência da renda absoluta, Ricardo admitia um lugar somente para a renda diferencial relativa à fertilidade e à localização da terra. Nessa teoria, a renda era um excesso: não poderia ser mais nada, porque isso contradiria seu “conceito de valor como sendo igual a certa quantidade de tempo de trabalho” (MARX; ENGELS, 2010d, p. 359); ele teria de admitir que o produto agrícola era constantemente vendido acima do preço de custo, o qual calculou como a soma do capital adiantado e do lucro médio (MARX; ENGELS, 2010j, p. 396)24. A concepção marxiana de renda absoluta, em contrapartida, estipulava que “sob certas circunstâncias históricas (…) a propriedade fundiária de fato aumenta os preços das matérias-primas” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 398)25.
Na mesma carta dirigida a Engels, Marx escreveu ser “um verdadeiro milagre” que ele “tenha sido capaz de continuar [seu] escrito teórico a tal ponto” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 394). Seu locador tinha novamente ameaçado enviar os oficiais de justiça, enquanto os comerciantes com quem estava em débito falavam da retenção de suas provisões na fonte e em mover ação judicial contra ele. Mais uma vez, teve de recorrer a Engels para ajudá-lo, confidenciando que, não fossem sua esposa e filhos, ele “preferiria mudar para um abrigo a estar constantemente apertando [sua] carteira” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 399)26.
Em setembro, Marx escreveu a Engels que poderia conseguir um emprego “em um escritório ferroviário” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 417)27 no ano seguinte. Em dezembro, repetiu para Ludwig Kugelmann (1828-1902) que as coisas se tornaram tão desesperadoras que “decidiu tornar-se um ‘homem prático’”; no entanto, essa ideia não vingou. Marx relatou com seu típico sarcasmo: “Por sorte – ou talvez devesse dizer azar? – não consegui o emprego por causa da minha má caligrafia.” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 436)28 Enquanto isso, no início de novembro, ele confidenciou a Ferdinand Lassalle (1825-64) que havia sido forçado a suspender o trabalho “por cerca de seis semanas”, mas que estava “progredindo (…) com interrupções”. “No entanto”, acrescentou, “isso certamente será concluído logo mais.” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 426)29
Durante esse período, Marx completou mais dois cadernos, o XIV e o XV, com extensa análise crítica de vários teóricos da economia. Ele observou que Thomas Robert Malthus (1766 -1834), para quem o mais-valor decorria “do fato de que o vendedor vende a mercadoria acima do seu valor” (MARX; ENGELS, 2010e, p. 215), representava um retorno ao passado na teoria econômica, já que ele derivava o lucro da troca de mercadorias (MARX; ENGELS, 2010e, p. 215). Marx acusou James Mill (1773-1836) de compreender mal as categorias do mais-valor e do lucro; destacou a confusão produzida por Samuel Bailey (1791-1870), que falhou em distinguir a imanente medida do valor do próprio valor da mercadoria; e argumentou que John Stuart Mill (1806-73) não percebeu que “a taxa de mais-valor e a taxa de lucro” (MARX; ENGELS, 2010e, p. 373)30 eram duas grandezas diferentes, sendo esta última determinada não somente pelo nível dos salários, mas também por outras causas não diretamente atribuíveis a ele.
Marx também prestou especial atenção em vários economistas que se opuseram à teoria ricardiana, como o socialista Thomas Hodgskin (1787-1869). Finalmente, tratou do texto apócrifo Receita e suas fontes – em sua visão, um exemplo perfeito de “economia vulgar”, que traduzia em linguagem “doutrinária”, mas “apologética”, o “ponto de vista do setor dominante, isto é, dos capitalistas” (MARX; ENGELS, 2010e, p. 450). Com o estudo deste livro, Marx concluiu sua análise das teorias do mais-valor apresentadas pelos principais economistas do passado e começou a examinar o capital comercial, ou o capital que não criou, mas distribuiu o mais-valor31. Sua polêmica contra o “capital portador de juros” talvez “desfilasse como socialismo”, contudo, Marx não tinha tempo para tal “zelo reformista”, que não “tocava na verdadeira produção capitalista”, mas “apenas atacava uma de suas consequências”. Para Marx, pelo contrário:
A completa objetivação, inversão e destruição do capital como capital portador de juros – na qual, no entanto, a natureza interior da produção capitalista, [seu] distanciamento, simplesmente aparece em sua forma mais palpável – é o capital que produz “juros compostos”. Parece com um Moloch exigindo o mundo inteiro como um sacrifício que pertence a ele por direito, cujas demandas legítimas, decorrentes de sua própria natureza, nunca são cumpridas e sempre são frustradas por um destino misterioso. (MARX; ENGELS, 2010e, p. 453)
Marx continuou, no mesmo espírito:
Assim, são os juros, não o lucro, que parecem ser a criação de valor decorrente do capital como tal [… e], consequentemente, são considerados a receita específica criada pelo capital. Esta é também a forma como são concebidos pelos economistas vulgares. (…) Todas as conexões intermediárias são obliteradas, e a face fetichista do capital, como também o conceito de capital-fetiche, está completa. Esta forma surge necessariamente porque o aspecto jurídico da propriedade é separado do seu aspecto econômico e uma parte do lucro sob o nome de juros decorre do capital por si só, o qual está completamente separado do processo de produção ou do proprietário desse capital. Para o economista vulgar que deseja representar o capital como uma fonte de valor independente, uma fonte que cria valor, esta é, naturalmente, uma dádiva de Deus, uma forma na qual a fonte de lucro não é mais reconhecível, e o resultado do processo capitalista – separado do próprio processo – adquire uma existência independente. Em D-M-D’, uma conexão intermediária ainda é mantida. Em D-D’ temos a forma incompreensível de capital, a inversão e a materialização mais extremas das relações de produção. (MARX; ENGELS, 2010e, p. 458)
Seguindo os estudos sobre o capital comercial, Marx prosseguiu para aquela que pode ser considerada uma terceira fase dos manuscritos econômicos de 1861-3. Isso começou em dezembro de 1862, com a seção sobre “capital e lucro” no Caderno XVI, que indicou como sendo o “terceiro capítulo” (MARX, 1980, pp. 1.598-1.675). Nela, apresentou um esboço da distinção entre o mais-valor e o lucro. No Caderno XVII, também compilado em dezembro, voltou à questão do capital comercial (seguindo as reflexões do Caderno XV [cf. MARX, 1980, pp. 1.682-773]) e ao refluxo do dinheiro na reprodução capitalista. No final desse ano, Marx apresentou a Kugelmann um relatório do seu progresso, informando-lhe que “a segunda parte”, ou a “continuação da primeira parcela”, um manuscrito equivalente a “cerca de 30 folhas impressas”, estava “agora finalmente terminada”. Quatro anos após o primeiro esquema, presente na Contribuição para a crítica da economia política, Marx agora revisava a estrutura do seu plano de trabalho. Ele disse a Kugelmann que havia se decidido por um novo título, utilizando O capital pela primeira vez, e que o nome com o qual operou em 1859 seria “apenas o subtítulo” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 435)32. Fora isso, continuava trabalhando de acordo com o plano original. O que pretendia escrever seria “o terceiro capítulo da primeira parte, a saber, o capital em geral”33. O volume nas últimas etapas de preparação conteria “o que os ingleses chamam de ‘princípios da economia política’”. Juntamente com o que já havia escrito na edição de 1859, esse volume compreenderia a “quintessência” de sua teoria econômica. Com base nos elementos que estava preparando para tornar públicos, ele disse a Kugelmann, uma futura “sequência (com exceção, talvez, da relação entre as várias formas de estado e as várias estruturas econômicas da sociedade) poderia ser facilmente perseguida por outros”.
Marx pensou que seria capaz de produzir uma “cópia final” do manuscrito no novo ano, em seguida, planejava levá-la pessoalmente para a Alemanha. Então ele pretendia “concluir a apresentação de capital, concorrência e crédito” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 435)34. Na mesma carta a Kugelmann, comparou os estilos de escrita no texto publicado em 1859 e no trabalho que estava então preparando: “Na primeira parte, o modo de exposição adotado estava certamente longe de ser popular. Isto se deveu em certa medida à natureza abstrata do assunto (…). A presente parte é mais fácil de entender porque trata de condições mais concretas”. Para explicar a diferença, praticamente se justificando, ele acrescentou:
As tentativas científicas de revolucionar uma ciência nunca podem ser realmente populares. Mas, uma vez que as bases científicas são assentadas, a popularização é fácil. Novamente, se os tempos se tornarem mais turbulentos, pode-se selecionar as cores e nuances exigidas para uma apresentação popular desses assuntos específicos. (MARX; ENGELS, 2010j, p. 436)35
Poucos dias depois, no início do novo ano, Marx enumerou em mais detalhes as partes que conformariam seu trabalho. Em um esquema no Caderno XVIII, indicou que a “primeira seção [Abschnitt]”, “O processo de produção do capital”, seria dividida da seguinte forma:
1) Introdução. Mercadoria. Dinheiro. 2) Transformação de dinheiro em capital. 3) Mais-valor absoluto. (…) 4) Mais-valor relativo. (…) 5) Combinação do mais-valor absoluto e relativo. (…) 6) Reconversão do mais-valor em capital. Acumulação primitiva. A teoria da colonização de Wakefield. 7) Resultado do processo de produção. (…) 8) Teorias do mais-valor. 9) Teorias do trabalho produtivo e improdutivo. (MARX; ENGELS, 2010e, p. 347)
Marx não se limitou ao primeiro volume, mas também esboçou um esquema do que se destinava a ser a “terceira seção” de seu trabalho: “Capital e lucro”. Essa parte, que já indicava temas que estariam incluídos em O capital, Volume III, foi dividida da seguinte forma:
1) Conversão do mais-valor em lucro. Taxa de lucro como distinta da taxa de mais-valor. 2) Conversão de lucro em lucro médio. (…) 3) As teorias de Adam Smith e Ricardo sobre lucro e preços de produção. 4) Renda. (…) 5) História da chamada lei ricardiana da renda. 6) Lei da queda da taxa de lucro. 7) Teorias do lucro. (…) 8) Divisão do lucro em lucro industrial e juro. (…) 9) Receita e suas fontes. (…) 10) Movimentos de refluxo de dinheiro no processo de produção capitalista como um todo. 11) Economia vulgar. 12) Conclusão. Capital e trabalho assalariado. (MARX; ENGELS, 2010e, pp. 346-7)36
No Caderno XVIII, composto em janeiro de 1863, Marx continuou sua análise do capital mercantil. Avaliando George Ramsay (1855-1935), Antoine-Elisée Cherbuliez (1797-1869) e Richard Jones (1790-1855), ele inseriu alguns adendos ao estudo do modo como vários economistas haviam explicado o mais-valor.
As dificuldades financeiras de Marx persistiram durante esse período e, em verdade, começaram a piorar no começo de 1863. Ele escreveu a Engels que suas “tentativas de levantar dinheiro na França e na Alemanha [não deram] em nada”, que ninguém lhe forneceria alimentos a crédito e que “as crianças não [tinham] roupas ou sapatos para sair” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 442)37. Duas semanas depois, ele estava à beira do abismo. Em outra carta a Engels, confidenciou que havia proposto à sua companheira de vida o que agora parecia inevitável:
Minhas duas filhas mais velhas serão empregadas como governantas pela família Cunningham. Lenchen deve começar o serviço em outro lugar, e eu, juntamente com minha esposa e o pequeno Tussy, devemos morar no mesmo abrigo municipal onde Red Wolff já residiu com sua família. (MARX; ENGELS, 2010j, p. 445)38
Ao mesmo tempo, surgiram novos problemas de saúde. Nas primeiras duas semanas de fevereiro, Marx estava “estritamente proibido de qualquer leitura, escrita e também de fumar”. Sofria de “algum tipo de inflamação ocular, combinada com a mais desagradável crise nervosa”. Ele só pôde retornar aos seus livros na metade do mês, quando confessou a Engels que, durante os longos dias ociosos, esteve tão alarmado que “se entregou a todas as formas de fantasias psicológicas sobre como seria estar cego ou demente” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 453)39. Em pouco mais de uma semana, tendo se recuperado dos problemas oculares, desenvolveu um novo distúrbio hepático destinado a persegui-lo por muito tempo. Visto que o Dr. Allen, seu médico, teria imposto um “longo tratamento”, que significaria interromper todo o seu trabalho, ele pediu a Engels que conseguisse com o Dr. Eduard Gumpert que recomendasse um “remédio caseiro” mais simples (MARX; ENGELS, 2010j, p. 460)40.
Durante esse período, afora os breves momentos em que estudou maquinaria, Marx teve de suspender seus estudos econômicos mais abrangentes. Em março, no entanto, ele resolveu “compensar o tempo perdido com trabalho duro” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 461)41. Compilou dois cadernos, o XX e o XXI, que tratavam da acumulação, da subsunção real e formal do trabalho ao capital e da produtividade do capital e do trabalho. Seus argumentos estavam correlacionados ao tema principal de sua pesquisa no momento: o mais-valor.
No final de maio, escreveu a Engels que, nas semanas anteriores, também estudou a questão polonesa42 no Museu Britânico: “O que eu fiz, por um lado, foi preencher as lacunas do meu conhecimento (diplomático e histórico) acerca do caso russo-prussiano-polonês e, por outro lado, ler e anotar excertos de todo tipo de literatura anterior sobre a parte da economia política que eu elaborei.” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 474)43 Essas notas de trabalho, escritas em maio e junho, foram reunidas em oito cadernos adicionais, que vão do A ao H, os quais continham centenas de outras páginas resumindo os estudos econômicos dos séculos XVIII e XIX44.
Marx também informou a Engels que, sentindo-se “mais ou menos capaz de trabalhar novamente”, estava determinado a “tirar o peso de seus ombros” e que, portanto, pretendia “fazer uma cópia final da economia política para impressão (e dar a ela um acabamento final)”. Contudo, continuava sofrendo com um “fígado muito inchado” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 474)45, e na metade de junho, apesar do “enxofre devastador”, ainda “não estava em forma” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 479)46. Em todo caso, voltou ao Museu Britânico e, em meados de julho, informou a Engels que estava mais uma vez dedicando “dez horas por dia ao trabalho sobre economia”. Esses foram precisamente os dias em que, ao analisar a reconversão do mais-valor em capital, ele preparou no Caderno XXII uma reformulação do Tableau économique de Quesnay (MARX; ENGELS, 2010j, p. 485)47. Em seguida, compilou o último caderno da série iniciada em 1861 – o XXIII – que consistia principalmente em notas e observações complementares.
Ao final desses dois anos de trabalho árduo e após um reexame crítico mais profundo dos principais teóricos da economia política, Marx estava mais determinado do que nunca a completar a grande obra de sua vida. Embora ainda não tivesse resolvido em definitivo muitos dos problemas conceituais e expositivos, sua conclusão da parte histórica agora o levava a retornar às questões teóricas.
2. A escrita dos três volumes
Marx rangeu os dentes e embarcou em uma nova fase de seus trabalhos. A partir do verão de 1863, começou a estrutura de fato do que se tornaria o seu magnum opus48. Até dezembro de 1865, ele se dedicou às versões mais extensas das várias subdivisões, preparando rascunhos em torno do Volume I, a maior parte do Volume III (sua única consideração do processo completo de produção capitalista [cf. MARX, 2015]) e a versão inicial do Volume II (a primeira apresentação geral do processo de circulação do capital). No que diz respeito ao plano de seis volumes, indicado, em 1859, no “Prefácio” da Contribuição para a crítica da economia política, Marx acrescentou uma série de temas relacionados à renda e aos salários que, originalmente, deveriam ser tratados nos volumes II e III. Em meados de agosto de 1863, ele atualizou Engels dos passos seguintes:
Por um lado, meu trabalho (de preparação do manuscrito para publicação) está indo bem. Na elaboração final, as coisas estão, penso eu, assumindo uma forma bastante popular. (…) Por outro lado, apesar do fato de eu escrever todos os dias, não está indo tão rápido quanto a minha própria ansiedade, há muito submetida a uma prova de paciência, talvez exija. De qualquer forma, será 100% mais compreensível do que o nº 149. (MARX; ENGELS, 2010j, p. 488)50
Marx manteve a velocidade ao longo do outono, concentrando-se na escrita do Volume I. Mas, como resultado, sua saúde rapidamente piorou e, em novembro, viu aparecer o que sua esposa chamou de “doença terrível”, contra a qual lutaria por muitos anos de sua vida. Era um caso de carbúnculos51, uma infecção desagradável que se manifestava em abscessos e feridas graves e debilitantes em várias partes do corpo.
Por causa de uma grave úlcera que sucedeu um grande carbúnculo, Marx teve de realizar uma operação e “por bastante tempo sua vida esteve em perigo”. De acordo com o relato posterior de sua esposa, a condição crítica durou “quatro semanas” e causou em Marx severas e constantes dores, juntamente com “preocupações atormentadoras e todo tipo de sofrimento mental”, dado que a situação financeira da família se manteve “à beira do abismo” (MARX, 1973, p. 288).
No início de dezembro, quando estava em vias de se recuperar, Marx disse a Engels que “tinha estado com um pé na cova” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 495)52 – dois dias depois, essa sua condição física o apanhou como “um bom tema para um conto”. De frente, ele parecia com alguém que “deleitava o seu homem interior com um vinho do porto, vermelho, forte, e um enorme pedaço de carne”. Mas, “pelas costas, no homem exterior, havia um maldito carbúnculo” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 497)53.
Neste contexto, a morte da mãe de Marx o obrigou a viajar para a Alemanha a fim de resolver questões relativas à herança. Sua condição novamente se deteriorou durante a viagem, e no caminho de volta isso o forçou a parar por alguns meses no seu tio Lion Philips, em Zaltbommel, na Holanda. Durante este tempo, um carbúnculo, maior do que todos os anteriores, apareceu na perna direita, bem como extensos furúnculos em sua garganta e costas; a dor decorrente deles era tão grande que o mantinha acordado durante a noite. Na segunda quinzena de janeiro de 1864, escreveu a Engels que se sentia “como um verdadeiro Lázaro (…), golpeado por todos os lados ao mesmo tempo” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 507)54.
Depois de voltar a Londres, todas as infecções e irritações de pele continuaram a afetar a saúde de Marx no início da primavera, e ele só conseguiu retomar seu plano de trabalho em meados de abril, após uma interrupção de mais de cinco meses. Naquele tempo, continuou a concentrar-se no Volume I, e parece provável que tenha sido precisamente então que redigiu os assim chamados “Resultados do processo de produção imediato”, a única parte da versão inicial que foi preservada.
No final de maio, novos tumores purulentos apareceram em seu corpo e provocaram tormentos indescritíveis. Com a intenção de continuar com o livro a todo custo, ele evitou novamente o Dr. Allen e suas pretensões de um “tratamento regular”, o que teria interrompido o trabalho que simplesmente “tinha de fazer”. Marx sentia o tempo todo que “havia algo errado”, e confessou suas dúvidas ao amigo em Manchester: “A tremenda energia que eu tenho de convocar antes de poder abordar assuntos mais difíceis também contribui para esse senso de inadequação. Desculpe-me o termo espinosista.” (MARX; ENGELS, 2010j, p. 530)55
A chegada do verão não mudou suas precárias circunstâncias. Nos primeiros dias de julho, ele adoeceu, caiu gripado, e não conseguiu escrever56. E, duas semanas depois, esteve imobilizado por dez dias devido a uma séria lesão pustulenta em seu pênis. Só depois de um repouso com a família em Ramsgate, entre a última semana de julho e os dez primeiros dias de agosto, foi possível forçar-se a trabalhar. Ele começou o novo período de escrita com o Volume III: Parte Dois, “A conversão do lucro em lucro médio”, posteriormente, a Parte Um, “A conversão do mais-valor em lucro” (que foi concluída, provavelmente, entre o final de outubro e o início de novembro de 1864). Durante esse período, participou assiduamente das reuniões da Associação Internacional dos Trabalhadores, para a qual escreveu em outubro o discurso inaugural e os estatutos. Também nesse mês, escreveu a Carl Klings (1828 -?), um trabalhador metalúrgico de Solingen, que tinha sido membro da Liga dos Comunistas, e contou-lhe de seus vários percalços e o motivo da sua inevitável lentidão:
Fiquei doente durante o ano passado (sendo atingido por carbúnculos e furúnculos). Se não fosse por isso, meu trabalho sobre economia política, O capital, já teria saído. Espero que eu agora possa, finalmente, terminá-lo em alguns meses e dê à burguesia um golpe teórico do qual nunca se recuperará. (…) Você pode confiar, meu sempre leal defensor da classe trabalhadora. (MARX; ENGELS, 2010k, p. 4)57
Retomando o trabalho depois de uma pausa para cumprir deveres com a Internacional, Marx escreveu a Parte Três do Volume III, intitulada “A lei da queda tendencial da taxa de lucro”. Este trabalho foi acompanhado de outro surto da sua doença. Em novembro, “outro carbúnculo apareceu abaixo de [seu] peito direito” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 12)58, deixando-o de cama por uma semana e continuando a incomodá-lo quando se “inclinava para a frente para escrever” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 22)59. No mês seguinte, temendo outro possível carbúnculo no lado direito, decidiu tratá-lo sozinho. Ele confiou a Engels que estava relutante em consultar o Dr. Allen, que não sabia sobre sua tentativa de tratamento prolongado com um remédio à base de arsênico e lhe daria uma “terrível reprimenda” por causa do “tratamento dos carbúnculos pelas suas costas” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 51)60.
De janeiro a maio de 1865, Marx se dedicou ao Volume II. Os manuscritos foram divididos em três capítulos, que eventualmente se tornaram partes na versão que Engels publicou em 1885: 1) As metamorfoses do capital; 2) A reviravolta do capital; e 3) Circulação e reprodução. Nessas páginas, Marx desenvolveu novos conceitos e conectou algumas das teorias dos volumes I e III.
Também no novo ano, contudo, o carbúnculo não parou de perseguir Marx e, em meados de fevereiro, houve outro surto da doença. Ele disse a Engels que, ao contrário do ano anterior, suas “faculdades não foram afetadas” e que estava “perfeitamente capaz de trabalhar” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 107)61. Mas tais previsões revelaram-se excessivamente otimistas: até o início de março, o “problema antigo [estava] atacando[-o] em vários lugares delicados e ‘alarmantes’, de modo que se sentar [era] difícil” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 115)62. Além dos “furúnculos”, que persistiram até meados do mês, a Internacional tomou uma “enorme quantidade de tempo”. Ainda assim, ele não parou de trabalhar no livro, mesmo que isto significasse que, às vezes, “não dormisse antes das quatro da manhã” (MARX; ENGELS, 2010k, pp. 129-30)63.
Um último estímulo para completar logo as partes que faltavam foi o contrato da editora. Graças à intervenção de Wilhelm Strohn, um antigo camarada dos tempos de Liga dos Comunistas, Otto Meissner (1819-1902), enviou-lhe uma carta de Hamburgo, em 21 de março, que incluía um acordo para publicar “a obra O capital: contribuição para a crítica da economia política”. Deveria ter “aproximadamente 50 assinaturas64 de comprimento [e ser] publicada em dois volumes” (MARX; ENGELS, 2010a, p. 361)65.
O tempo era curto e, certa vez, no final de abril, Marx escreveu a Engels que se sentia “tão mole quanto um trapo molhado (…), em parte por trabalhar até tarde da noite (…), em parte pela porcaria diabólica [que ele estava] tomando” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 148)66. Em meados de maio, “um carbúnculo horrível” apareceu no quadril esquerdo, “perto da parte inexprimível do corpo” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 158)67. Uma semana depois, os furúnculos estavam “ainda lá”, embora, felizmente, “eles apenas perturba[ssem-no] localmente e não incomoda[ssem] o juízo”. Ele usou bem o tempo em que se encontrou “apto para o trabalho” e disse a Engels que estava “trabalhando como uma mula” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 159)68.
Entre a última semana de maio e o final de junho, Marx compôs um breve texto chamado Salário, preço e lucro69. Nele, contestou a tese de John Weston de que os aumentos salariais não seriam favoráveis à classe trabalhadora e que as demandas sindicais por salários mais elevados eram na verdade prejudiciais. Marx mostrou que, pelo contrário, “um aumento geral dos salários resultaria em uma queda na taxa geral de lucro, mas não afetaria os preços médios das mercadorias, ou seus valores” (MARX; ENGELS, 2010a, p. 144).
No mesmo período, Marx também escreveu a Parte Quatro do Volume III, intitulando-a “Transformação de capital-mercadoria e de capital monetário em capital de comércio de mercadorias e capital de comércio de dinheiro”. No final de julho de 1865, ele deu a Engels outro relatório do seu progresso:
Há mais três capítulos a serem escritos para completar a parte teórica (os primeiros três livros). Depois, ainda há o quarto livro, o histórico-literário, a ser escrito, que, em termos comparativos, será a parte mais fácil para mim, já que todos os problemas teriam sido resolvidos nos primeiros três livros, de modo que este último seja algo mais próximo de uma repetição em forma histórica. Mas eu não consigo me fazer entregar nada até que tenha tudo à minha frente. Quaisquer que sejam as deficiências que possam haver, a vantagem de meus escritos é que eles são um todo artístico, e isso só pode ser alcançado através da minha prática de nunca publicar as coisas até que eu as tenha em minha frente na sua totalidade. (MARX; ENGELS, 2010k, p. 173)70
Quando desvios inevitáveis e uma série de eventos negativos o forçaram a reconsiderar seu método de trabalho, Marx se perguntou se não poderia ser mais útil primeiro produzir uma cópia acabada do Volume I, para que pudesse publicá-lo imediatamente ou, em vez disso, terminar de escrever todos os volumes que conformariam o trabalho. Em outra carta a Engels, disse que o “ponto em questão” era se deveria “fazer uma cópia final de parte do manuscrito e enviá-lo para o editor, ou terminar de escrever tudo primeiro”. Ele preferiu a última solução, mas assegurou ao amigo que seu trabalho nos outros volumes não seria desperdiçado:
[Sob as circunstâncias], o progresso foi tão rápido quanto poderia ser possível a qualquer um, mesmo sem nenhuma consideração artística. Além disso, como eu tenho um limite máximo de 60 folhas impressas 71, é absolutamente essencial que eu tenha tudo à minha frente, para saber quanto tem que ser condensado e riscado, de modo que as seções individuais sejam uniformemente equilibradas e na dimensão dos limites prescritos (MARX; ENGELS, 2010k, p. 175).72
Marx confirmou que “não pouparia nenhum esforço para completar o mais rápido possível”; aquilo era um “fardo tenebroso” para ele. Impedia-o “de fazer qualquer outra coisa” e ele estava ansioso para tirá-lo do caminho antes de uma nova agitação política: “Eu sei que esse tempo não ficará parado para sempre como está agora.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 175)73
Embora tenha decidido avançar na conclusão do Volume I, Marx não queria abandonar o que havia feito no Volume III. Entre julho e dezembro de 1865, ele redigiu, embora de forma fragmentária, a Parte Cinco (“Divisão do lucro em ganho empresarial e juros. Capital portador de juros”), Parte Seis (“Transformação do lucro excedente em renda fundiária”) e Parte Sete (“Os rendimentos e suas fontes”)74. A estrutura que Marx deu ao Volume III, entre o verão de 1864 e o final de 1865, foi, portanto, muito semelhante ao esquema de 12 pontos de janeiro de 1863, contido no Caderno XVIII dos manuscritos sobre teorias do mais-valor.
A ausência de dificuldades financeiras que permitiu a Marx avançar em seu trabalho não duraria muito; elas reapareceram após cerca de um ano, e sua saúde tornou a piorar no decorrer do verão. Além disso, seus deveres para com a Internacional foram particularmente intensos em setembro, em razão da sua primeira conferência, em Londres. Em outubro, Marx visitou Engels em Manchester e, quando voltou a Londres, teve de enfrentar os eventos mais terríveis: sua filha Laura ficou doente, o locador ameaçava novamente despejar sua família e enviar os oficiais de justiça e “cartas ameaçadoras” começaram a “sair pelo ladrão”. Sua esposa, Jenny, estava “tão desolada” que – como relatou a Engels – “não teve a coragem de explicar o verdadeiro estado de coisas a ela” e “realmente não sab[ia] o que fazer” (MARX; ENGELS, 2010k, pp. 193-94)75. A única “boa notícia” foi a morte de uma tia de 73 anos em Frankfurt, de quem ele esperava receber uma pequena parcela da herança.
3. A conclusão do Volume I
No início de 1866, Marx lançou-se sobre o novo rascunho de O capital, Volume I. Em meados de janeiro, ele atualizou Wilhelm Liebknecht (1826-1900) sobre a situação: “Indisposição, (…) toda sorte de infelizes reveses, demandas feitas a mim pela Associação Internacional etc. têm confiscado todos os momentos livres que eu tenho para escrever a cópia final do meu manuscrito”. No entanto, pensava estar perto do fim e que seria “capaz de entregar o Volume I ao editor para publicação em março”. Ele acrescentou que seus “dois volumes aparecer[iam] simultaneamente” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 219)76. Em outra carta, enviada no mesmo dia a Kugelmann, falou sobre estar “ocupado 12 horas por dia escrevendo a cópia final” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 221)77, mas esperava levá-la ao editor em Hamburgo dentro de dois meses.
Contrariamente às suas previsões, no entanto, ele passaria o ano inteiro em luta contra os carbúnculos e seu agravado estado de saúde. No final de janeiro, sua esposa, Jenny, informou ao velho camarada de luta Johann Philipp Becker (1809-86) que seu marido havia “sido novamente derrubado pela sua antiga enfermidade, perigosa e extremamente dolorosa”. Desta vez, foi mais “angustiante” para ele, porque interrompeu “a cópia do livro que [tinha] apenas começado”. Em sua opinião, “essa nova erupção foi simples e unicamente devida ao excesso de trabalho e às longas horas sem dormir à noite” (MARX, 2010a, pp. 570-1)78.
Poucos dias depois, Marx foi atingido pelo ataque mais virulento até então, correndo o risco de perder a vida. Quando se recuperou o suficiente para começar a escrever novamente, confidenciou a Engels:
Desta vez foi por um triz. Minha família não soube o quão grave era o caso. Se o problema se repete nesta forma três ou quatro vezes mais, eu serei um homem morto. Estou extraordinariamente consumido e ainda muito fraco, não na mente, mas em meus lombos e nas minhas pernas. Os médicos têm razão ao pensar que o trabalho excessivo durante a noite foi a principal causa dessa recaída. Mas eu não posso dizer a esses senhores os motivos que me obrigam à extravagância – nem haveria propósito fazê-lo. Neste momento, tenho todos os tipos de pequenas progênies sobre meu corpo, o que é doloroso, mas ao menos não mais perigoso. (MARX; ENGELS, 2010k, p. 223)79
Apesar de tudo, os pensamentos de Marx ainda estavam dirigidos principalmente para a tarefa à frente dele:
O mais odioso para mim foi a interrupção do meu trabalho, que estava indo de modo esplêndido desde primeiro de janeiro, quando me recuperei da minha queixa hepática. Não havia nenhum problema em “sentar-me”, é claro (…). Eu era capaz de avançar, mesmo que fosse por curtos períodos do dia. Eu não poderia fazer nenhum progresso com a parte realmente teórica. Meu cérebro não estava preparado para isso. Portanto, elaborei a seção sobre a “Jornada de trabalho” do ponto de vista histórico, que não fazia parte do meu plano original. (MARX; ENGELS, 2010k, pp. 223-4)80
Marx concluiu a carta com uma frase que resumiu bem esse período de sua vida: “Meu livro requer todo o meu tempo de escrita.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 224)81 Isso foi ainda mais verdadeiro em 1866.
A situação estava agora preocupando seriamente Engels. Temendo o pior, ele interveio firmemente para persuadir Marx de que não poderia mais seguir no mesmo caminho:
Você realmente deve, por fim, fazer agora algo sensato para se livrar dessa bobagem de carbúnculo, mesmo que o livro seja atrasado por mais três meses. A coisa está realmente se tornando muito séria, e se, como você diz, seu cérebro não está à altura da parte teórica, então dê um pouco de descanso para a teoria mais elevada. Abra mão de trabalhar durante a noite por um tempo e leve uma vida muito mais normal. (MARX; ENGELS, 2010k, pp. 225-6)82
Engels imediatamente consultou o Dr. Gumpert, que aconselhou outro ciclo de arsênico, mas também fez algumas sugestões sobre a conclusão de seu livro. Ele queria ter certeza de que Marx havia abandonado a ideia fora da realidade de escrever todo O capital antes de ser publicada qualquer parte. “Você não pode organizar as coisas”, perguntou ele, “para que pelo menos o primeiro volume seja enviado para impressão antes e o segundo alguns meses depois?”83. Levando tudo em conta, ele terminou com uma observação sábia: “Qual seria o ganho nessas circunstâncias de ter talvez alguns capítulos do final do livro completos e nem sequer o primeiro volume em condições de ser impresso, caso os eventos nos surpreendam?” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 226)
Marx respondeu a cada um dos argumentos de Engels, alternando entre tons sérios e graciosos. No que dizia respeito ao arsênico, ele escreveu: “Diga ou escreva para Gumpert que me envie a receita com instruções de uso. Ele deve isso tão somente ao bem da ‘economia política’, ignorando a etiqueta profissional e me tratando de Manchester, eu confio nele.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 227)84 Quanto aos seus planos de trabalho, escreveu:
No que diz respeito a este “maldito” livro, a posição agora é: estava pronto no final de dezembro. O tratado sobre a renda da terra sozinho, o penúltimo capítulo, na sua forma atual, é quase o suficiente para ser um livro em si mesmo85. Eu tenho ido ao Museu durante o dia e escrito à noite. Eu tive de arar a nova química agrícola alemã, em particular Liebig e Schönbein, que é mais importante para este assunto do que todos os economistas reunidos, bem como a enorme quantidade de material que os franceses produziram desde a última vez que lidei com esse ponto. Concluí minha investigação teórica sobre a renda da terra há dois anos. E muito se avançou, especialmente, no período posterior, confirmando incidentalmente toda a minha teoria. Além da abertura do Japão (em geral, eu não leio livros de viagem se não estou profissionalmente obrigado). Então, aqui estava a “mudança de sistema”, como foi aplicada por aqueles vira-latas dos fabricantes ingleses a uma e às mesmas pessoas em 1848-50, sendo aplicado por mim para mim. (MARX; ENGELS, 2010k, p. 227)86
Estudos diurnos na biblioteca para se manter atento às últimas descobertas e trabalho noturno em seu manuscrito: esta foi a rotina punitiva a que Marx se submeteu em um esforço para usar todas as suas energias na conclusão do livro. Sobre a tarefa principal, escreveu a Engels: “Embora pronto, o manuscrito, que na sua forma atual é gigantesco, não é adequado para ser publicado por ninguém além de mim mesmo, nem sequer você.” Deu então uma ideia sobre as semanas precedentes:
Eu comecei a copiar e a polir o estilo pontualmente em primeiro de janeiro, e tudo fluiu, já que eu naturalmente me divirto em lamber o bebê para limpá-lo após as longas dores do parto. Mas então o carbúnculo interveio novamente, de modo que, desde então, não consegui fazer mais progresso, apenas preencher com mais fatos as seções que estavam, de acordo com o plano, já terminadas. (MARX; ENGELS, 2010k, p. 227)87
No final das contas, ele aceitou o conselho de Engels para desdobrar o planejamento de publicação: “Concordo com você e entrego o primeiro volume a Meissner assim que estiver pronto.” “Mas”, acrescentou, “para concluí-lo, tenho de primeiro poder me sentar.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 227)88
Em verdade, a saúde de Marx continuava a deteriorar-se. No final de fevereiro, dois grandes carbúnculos apareceram em seu corpo, e ele tentou tratá-los sozinho. Disse a Engels que usou uma “lâmina afiada” para se livrar do “mais alto”, lancinando “o vira-lata” sozinho. “O sangue infectado (…) jorrava, ou melhor, saltava no ar”, e a partir daí pensou que o carbúnculo estivesse “sepultado”, embora precisasse de “algum cuidado”. Quanto ao “mais baixo”, escreveu: “Está se tornando maligno e ficando além do meu controle. (…) Se esse negócio diabólico avança, eu terei de mandar buscar Allen, é claro, porque, devido ao local, não posso vê-lo e curá-lo sozinho.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 231)89
Após esse relato angustiante, Engels repreendeu seu amigo mais severamente do que nunca: “Ninguém pode suportar uma sucessão tão crônica de carbúnculos por muito tempo, além do que, você pode eventualmente obter um que se torne tão agudo que seja o seu fim. E onde estarão seu livro e sua família então?” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 233)90 Para dar um pouco de alívio a Marx, ele disse que estava preparado para fazer qualquer sacrifício financeiro. Implorando-lhe que fosse “sensato”, sugeriu um período de descanso total:
Faça o único favor de curar-se, por mim e sua família. O que seria de todo o movimento se alguma coisa acontecesse a você, e da maneira como você está procedendo, esse será o resultado inevitável. Eu realmente não terei paz nenhum dia ou noite até que o tenha convencido desse objetivo, e cada dia que passa sem que ouça notícias suas, eu me preocupo e imagino que você esteja ainda pior. Nota bene. Você nunca mais deve deixar as coisas chegarem a tal ponto que um carbúnculo que realmente deveria ser lancetado não é lancetado. Isso é extremamente perigoso. (MARX; ENGELS, 2010k, pp. 233-4)91
Finalmente, Marx se deixou persuadir a fazer uma pausa do trabalho. Em 15 de março, viajou para Margate, uma estância balneária em Kent, e no décimo dia enviou um relatório sobre si:
Não estou lendo nada, não estou escrevendo nada. O simples fato de ter de tomar o arsênico três vezes ao dia obriga a organizar o tempo para as refeições e para passear. (…) No que diz respeito à vida social aqui, ela não existe, é claro. Eu posso cantar com o Miller of the Dee92: “Não me importo com ninguém e ninguém se importa comigo.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 249)93
No início de abril, Marx disse a seu amigo Kugelmann que estava “recuperadíssimo”. Mas se queixou que, devido à interrupção, “outros dois meses ou mais” tinham sido completamente perdidos, e a conclusão de seu livro “atrasava mais uma vez” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 262)94. Depois de retornar a Londres, permaneceu paralisado por mais algumas semanas devido a um ataque de reumatismo e outros problemas; seu corpo ainda estava exausto e vulnerável. Embora tenha relatado a Engels no início de junho que, “felizmente, não houve recorrência de nada relacionado aos carbúnculos” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 281)95, estava infeliz porque seu trabalho vinha “progredindo mal devido a fatores puramente físicos” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 282)96.
Em julho, Marx teve de enfrentar aqueles que se tornaram seus três inimigos habituais: o periculum in mora (perigo da demora) de Tito Lívio, na forma do aluguel atrasado; os carbúnculos, com uma nova ferida pronta para surgir; e um fígado enfermo. Em agosto, assegurou a Engels que, embora sua saúde “oscila[sse] de um dia para o outro”, ele se sentia em geral melhor: afinal, “a sensação de estar apto a trabalhar novamente faz muito bem para um homem” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 303)97. Estava “ameaçado por um novo carbúnculo aqui e ali”, e, embora “seguissem desaparecendo” sem a necessidade de uma intervenção de urgência, obrigavam-no a manter suas “horas de trabalho muito estritas” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 311)98. No mesmo dia, escreveu a Kugelmann: “Não acho que seja capaz de entregar o manuscrito do primeiro volume (ele agora cresceu para três volumes) em Hamburgo antes de outubro. Eu só posso trabalhar de forma produtiva por poucas horas diárias sem sentir imediatamente os efeitos físicos.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 312)99
Também desta vez, Marx estava sendo excessivamente otimista. O fluxo constante de fenômenos negativos, aos quais estava diariamente exposto na luta para sobreviver, mais uma vez provou ser um obstáculo para a conclusão do seu texto. Além disso, ele tinha de gastar um tempo precioso procurando maneiras de extrair pequenas somas de dinheiro da casa de penhores e escapar do tortuoso ciclo de notas promissórias no qual havia caído.
Escrevendo a Kugelmann em meados de outubro, Marx expressou o temor de que, como resultado de sua longa doença e de todas as despesas que ela implicou, ele não mais pudesse “manter os credores a distância”, e o teto estava “prestes a ruir sobre [sua] cabeça” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 328)100. Nem sequer em outubro, portanto, foi possível que ele desse os toques finais ao manuscrito. Ao descrever o estado das coisas a seu amigo em Hannover, e explicando os motivos da demora, Marx definiu o plano que agora tinha em mente:
Minhas circunstâncias (intermináveis interrupções, tanto físicas como sociais) me obrigam a publicar primeiro o Volume I, não ambos os volumes juntos, como eu pretendia originalmente. E agora haverá provavelmente três volumes. O trabalho todo está dividido nas seguintes partes:
Livro I. O processo de produção do capital.
Livro II. O processo de circulação do capital.
Livro III. Estrutura do processo como um todo.
Livro IV. Sobre a história da teoria.
O primeiro volume incluirá os primeiros dois livros. O terceiro livro, creio, enche o segundo volume, o quarto o terceiro. (MARX; ENGELS, 2010k, p. 328)101
Revisando o trabalho que fez desde a Contribuição para a crítica da economia política, que foi publicado em 1859, Marx continuou:
Era, na minha opinião, necessário começar de novo desde o início o primeiro livro, ou seja, resumir o meu livro, publicado por Duncker, em um capítulo sobre mercadoria e dinheiro. Eu julguei que isso fosse necessário, não apenas por causa da completude, mas porque mesmo as pessoas inteligentes não entenderam adequadamente a questão, em outras palavras, deve ter havido defeitos na primeira apresentação, especialmente na análise da mercadoria. (MARX; ENGELS, 2010k, pp. 328-9)102
A pobreza extrema também marcou o mês de novembro. Referindo-se a um terrível cotidiano que não permitia nenhum período de descanso, Marx escreveu a Engels: “Não só o meu trabalho foi frequentemente interrompido por tudo isso, como tentando compensar à noite o tempo perdido durante o dia adquiri um belo carbúnculo próximo ao meu pênis.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 331)103 Mas ele estava desejoso por apontar que “nesse verão e outono, não foi em verdade a teoria que causou o atraso, mas [a sua] condição física e civil”. Se tivesse estado em boa saúde, teria sido capaz de completar o trabalho. Ele lembrou a Engels que fazia três anos desde que “o primeiro carbúnculo fora removido” – anos em que ele teve “apenas curtos períodos” de alívio (MARX; ENGELS, 2010k, p. 332)104. Além disso, tendo sido forçado a gastar tanto tempo e energia na luta diária contra a pobreza, observou em dezembro: “Apenas lamento que pessoas físicas não possam apresentar suas contas ao tribunal de falências com os mesmos direitos que os homens de negócios.”
A situação não mudou durante o inverno e, no final de fevereiro de 1867, Marx escreveu a seu amigo em Manchester (que nunca deixou de mandar o que pudesse): “Um armazém enviará os oficiais de justiça no sábado (depois de amanhã) se eu não pagar pelo menos £ 5. (…) O trabalho em breve estará completo, e teria sido hoje se eu estivesse sujeito nos últimos tempos a menos assédio.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 347)105
No final de fevereiro de 1867, Marx finalmente conseguiu dar a Engels a tão esperada notícia de que o livro estava concluído. Agora ele tinha de levá-lo para a Alemanha, e mais uma vez foi obrigado a recorrer a seu amigo para que pudesse resgatar suas “roupas e relógio da estada na casa de penhor” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 351)106; caso contrário, não poderia partir.
Tendo chegado a Hamburgo, Marx discutiu com Engels o novo plano proposto por Meissner:
Ele agora quer que o livro seja publicado em três volumes. Em particular, ele se opõe à compressão do livro final (a parte histórico-literária) como eu pretendia. Ele disse que, do ponto de vista editorial, (…) esta era a parte para a qual estava reservando maior espaço. Eu disse a ele que, no que diz respeito a isso, eu estava ao seu comando. (MARX; ENGELS, 2010k, p. 357)107
Poucos dias depois, deu um informe similar a Becker:
Todo o trabalho será publicado em três volumes. O título é O capital: crítica da economia política. O primeiro volume compreende o primeiro livro: “O processo de produção do capital”. É sem sombra de dúvida o mais terrível míssil que já foi lançado sobre as cabeças da burguesia (proprietários fundiários inclusos). (MARX; ENGELS, 2010k, p. 358)108
Depois de alguns dias em Hamburgo, Marx seguiu viagem para Hannover. Ficou lá como convidado de Kugelmann, que finalmente o conheceu depois de anos de relações puramente epistolares. Marx permaneceu lá para o caso de Meissner querer que ele ajudasse com a leitura das provas. Escreveu a Engels que sua saúde estava “extraordinariamente melhor”. Não havia “nenhum vestígio da antiga queixa” ou seu “problema do fígado”, e que “ainda por cima, [ele estava] de bom humor” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 361)109. Seu amigo respondeu de Manchester:
Eu sempre tive a sensação de que aquele maldito livro, que você carregou durante tanto tempo, era o fundamento de todo o seu infortúnio, e você nunca iria nem poderia se livrar até que o tirasse de suas costas. Resistir eternamente a concluí-lo estava levando você física, mental e financeiramente ao chão, e eu posso muito bem entender como, depois de ter acordado deste pesadelo, você agora é um homem novo. (MARX; ENGELS, 2010k, p. 362)110
Marx queria informar aos outros sobre a próxima publicação do seu trabalho. Para Sigfrid Meyer (1840-72), membro socialista alemão da Internacional que atuava na organização do movimento operário em Nova York, escreveu: “O Volume I compreende o processo de produção do capital. (…) O Volume II contém a continuação e conclusão da teoria, o Volume III, a história da economia política a partir de meados do século XVII.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 367)111
Em meados de junho, Engels se envolveu na correção do texto para publicação. Ele pensou que, em comparação com a Contribuição para a crítica da economia política de 1859, “a dialética do argumento tinha sido muito afiada” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 381)112. Marx foi encorajado por essa aprovação: “O fato de você estar satisfeito com isso até agora é mais importante para mim do que qualquer coisa que o resto do mundo possa dizer.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 383)113 No entanto, Engels observou que sua exposição da forma do valor era excessivamente abstrata e insuficientemente clara para o leitor médio; também lamentou que precisamente esta importante seção tivesse “as marcas dos carbúnculos mais firmemente estampadas” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 380)114. Em resposta, Marx fulminou contra a causa de seus tormentos físicos – “Espero que a burguesia se lembre dos meus carbúnculos até o dia de sua morte” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 383)115 – e se convenceu da necessidade de um apêndice que apresentasse sua concepção da forma do valor de um modo mais popular. Este complemento de 20 páginas foi concluído no final de junho.
Marx completou as correções da prova às duas horas da manhã em 1 de agosto de 1867. Poucos minutos depois, escreveu para seu amigo em Manchester: “Caro Fred, acabei de corrigir a última folha (…). Então, este volume está concluído. Eu devo apenas a você que isso tenha sido possível! (…) Eu te abraço completamente agradecido.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 405)116 Poucos dias depois, em outra carta a Engels, ele resumiu o que considerava os dois pilares principais do livro: “1. (isto é fundamental para toda a compreensão dos fatos) o duplo caráter do trabalho conforme se expressa em valor de uso ou valor de troca, que é trazido logo no primeiro capítulo; 2. O tratamento do mais-valor independentemente de suas formas particulares, como lucro, juros, renda da terra etc.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 407)117.
O capital foi colocado à venda em 11 de setembro de 1867 (cf. MARX, 1983, p. 674). Seguindo as modificações finais, o índice dos conteúdos foi o seguinte:
Prefácio
Apêndice à Parte I, 1: A forma do valor. (MARX, 1983, pp. 9-10)
Apesar do longo processo de correção e da adição final, a estrutura do trabalho seria amplamente expandida nos próximos anos e várias modificações adicionais seriam feitas no texto. Por conseguinte, mesmo após sua publicação, o volume continuou a absorver energias significativas por parte de Marx.
4. Em busca da versão definitiva
Em outubro de 1867, Marx voltou ao Volume II. Mas isso trouxe uma repetição de suas queixas médicas: dores no fígado, insônia e florescimento de “dois pequenos carbúnculos perto do membrum”. Nem as “incursões de fora” nem os “agravamentos da vida doméstica” o deixaram; havia certa amargura em sua sábia observação a Engels de que “minha doença sempre se origina na mente” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 453)118. Como sempre, seu amigo ajudou e enviou todo o dinheiro que podia, juntamente com a esperança de que “afastasse os carbúnculos” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 457)119. Não foi o que aconteceu e, no final de novembro, Marx escreveu para dizer: “O estado da minha saúde piorou muito, e praticamente não é possível trabalhar.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 477)120
O novo ano, 1868, começou muito parecido ao modo como o antigo terminara. Durante as primeiras semanas de janeiro, Marx nem sequer conseguia responder a sua correspondência. Sua esposa, Jenny, confiou a Becker que seu “pobre marido tinha sido novamente acamado e tinha mãos e pés atados por sua antiga, séria e dolorosa queixa, que [estava] se tornando perigosa devido à sua constante recorrência” (MARX, 2010b, p. 580)121. Alguns dias depois, sua filha Laura relatou a Engels: “o Mouro é mais uma vez vítima de seus antigos inimigos, os carbúnculos e, pela chegada do último, sente-se muito desconfortável numa postura sentada” (MARX, 2010, p. 583)122. Marx começou a escrever novamente apenas no final do mês, quando disse a Engels que “durante 2-3 semanas” ele “não faria absolutamente nenhum trabalho”. “Seria terrível”, acrescentou, “se um terceiro monstro irrompesse.” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 528)123
O estado de saúde de Marx continuou a oscilar. No final de março, ele informou a Engels que a situação era tal que deveria “realmente desistir inteiramente de trabalhar e pensar por algum tempo”. Mas acrescentou que isso seria “difícil” para ele, mesmo que tivesse “os meios para ficar à toa” (MARX; ENGELS, 2010k, p. 557)124. A nova interrupção ocorreu exatamente quando estava recomeçando o trabalho na segunda versão do Volume II – depois de um hiato de quase três anos, desde a primeira metade de 1865. Ele completou os dois primeiros capítulos no decorrer da primavera (Cf. MARX, 2008, pp. 1-339), além de um grupo de manuscritos preparatórios – sobre a relação entre o mais-valor e a taxa de lucro, a lei da taxa de lucro e as metamorfoses do capital – que o ocuparam até o final de 1868 125.
No final de abril de 1868, Marx enviou a Engels um novo esquema para seu trabalho, com particular referência ao “modo pelo qual a taxa de lucro se desenvolve”126. Na mesma carta, deixou claro que o Volume II apresentaria o “processo de circulação do capital com base nas premissas desenvolvidas” no Volume I. Ele pretendia estabelecer, de forma tão satisfatória quanto possível, as “determinações formais” do capital fixo, capital circulante e volume de negócios do capital – e, portanto, investigar “a intercalação social dos diferentes capitais, partes de capital e de receita (= d)”. O Volume III seria então “a conversão do valor excedente em suas diferentes formas e partes separadas” (MARX; ENGELS, 2010l, p. 21)127.
Em maio, no entanto, os problemas de saúde voltaram e, depois de um período de silêncio, Marx explicou a Engels que “dois carbúnculos no escroto talvez deixassem mesmo Sulla rabugento” (MARX; ENGELS, 2010l, p. 35)128. Na segunda semana de agosto, ele contou a Kugelmann da sua esperança de terminar todo o trabalho “no final de setembro de 1869” (MARX; ENGELS, 2010l, p. 82)129. Mas o outono trouxe um surto de carbúnculos e, na primavera de 1869, quando Marx ainda estava trabalhando no terceiro capítulo do Volume II130, seu fígado também piorou mais uma vez. Os seus infortúnios continuaram nos anos seguintes com uma regularidade incômoda e impediram-no para sempre de completar o Volume II.
Havia também razões teóricas para o atraso. Desde o outono de 1868 até a primavera de 1869, determinado a dar conta dos últimos desenvolvimentos do capitalismo, Marx compilou copiosos trechos de textos sobre os mercados financeiros e monetários que apareceram em The Money Market Review, The Economist e publicações similares131. Além disso, no outono de 1869, tendo tomado conhecimento de literatura nova (na realidade, insignificante) sobre mudanças na Rússia, decidiu aprender russo para que pudesse estudar o assunto por si mesmo. Ele perseguiu esse novo interesse com seu rigor habitual e, no início de 1870, Jenny disse a Engels que, “em vez de cuidar de si [ele havia começado] a estudar martelos e pinças russas, saía raramente, comia com pouca frequência e mostrou o carbúnculo sob o braço apenas quando já estava muito inchado e tinha endurecido” (MARX, 2010c, p. 551)132. Engels se apressou em escrever para o amigo, tentando convencê-lo de que “no interesse do Volume II” ele precisava de “uma mudança de estilo de vida”; caso contrário, se houvesse “repetição constante de tais suspensões”, ele nunca terminaria o livro (MARX; ENGELS, 2010l, p. 408)133.
A previsão foi certeira. No início do verão, resumindo o que aconteceu nos meses anteriores, Marx disse a Kugelmann que seu trabalho tinha sido “aguentar a doença durante todo o inverno” e que “acho[u] necessário melhorar [o seu] russo, pois, ao lidar com a questão da terra, isso se tornou essencial para estudar as relações de propriedade das terras russas a partir de fontes primárias” (MARX; ENGELS, 2010l, p. 528)134.
Depois de todas as interrupções e de um período de intensa atividade política junto da Internacional, após o nascimento da Comuna de Paris, Marx voltou-se para uma nova edição do Volume I. Insatisfeito com a maneira como expusera a teoria do valor, ele passou dezembro de 1871 e janeiro de 1872 reescrevendo o apêndice de 1867, o que levou a reescrever o primeiro capítulo em si (cf. MARX, 1983, pp. 1-55). Nesta ocasião, além de um pequeno número de adições, também modificou toda a estrutura do livro135.
Correções e reformulações também afetaram a tradução francesa. A partir de março de 1872, Marx teve de trabalhar na correção dos rascunhos que foram impressos em fascículos entre 1872 e 1875 (cf. MARX, 1989). Ao longo das revisões, ele decidiu fazer mais mudanças no texto básico, principalmente na seção sobre acumulação de capital. No postscriptum da edição francesa, não hesitou em atribuir-lhes “um valor científico independente do original” (MARX; ENGELS, 2010g, p. 24).
Embora o ritmo tenha sido menos intenso do que antes – por causa do estado precário de sua saúde e porque ele precisava ampliar seu conhecimento em algumas áreas –, Marx continuou a trabalhar em O capital durante os últimos anos de sua vida. Em 1875, escreveu outro manuscrito para o Volume III, intitulado “Relação entre taxa de valor excedente e taxa de lucro desenvolvida matematicamente” (cf. MARX, 2003, pp. 19-150) e, entre outubro de 1876 e início de 1881, preparou novos rascunhos de seções do Volume II (cf. MARX, 2008, pp. 525-828). Algumas de suas cartas indicam que, se tivesse sido capaz de alimentar os resultados de sua incessante pesquisa, ele teria atualizado o Volume I também (MARX; ENGELS, 2010m, p.161)136.
O espírito crítico com o qual Marx compôs seu magnum opus revela quão distante ele estava do autor dogmático que a maioria de seus adversários e muitos autodeclarados discípulos apresentaram ao mundo. Apesar de permanecer inacabado137, aqueles que hoje queiram usar conceitos teóricos essenciais para a crítica do modo de produção capitalista ainda não podem dispensar a leitura de O capital de Marx.
Referências
1. Artigo inédito. Traduzido por Murilo Leite Pereira Neto (professor substituto na UFJF) e Carolina Peters (graduanda em letras pela UFRJ). Revisado por Vânia Noeli Ferreira de Assunção.
2. Doutor, professor de ciência política da York University (Toronto, Canadá). No Brasil, organizou a obra Trabalhadores, uni-vos! Antologia política da I Internacional (Boitempo, 2015). Endereço eletrônico: marcello.musto@gmail.
3. Karl Marx para Friedrich Engels, 8 dez. 1857. O título posteriormente conferido a esses manuscritos foi inspirado por essa carta.
4. Cf. o recém-publicado volume MEGA2, IV/14 (MARX; ENGELS, 2017).
5. Karl Marx para Friedrich Engels, 18 dez. 1857. Poucos dias depois, Marx comunicou seus planos a Lassalle (Karl Marx para Ferdinand Lassalle, 21 dez. 1857): “A atual crise comercial me impeliu a trabalhar seriamente nos fundamentos da economia política e, também, a preparar algo sobre a presente crise.” (MARX; ENGELS, 2010i, p. 226)
6. Karl Marx para Ferdinand Lassalle, 22 fev. 1858.
7. Esses cadernos totalizam 1.472 páginas quarto [quarto pages]. Cf. Friedrich Engels, “Preface to the first German edition” (MARX; ENGELS, 2010h, p. 6).
8. Anteriormente, nos Grundrisse, Marx havia estabelecido uma “organização do material” similar, embora menos precisa, em quatro pontos distintos (MARX, 1993, pp. 108; 227-8; 264; 275). Ele também antecipou o esquema de seis partes planejado para a Contribuição para a crítica da economia política em duas cartas do primeiro semestre de 1858: uma para Ferdinand Lassalle, de 22 de fevereiro de 1858 (cf. MARX; ENGELS, 2010i, pp. 268-71), e outra para Friedrich Engels, em 2 de abril de 1858 (cf. MARX; ENGELS, 2010i, pp. 296-304). Entre fevereiro e março de 1859, ele também rascunhou um longo índice preparatório para o seu trabalho, que na edição em língua inglesa dos Grundrisse aparece como “Analytical contents list” (MARX, 1993, pp. 69-80). Sobre o plano original e suas variações, ver o agora datado, mas ainda fundamental trabalho de Roman Rosdolsky (1977, pp. 1-62). Mais limitado, contudo, é Maximilien Rubel (1974, pp. 379; 389), o qual alega que Marx não modificou o plano original concebido em 1857.
9. Esses cadernos foram ignorados por mais de 100 anos, antes que uma tradução russa fosse finalmente publicada em 1973, no volume suplementar 47 da Marx-Engels Sochinenya. Uma edição original em alemão foi publicada somente em 1976 na MEGA2, v. II/3.1 (MARX; ENGELS, 1976).
10. Karl Marx para Friedrich Engels, 30 out. 1861.
11. Karl Marx para Friedrich Engels, 9 dez. 1861.
12. Karl Marx para Friedrich Engels, 9 dez. 1861.
13. Karl Marx para Friedrich Engels, 27 dez. 1861.
14. Karl Marx para Friedrich Engels, 3 mar. 1862.
15. Karl Marx para Friedrich Engels, 15 mar. 1862.
16. Entre 1905 e 1910, Kautsky publicou os manuscritos em questão de uma forma um tanto divergente dos originais.
17. Deveria seguir: 1) A transformação do dinheiro em capital; 2) Mais-valor absoluto; 3) Mais-valor relativo; e 4) Uma seção – nunca escrita de fato – sobre como estas três deveriam ser consideradas em conjunto.
18. Em Marx and Engels collected works (MECW), esses manuscritos – Theories of surplus-value – são indicados com o título Economic manuscript of 1861-3.
19. Karl Marx para Ferdinand Lassalle, 28 abr. 1862.
20. Karl Marx para Friedrich Engels, 18 jun. 1862.
21. Karl Marx para Friedrich Engels, 18 jun. 1862.
22. Karl Marx para Friedrich Engels, 2 ago. 1862.
23. Esses cadernos são parte de Theories of surplus value v. II (MARX; ENGELS, 2010d).
24. Karl Marx para Friedrich Engels, 2 ago. 1862.
25. Karl Marx para Friedrich Engels, 2 ago. 1862.
26. Karl Marx para Friedrich Engels, 7 ago. 1862.
27. Karl Marx para Friedrich Engels, 10 set. 1862.
28. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 28 dez. 1862.
29. Karl Marx para Ferdinand Lassalle, 7 nov. 1862.
30. Karl Marx para Ferdinand Lassalle, 7 nov. 1862.
31. Este é o último caderno que conforma as Teorias do mais-valor v. III.
32. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 28 dez. 1862.
33. Cf. o esquema dos Grundrisse, escrito em junho de 1858 e contido no Caderno M (o mesmo da “Introdução de 1857”), bem como o esboço de esquema para o terceiro capítulo, escrito em 1860: MARX, “Draft plan of the chapter on Capital” (MARX; ENGELS, 2010b, pp. 511-7).
34. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 28 dez. 1862. Essa afirmação parece indicar que Marx percebeu o quão difícil seria completar seu projeto original em seis tomos. Cf. Michael Heinrich (2009, p. 80).
35. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 28 dez. 1862.
36. O primeiro capítulo já havia sido delineado no Caderno XVI dos manuscritos econômicos de 1861-3. Marx preparou um esquema do segundo no Caderno XVIII (MARX; ENGELS, 2010e, p. 299).
37. Karl Marx para Friedrich Engels, 8 jan. 1863.
38. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 jan. 1863.
39. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 fev. 1863.
40. Karl Marx para Friedrich Engels, 21 fev. 1863.
41. Karl Marx para Friedrich Engels, 24 mar. 1863.
42. Ver as mais de 60 páginas contidas em IISH, Marx-Engels Papers, B 98. Com base nessa pesquisa, Marx deu início a um dos seus muitos projetos inacabados, cf. Marx (1961).
43. Karl Marx para Friedrich Engels, 29 maio 1863.
44. Cf. IISH, Marx-Engels Papers, B 93, B 100, B 101, B 102, B 103, B 104 contêm cerca de 535 páginas de notas. A elas devem-se adicionar os três cadernos RGASPI f.1, d. 1397, d. 1691, d. 5583. Marx usou parte deste material para a compilação dos Cadernos XXII e XXIII.
45. Karl Marx para Friedrich Engels, 29 maio 1863.
46. Karl Marx para Friedrich Engels, 12 jun. 1863.
47. Karl Marx para Friedrich Engels, 6 jul. 1863.
48. Cf. Michael Heinrich (2011, pp. 176-9), que argumenta que os manuscritos deste período devem ser tomados não como a terceira versão do trabalho iniciado com os Grundrisse, mas como o primeiro esboço de O capital.
49. “Nº 1”: quer dizer, a Contribuição para a crítica da economia política, de 1859.
50. Karl Marx para Friedrich Engels, 15 ago. 1863.
51. Nos últimos anos, dermatologistas atualizaram a discussão sobre as causas da doença de Marx. Sam Shuster (2008, pp. 1-3) sugeriu que ele sofresse de hidradenite supurativa, enquanto Rudolf Happle e Arne Koenig (2008, pp. 255-6) alegaram, de forma ainda menos plausível, que o culpado seria o intenso fumo de charutos. Para a resposta de Shuster a essa sugestão, ver Rudolf Happle e Arne Koenig (2008, p. 256).
52. Karl Marx para Friedrich Engels, 2 dez. 1863.
53. Karl Marx para Friedrich Engels, 4 dez. 1863.
54. Karl Marx para Friedrich Engels, 20 jan. 1864.
55. Karl Marx para Friedrich Engels, 26 maio 1864.
56. Cf. Karl Marx para Friedrich Engels, 1 jul. 1864.
57. Karl Marx para Carl Klings, 4 out. 1864.
58. Karl Marx para Friedrich Engels, 4 nov. 1864.
59. Karl Marx para Friedrich Engels, 14 nov. 1864.
60. Karl Marx para Friedrich Engels, 2 dez. 1864.
61. Karl Marx para Friedrich Engels, 25 fev. 1864.
62. Karl Marx para Friedrich Engels, 4 mar. 1865.
63. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 mar. 1865.
64. Cinquenta assinaturas eram equivalentes a 800 páginas impressas.
65. “Agreement between Mr. Karl Marx and Mr. Otto Meissner, publisher and bookseller” [Acordo entre o Sr. Karl Marx e o Sr. Otto Meissner, editor e distribuidor de livros].
66. Karl Marx para Friedrich Engels, 22 abr. 1865.
67. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 maio 1865.
68. Karl Marx para Friedrich Engels, 20 maio 1865.
69. Esse texto foi publicado em 1898 por Eleanor Marx como Value, price and profit [Valor, preço e lucro]. O título usual serviu de base para a tradução alemã que foi publicada no mesmo ano em Die Neue Zeit [O Novo Tempo].
70. Karl Marx para Friedrich Engels, 31 jul. 1865.
71. O equivalente a 960 páginas. Posteriormente, Meissner assinalou sua abertura para modificar seu contrato com Marx. Cf. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 abr. 1867 (MARX; ENGELS, 2010k, p. 357).
72. Karl Marx para Friedrich Engels, 5 ago. 1865.
73. Karl Marx para Friedrich Engels, 5 ago. 1865.
74. Essa divisão foi seguida por Engels quando publicou O capital, Volume III, em 1894. Cf. Carl-Erich Vollgraf, Jürgen Jungnickel e Stephen Naron (2002, pp. 35-78); e também o mais recente Carl-Erich Vollgraf (2013, pp. 113-33) e Regina Roth (2013, pp. 168-82 [Ed. bras: 2015]). Para uma avaliação crítica da edição de Engels, ver Michael Heinrich (1997, pp. 452-66). Um ponto de vista diferente está contido em: Michael R. Krätke (2017), especialmente o capítulo final “Gibt es ein Marx-Engels-Problem?”.
75. Karl Marx para Friedrich Engels, 8 nov. 1865.
76. Karl Marx para Wilhelm Liebknecht, 15 jan. 1866.
77. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 15 jan. 1866.
78. Jenny Marx para Johann Philipp Becker, 29 jan. 1866.
79. Karl Marx para Friedrich Engels, 10 fev. 1866.
80. Karl Marx para Friedrich Engels, 10 fev. 1866.
81. Karl Marx para Friedrich Engels, 10 fev. 1866.
82. Friedrich Engels para Karl Marx, 10 fev. 1866.
83. Friedrich Engels para Karl Marx, 10 fev. 1866.
84. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 fev. 1866.
85. Marx depois inseriu a seção sobre renda da terra na Parte Seis do Volume III: “Transformação do lucro excedente em renda fundiária”.
86. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 fev. 1866.
87. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 fev. 1866.
88. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 fev. 1866.
89. Karl Marx para Friedrich Engels, 20 fev. 1866.
90. Friedrich Engels para Karl Marx, 22 fev. 1866.
91. Friedrich Engels para Karl Marx, 22 fev. 1866.
92. Uma canção tradicional do folclore inglês.
93. Karl Marx para Friedrich Engels, 24 mar. 1866.
94. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 6 abr. 1866.
95. Karl Marx para Friedrich Engels, 7 jun. 1866.
96. Karl Marx para Friedrich Engels, 9 jun. 1866.
97. Karl Marx para Friedrich Engels, 7 ago. 1866.
98. Karl Marx para Friedrich Engels, 23 ago. 1866.
99. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 23 ago. 1866.
100. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 13 out. 1866.
101. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 13 out. 1866.
102. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 13 out. 1866.
103. Karl Marx para Friedrich Engels, 8 nov. 1866.
104. Karl Marx para Friedrich Engels, 10 nov. 1866.
105. Karl Marx para Friedrich Engels, 21 fev. 1867.
106. Karl Marx para Friedrich Engels, 2 abr. 1867.
107. Karl Marx para Friedrich Engels, 13 abr. 1867.
108. Karl Mark para Johann Philipp Becker, 17 abr. 1867.
109. Karl Marx para Friedrich Engels, 24 abr. 1867.
110. Friedrich Engels para Karl Marx, 27 abr. 1867.
111. Karl Marx para Sigfrid Meyer, 30 abr. 1867.
112. Friedrich Engels para Karl Marx, 16 jun. 1867.
113. Karl Marx para Friedrich Engels, 22 jun. 1867.
114. Friedrich Engels para Karl Marx, 16 jun. 1867.
115. Karl Marx para Friedrich Engels, 22 jun. 1867.
116. Karl Marx para Friedrich Engels, 24 ago. 1867.
117. Karl Marx para Friedrich Engels, 24 ago. 1867.
118. Karl Marx para Friedrich Engels, 19 out. 1867.
119. Friedrich Engels para Karl Marx, 22 out. 1867.
120. Karl Marx para Friedrich Engels, 27 nov. 1867.
121. Jenny Marx para Johann Philipp Becker, após 10 jan. 1868.
122. Laura Marx para Friedrich Engels, 13 jan. 1868.
123. Karl Marx para Friedrich Engels, 25 jan. 1868.
124. Karl Marx para Friedrich Engels, 25 mar. 1868.
125. Esses textos foram recentemente publicados (MARX, 2012, pp. 78-234; 285-363). A última parte constitui o Manuscrito IV do Volume II e contém novas versões da Parte Um, “A circulação do capital”, e Parte Dois, “As metamorfoses do capital”.
126. Karl Marx para Friedrich Engels, 30 abr. 1868.
127. Karl Marx para Friedrich Engels, 30 abr. 1868.
128. Karl Marx para Friedrich Engels, 16 maio 1868.
129. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 10 ago. 1868.
130. Cf. Marx (2008, pp. 340-522).
131 Ainda não publicadas, essas notas estão incluídas nos cadernos do IISH, Marx-Engels Papers, B 108, B 109, B 113 e B 114.
132. Jenny Marx para Friedrich Engels, por volta de 17 jan. 1870.
133. Friedrich Engels para Karl Marx, 19 jan. 1870.
134. Karl Marx para Ludwig Kugelmann, 27 jun. 1870.
135. Em 1867, Marx dividiu o livro em capítulos. Em 1872, eles se tornaram seções, cada uma com subdivisões muito mais detalhadas.
136. Karl Marx para Nikolai Danielson, 13 dez. 1881.
137. O trabalho editorial que Engels assumiu para preparar as partes inconclusas de O capital para a publicação após a morte de seu amigo foi extremamente complexo. Deve-se ter em mente que o texto em questão foi preparado com base em material incompleto e muitas vezes heterogêneo, escrito por Marx em distintos períodos de sua vida, alguns dos quais continham observações diferentes de outras encontradas em outras partes de O capital. Ainda assim, Engels publicou o Volume II em 1885 e o Volume III em 1894.
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Como citar:
MUSTO, Marcello. A escrita de O capital: gênese e estrutura da crítica de Marx à economia política. Trad. Murilo Leite Pereira Neto e Carolina Peters. Verinotio – Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas, Rio das Ostras, v. 24, n. 1, pp. 23-57, abr./2018.
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