Categories
Interviews

Marx e Engels: Marcello Musto comenta sobre a atualidade do pensamento dos clássicos

Após o que você chama de “conspiração de silêncio de vinte anos sobre Marx” e depois da “embalsamação de seu pensamento” pelo marxismo-leninismo, houve uma retomada do pensamento de Marx? Em que consistiu essa embalsamação?

Crítico rigorosíssimo e sempre insatisfeito com os pontos de chegada, Marx foi frequentemente associado a um dogmatismo grosseiro. Feroz defensor da auto-emancipação da classe operária, foi aprisionado em uma ideologia que defendia o primado das vanguardas políticas. Proponente da ideia de que a condição fundamental para o socialismo era a redução da jornada de trabalho, foi assimilado à crença produtivista do stakhanovismo.

Interessado como poucos outros pensadores no livre desenvolvimento das individualidades humanas, afirmando, contra o direito burguês que oculta as desigualdades sociais sob uma mera igualdade legal, que “o direito, em vez de ser igual, deveria ser desigual”, foi associado a uma concepção que neutralizou a riqueza da dimensão coletiva no indistinto da homogeneização. Contrário a “prescrever receitas para a taverna do futuro”, foi indevidamente transformado no pai de um sistema social muito diferente de suas ideias.

Alguns estudiosos de Marx privilegiaram o crítico do capitalismo, o economista, separando-o do filósofo e do político. Os numerosos inéditos de Marx, que estão sendo publicados na edição alemã MEGA2, oferecem, ao contrário, uma espécie de gênio, como foi Leonardo da Vinci.

Desde o período universitário, Marx adotou o hábito de compilar cadernos de extratos dos livros que lia, intercalados com as reflexões que esses lhe sugeriam. Os manuscritos de Marx contém cerca de 200 cadernos (muitos ainda inéditos) que são essenciais para a compreensão da gênese de sua teoria e para entender melhor as partes dela que ele não teve oportunidade de desenvolver como gostaria. Não é excessivo afirmar que, entre os clássicos do pensamento econômico e filosófico, Marx é o cujos traços mudaram mais ao longo dos últimos anos.

Ele escreveu seus extratos em oito línguas, extraídos de textos das mais variadas disciplinas. Também inclui anotações de centenas de relatórios parlamentares, estatísticas econômicas e relatórios de órgãos governamentais de meio mundo. Marx era um estudioso global e muito analítico. Nada de – como foi escrito – se limitar a destacar apenas o núcleo racional da dialética de Hegel.

É possível falar de um Marx, salvo os pontos centrais de seu pensamento, que nunca foi definitivo e esteve sempre em desenvolvimento?

O Capital não foi o único projeto que ficou incompleto. A convicção de Marx de que suas informações eram insuficientes e seus julgamentos ainda imaturos o impediu de publicar vários escritos que ficaram apenas esboçados ou fragmentados. Isso não significa que seus textos incompletos tenham o mesmo peso dos publicados. Devem ser distinguidos cinco tipos de escritos: as obras publicadas, seus manuscritos preparatórios, os artigos jornalísticos, as cartas e os cadernos de extratos.

Além disso, alguns dos textos publicados não devem ser considerados como sua palavra final sobre os temas em questão. Por exemplo, o Manifesto do Partido Comunista foi considerado por Engels e Marx como um documento histórico, não como o texto definitivo onde estavam enunciadas suas principais concepções políticas. Marx continuou a desenvolver suas ideias até a fase final de sua existência. Não por acaso, seu lema preferido era De omnibus dubitandum [Tudo deve ser questionado].

Marx publicou mais de 500 artigos, ele foi um importante jornalista?

Por mais de uma década, Marx foi um dos principais correspondentes europeus do New-York Tribune, o jornal mais difundido nos Estados Unidos na época. Nos diversos artigos que redigiu, ele tratou de todas as crises econômicas que se sucederam e dos principais eventos políticos da época, tornando-se um jornalista respeitado. Poucos sabiam que por trás daquela assinatura estava um impenitente revolucionário.

Alguns desses textos são úteis para entender o pensamento de Marx sobre questões que ele não pôde tratar de maneira sistemática. Por exemplo, ele escreveu sobre a Guerra da Crimeia de 1853-56 e, apesar de sempre ter se oposto às políticas de Moscovo, declarou, contra os liberais democratas que exaltavam a coalizão anti-russa: “É um erro definir a guerra contra a Rússia como um conflito entre liberdade e despotismo. A parte do fato de que, se isso fosse verdade, a liberdade seria atualmente representada por um Bonaparte, o objetivo manifesto da guerra é a manutenção dos tratados de Viena, ou seja, dos mesmos tratados que anulam a liberdade e a independência das nações”. Se substituíssemos Bonaparte pelos Estados Unidos e os tratados de Viena pela OTAN, essas observações parecem escritas para os dias de hoje.

Marx foi, de certa forma, um precursor da questão ecológica, quando falou não apenas da exploração do homem pelo homem, mas também da exploração da terra pelo capitalismo?

A relevância que Marx atribuiu à questão ecológica está no centro de alguns dos principais estudos dedicados à sua obra nos últimos vinte anos. Em diversas ocasiões, ele denunciou que a expansão do modo de produção capitalista aumenta não só a exploração da classe trabalhadora, mas também o saqueamento dos recursos naturais.

Em O Capital, Marx observou que, quando o proletariado instaura um modo de produção comunista, a propriedade privada do globo terrestre por indivíduos isolados pareceria tão absurda quanto a propriedade privada de um ser humano por outro ser humano. Ele manifestou sua crítica mais radical à ideia de posse destrutiva inerente ao capitalismo, lembrando que “uma nação inteira ou até todas as sociedades de uma mesma época, tomadas como um todo, não são proprietárias da terra”. Para Marx, os seres humanos são “apenas seus usufrutuários” e, portanto, têm “o dever de transmitir às gerações futuras um planeta melhor, como bons pais de família”.

Marx é contra as imigrações, se escreveu. Mas quando presidia a Primeira Internacional, quis operários irlandeses à frente da seção londrina. Qual é a verdade?

Trata-se de uma das maiores bobagens escritas sobre Marx nos últimos anos. Ele se interessou muito pelas migrações e, entre suas últimas anotações, há registros sobre o pogrom ocorrido em São Francisco, em 1877, contra os migrantes chineses. Marx atacou os demagogos anti-chineses que alegavam que os migrantes “fariam os proletários brancos passarem fome” e aqueles que tentavam convencer a classe operária a adotar posições xenofóbicas.

Pelo contrário, Marx mostrou que o movimento forçado de mão de obra gerado pelo capitalismo era uma parte muito importante da exploração burguesa e que a chave para combatê-lo era a solidariedade de classe entre os trabalhadores, independentemente de suas origens ou de qualquer distinção entre mão de obra local e importada.

Marx foi um autêntico anticolonialista, atento ao Sul Global, o que contribui para explicar sua popularidade fora do circuito europeu?

Marx realizou investigações aprofundadas sobre as sociedades extra-europeias e se expressou sempre sem ambiguidade contra as devastações do colonialismo. Essas considerações são óbvias para quem leu Marx, apesar do ceticismo que hoje prevalece em certos círculos acadêmicos.

Por exemplo, quando escreveu sobre a dominação britânica na Índia, afirmou que os britânicos só conseguiram “destruir a agricultura indígena e dobrar o número e a intensidade das fomes”. Durante os últimos anos de vida, ele desenvolveu uma concepção multilinear do progresso, o que o levou a olhar com mais atenção para as especificidades históricas e as desigualdades econômicas e políticas dos países do sul.

Ele acreditava que o desenvolvimento do capitalismo não era um pré-requisito necessário para a revolução; ela poderia começar também fora da Europa. A flexibilidade teórica de Marx – bem diferente das posições de alguns de seus seguidores – contribui para a nova onda de interesse por suas teorias, do Brasil à Índia.

E é verdade que Marx, para usar uma expressão de hoje, também foi atento às questões de gênero, como os socialistas utópicos Fourier e Saint-Simon, que você convida a reler?

Voltar a ler a história variada do movimento operário, prestando atenção a todas as lutas que o caracterizaram, ajuda a entender o quanto são erradas aquelas leituras que representam o socialismo como uma ideologia exclusivamente interessada no conflito entre capital e trabalho. Isso implica também superar a velha vulgata marxista que considerou o de Marx como o único “socialismo científico” e que usou o adjetivo “utópico” de forma puramente depreciativa. Para repensar a alternativa ao capitalismo, é necessário reutilizar todo o arsenal do pensamento socialista, embora Marx continue sendo o elemento central.

Sobre seu último livro, O Essencial de Marx e Engels, publicado em dezembro 2024, em 3 volumes – Escritos filosóficos (294 páginas); Escritos econômicos (310 páginas); Escritos políticos (335 páginas) – que reúne um vasto acervo da produção teórica de Marx e Engels. Como foi o processo de análise e seleção dos textos, capítulos, obras e documentos presentes na antologia?

A obra de Marx e Engels é composta por dezenas de livros, centenas de artigos em jornais e revistas, milhares de páginas de manuscritos preparatórios e de rascunhos de projetos inacabados, uma correspondência constituída por mais de 4 mil cartas encontradas, além de uma grande quantidade de cadernos de anotações, em grande parte ainda inéditos, contendo extratos e comentários dos livros que leu durante os muitos estudos realizados e sua longa atividade política. Selecionar 900 páginas “essenciais” dessa vasta massa de materiais – que, além disso, abrange os mais diversos campos do saber humano, foi redigida em várias línguas e inclui um número considerável de escritos incompletos e fragmentários – é uma tarefa muito complexa.

Deve-se também lembrar que existem escritos nos quais foram expostas ideias que foram superadas após novas pesquisas e que, portanto, não contêm as conclusões finais, relacionadas aos temas tratados, às quais chegaram seus autores. A necessidade de respeitar as dimensões convencionais dos livros de hoje tornou impossível incluir nesta antologia trechos de todos os principais escritos de Marx e Engels. Por questões de espaço, alguns deles tiveram que ser excluídos e, para outros, foi necessário escolher poucas linhas em vez do que merecia ser apresentado em várias páginas.

No entanto, um “Essencial” não tem a ambição de substituir a obra completa; ao contrário, tem o objetivo de estimular os leitores a descobrirem os textos em sua totalidade e maior complexidade.

Qual é o diferencial da obra que a torna uma das principais antologias produzidas em escala internacional dos textos teóricos de Marx e Engels?

Marx e Engels são indiscutivelmente dois clássicos. Eles têm uma contribuição da qual não se pode prescindir e que permanece indispensável apesar do passar do tempo. Aos clássicos retornamos continuamente para rediscutir as questões que mais contribuíram para entender e resolver, mas eles também são convocados em relação a novas temáticas que surgem com a transformação da sociedade e em relação a questões antigas que assumem nova relevância. É por essa razão que, a custo de sacrificar algumas páginas do Marx mais conhecido, não quis deixar de incluir alguns trechos, também inéditos em português, sobre ecologia, gênero, liberdade individual, tecnologia, nacionalismo, colonialismo e guerra – com prazer em destacar a importância da contribuição de Engels sobre esses pontos.

Como a obra contribui para aprimorar as interpretações sobre Marx e o marxismo na atualidade?

Todos esses temas que acabo mencionar têm importância crucial no debate atual, e as teorias de Marx e Engels continuam a oferecer interessantes pontos de reflexão sobre algumas das questões contemporâneas mais significativas. As publicações da Marx Engels Gesamtausgabe (MEGA²) desmentiram aqueles que afirmaram que Marx era um autor sobre o qual já se tinha dito e escrito tudo. Ainda há muito a aprender com Marx. Espero que esta antologia seja útil tanto para os especialistas que acreditam, erroneamente, saber tudo sobre Marx e Engels, quanto para uma nova geração de leitores que ainda não conhece seus escritos.

Categories
Interviews

Musto: A crítica de Marx ao colonialismo é mais relevante do que nunca

Durante as últimas duas décadas, temos assistido a um ressurgimento do interesse pelo pensamento e pela obra de Karl Marx, autor de importantes obras filosóficas, históricas, políticas e econômicas – e, claro, do Manifesto comunista, que é talvez o manifesto político mais popular do mundo. Este ressurgimento é resultado, em grande parte, das consequências devastadoras do neoliberalismo em todo o mundo. Isto é, níveis sem precedentes de desigualdade econômica, decadência social e descontentamento popular, bem como uma intensificação da degradação ambiental que aproxima o planeta cada vez mais de um precipício climático. Junta-se a isso a incapacidade das instituições formais da democracia liberal de resolver esta lista crescente de problemas sociais. Mas será que Marx ainda é relevante para o panorama socioeconômico e político que caracteriza o mundo capitalista de hoje? E o que dizer do argumento de que Marx era eurocêntrico e tinha pouco ou nada a contribuir sobre o colonialismo?

Marcello Musto, importante estudioso marxista e professor de sociologia na Universidade de York em Toronto, Canadá, tem participado desse ressurgimento do interesse por Marx. Musto afirma, numa entrevista exclusiva para a Truthout, que o autor do Manifesto ainda é muito relevante hoje, além de contestar a alegação de que ele era eurocêntrico. O professor argumenta que Marx foi, de fato, intensamente crítico do impacto do colonialismo.

C.J. Polychroniou: Na última década, houve um interesse renovado na crítica de Karl Marx ao capitalismo entre os intelectuais públicos de esquerda. No entanto, o capitalismo mudou drasticamente desde a época de Marx, e a ideia de que ele está fadado à autodestruição devido às contradições que surgem do funcionamento de sua própria lógica já não merece credibilidade intelectual. A classe trabalhadora de hoje é muito mais complexa e diversificada do que a da época da Revolução Industrial. Além disso, a missão histórica mundial imaginada por Marx não foi cumprida pela classe trabalhadora. Na verdade, foram estas considerações que deram origem ao pós-marxismo, uma postura intelectual em voga entre as décadas de 1970 e 1990, que ataca a noção marxista de análise de classe e subestima as causas materiais da ação política radical. Mas agora, ao que parece, há um regresso mais uma vez às ideias fundamentais de Marx. Como deveríamos explicar o renovado interesse por Marx? Na verdade, Marx ainda é relevante hoje?

Marcello Musto: A queda do Muro de Berlim foi seguida por duas décadas de conspiração de silêncio sobre a obra de Marx. Nas décadas de 1990 e 2000, a atenção dada a Marx era extremamente escassa e o mesmo pode ser dito sobre a publicação, e a discussão, dos seus escritos. O trabalho de Marx — já não identificado com a detestável função de instrumentum regni da União Soviética — tornou-se o foco de um renovado interesse global em 2008, após uma das maiores crises econômicas da história do capitalismo. Jornais de prestígio, bem como periódicos de amplo público, descreveram o autor de O capital como um teórico clarividente, cuja atualidade recebeu mais uma vez confirmação. Marx tornou-se, em quase toda parte, tema de cursos universitários e conferências internacionais. Os seus escritos reapareceram nas prateleiras das livrarias e a sua interpretação do capitalismo ganhou impulso renovado.

Nos últimos anos, assistiu-se também a uma reconsideração de Marx enquanto teórico político, fazendo com que muitos autores de visão progressista sustentassem que as suas ideias continuam a ser indispensáveis para quem acredita ser necessário construir uma alternativa à sociedade em que vivemos. O recente “renascimento de Marx” não se limita apenas à sua crítica à economia política, mas também à redescoberta da ideologia e das interpretações sociológicas do autor de O capital. Ao mesmo tempo, muitas teorias pós-marxistas demonstraram suas falácias e acabaram por aceitar os fundamentos concretos da sociedade — embora as desigualdades que a destroem e minam completamente a sua coexistência democrática estejam a crescer de formas cada vez mais dramáticas.

Certamente, a análise de Marx sobre a classe trabalhadora precisa de ser reformulada, uma vez que foi desenvolvida na observação de uma forma diferente de capitalismo. Se as respostas para muitos dos nossos problemas contemporâneos não podem ser encontradas em Marx, ele centra, no entanto, as questões essenciais. Penso que esta é a sua maior contribuição hoje: ele nos ajuda a fazer as perguntas certas, a identificar as principais contradições. Isso não me parece pouca coisa. Marx ainda tem muito a nos ensinar. A sua elaboração contribui para compreendermos melhor o quão indispensável ele é para traçar uma alternativa ao capitalismo — hoje, ainda mais urgentemente do que no seu tempo.

CJP: Os escritos de Marx incluem discussões sobre questões como natureza, migração e fronteiras, que recentemente receberam atenção renovada. Você pode discutir brevemente a abordagem de Marx à natureza e sua opinião sobre migração e fronteiras?

MM: Marx estudou muitos assuntos — no passado muitas vezes subestimados, ou mesmo ignorados, pelos seus estudiosos — que são de importância crucial para a agenda política dos nossos tempos. A relevância que Marx atribuiu à questão ecológica é o foco de alguns dos principais estudos dedicados à sua obra nas últimas duas décadas. Em contraste com interpretações que reduziam a concepção de socialismo de Marx ao mero desenvolvimento das forças produtivas (trabalho, instrumentos e matéria-prima), ele demonstrou grande interesse pelo que hoje chamamos de questão ecológica.

Em repetidas ocasiões, Marx argumentou que a expansão do modo de produção capitalista aumenta não só a exploração da classe trabalhadora, mas também contribui para o esgotamento dos recursos naturais. Ele denunciou que “todo progresso na agricultura capitalista é um progresso na arte, não apenas de roubar o trabalhador, mas também de roubar o solo”. Em O capital., Marx observou que a propriedade privada da terra por indivíduos é tão absurda quanto a propriedade privada de um ser humano por outro ser humano.

Marx também se interessou muito pela migração e entre os seus últimos estudos estão notas sobre o massacre ocorrido em São Francisco, em 1877, contra os migrantes chineses. Marx criticou os demagogos anti-chineses quando estes afirmavam que os migrantes fariam os proletários brancos morrer de fome. Sua crítica também foi contra aqueles que tentaram persuadir a classe trabalhadora a apoiar posições xenófobas. Assim, Marx mostrou que o movimento forçado de trabalho gerado pelo capitalismo era um componente muito importante da exploração burguesa e que a chave para combatê-lo era a solidariedade de classe entre os trabalhadores, independentemente das suas origens ou de qualquer distinção entre trabalho local e importado.

CJP: Uma das objeções mais ouvidas sobre Marx é que ele era eurocêntrico e que até justificou o colonialismo como necessário para a modernidade. No entanto, embora Marx nunca tenha desenvolvido a sua teoria do colonialismo tão extensivamente como a sua crítica da economia política, ele condenou o domínio britânico na Índia nos termos mais inequívocos, por exemplo, e criticou aqueles que não conseguiram ver as consequências destrutivas do colonialismo. Como você avalia Marx nessas questões?

MM: O hábito de usar citações descontextualizadas da obra de Marx data de muito antes do Orientalismo de Edward Said, um livro influente que contribuiu para o mito do alegado eurocentrismo de Marx. Hoje, leio frequentemente reconstruções das análises de Marx sobre processos históricos muito complexos que são puras invenções.

Já no início da década de 1850, nos seus artigos (contestados por Said) para o New-York Tribune — um jornal com o qual colaborou durante mais de uma década — Marx não tinha ilusões sobre as características básicas do capitalismo. Ele sabia muito bem que a burguesia nunca tinha “realizado um progresso sem arrastar indivíduos e pessoas em sangue e sujeira, através da miséria e da degradação”. Mas ele também estava convencido de que, através do comércio mundial, do desenvolvimento das forças produtivas e da transformação da produção em algo cientificamente capaz de dominar as forças da natureza, “a indústria e o comércio burgueses [criariam] estas condições materiais de um novo mundo.” Estas considerações refletiam apenas uma visão parcial e ingênua do colonialismo sustentada por um homem que escrevia um artigo jornalístico com apenas 35 anos de idade.

Mais tarde, Marx empreendeu extensas investigações sobre sociedades não europeias e o seu anticolonialismo ferrenho tornou-se ainda mais evidente. Estas considerações são óbvias para qualquer pessoa que tenha lido Marx, apesar do ceticismo em alguns círculos acadêmicos que representam uma forma bizarra de decolonialidade e assimilam Marx a pensadores liberais. Quando Marx escreveu sobre o domínio da Inglaterra na Índia, afirmou que os britânicos só conseguiram “destruir a agricultura nativa e duplicar o número e a intensidade da fome”. Para Marx, a supressão da propriedade coletiva da terra na Índia nada mais foi do que um ato de vandalismo inglês, empurrando o povo nativo para trás, e certamente não para a frente.

Em nenhum lugar das obras de Marx há a sugestão de uma distinção essencialista entre as sociedades do Oriente e do Ocidente. E, de fato, o anticolonialismo de Marx — particularmente a sua capacidade de compreender as verdadeiras raízes deste fenômeno — contribui para a nova onda contemporânea de interesse pelas suas teorias, do Brasil à Ásia.

CJP: A última viagem que Karl Marx empreendeu antes de morrer foi em Argel. Você pode destacar suas reflexões sobre o mundo árabe e o que ele achou da ocupação francesa na Argélia?

MM: Contei esta história — tão pouco conhecida — no meu livro, O velho Marx: uma biografia de seus últimos anos (1881-1883). No inverno de 1882, último ano de sua vida, Marx teve uma grave bronquite e seu médico recomendou-lhe um período de descanso em um lugar quente como Argel, para escapar dos rigores do inverno. Foi a única vez em sua vida que passou fora da Europa.

Devido à sua saúde debilitada, Marx não conseguiu estudar a sociedade argelina como gostaria. Em 1879, já tinha examinado a ocupação francesa na Argélia e argumentado que a transferência da propriedade fundiária das mãos dos nativos para as dos colonos tinha um objetivo central: “a destruição da propriedade coletiva e sua transformação em objetos de compra e venda”. Marx notou que esta expropriação tinha dois propósitos: fornecer aos franceses o máximo de terras possível e arrancar os árabes dos seus laços naturais com o solo, o que significava mitigar qualquer perigo de rebelião. Marx comentou que esse tipo de individualização da propriedade da terra não só garantiu enormes benefícios econômicos para os invasores, mas também alcançou um objetivo político: “destruir os alicerces da sociedade”.

Embora Marx não pudesse prosseguir essa investigação, ele fez uma série de observações interessantes sobre o mundo árabe quando esteve em Argel. Ele atacou, com indignação, os abusos violentos dos franceses, os seus constantes atos provocativos, a sua arrogância descarada, a presunção e a obsessão em vingança — como Moloch face a cada ato de rebelião da população árabe local.

Nas suas cartas de Argel, Marx relatou que, quando um assassinato é cometido por um bando árabe, geralmente com a intenção de roubar, e os criminosos são devidamente detidos, julgados e executados, isso não é considerado castigo suficiente para a família do colono roubada. Exigem ainda a prisão de pelo menos meia dúzia de árabes inocentes: “Uma espécie de tortura é aplicada pela polícia, para forçar os árabes a ‘confessar’, tal como os britânicos fazem na Índia.” Marx escreveu que quando um colono europeu vive entre aqueles que são considerados “raças inferiores”, seja como colono ou simplesmente a negócios, geralmente considera-se mais inviolável do que o rei. E Marx também enfatizou que, na história comparada da ocupação colonial, “os britânicos e os holandeses superam os franceses”.

CJP: Estas reflexões lançam alguma luz sobre a perspectiva geral de Marx sobre o colonialismo?

MM: Marx sempre se expressou de forma inequívoca contra a devastação do colonialismo. É um erro sugerir o contrário, apesar do ceticismo instrumental tão em voga hoje em dia em certos meios acadêmicos liberais. Durante a sua vida, Marx observou de perto os principais acontecimentos na política internacional e, como podemos ver pelos seus escritos e cartas, expressou firme oposição à opressão colonial britânica na Índia, ao colonialismo francês na Argélia, e a todas as outras formas de dominação colonial. Ele era tudo menos eurocêntrico e fixado apenas no conflito de classes. Marx considerou fundamental o estudo de novos conflitos políticos e áreas geográficas periféricas para a sua crítica ao sistema capitalista. Mais importante ainda, ele sempre ficou do lado dos oprimidos contra os opressores.

Categories
Interviews

Marcello Musto fala sobre O Renascimento de Marx e o futuro dos estudos sobre o tema

Marcello Musto é professor de sociologia da New York University, em Toronto, no Canadá. É autor e organizador de dezenas de livros e artigos sobre o pensador Karl Marx e o marxismo no Brasil. É autor de O velho Marx um biografia de seus últimos anos, da Boitempo, em 2018. Repensar Marx e marxismos, um guia para novas leituras, também da Boitempo, de 2022, e Karl Marx biografia intelectual e política, 1857-1883, pela Expressão Popular, em 2023. Ou seja, está super produtivo e agora a sua obra foi traduzida mundialmente em 25 idiomas. Para mais informações sobre o Marcello, os trabalhos, os estudos que ele faz, vocês podem visitar o site www.marcellomusto.org

O Renascimento de Marx é uma coletânea organizada por Marcello que conta com a colaboração valorosa de 22 autores e autoras. Foi publicada originalmente em inglês, traduzida no Brasil por Fábio Fernandes, da Autonomia Literária, parceira editorial da Fundação Perseu Abramo, cujo representante, Hugo, está conosco hoje e a quem desejamos boas vindas. O livro reúne grandes intelectuais de vários países, dois deles brasileiros reconhecidos, Michel Levy e Ricardo Antunes, que se debruçaram sobre a obra de Marx. A publicação está disponível para venda no site da Autonomia Literária.

O encontro com Marcello contou com as participações dos diretores da FPA, Carlos Árabe, Vivian Farias e Virgílio Guimarães, Rogério Chaves, coordenador editoral da FPA, Hugo Albuquerque, da editora parceira, além de convidados de fora de São Paulo, como o professor Juarez Guimarães, Antonio Rubim Albino e a pesquisadora Adriana Marinho. Acompanhe a seguir:

Marcello, é realmente uma obra de peso e de volume, com muitos artigos e vários aspectos do tema? Você pode nos fazer uma breve apresentação sobre o livro a partir do seu olhar de organizador da obra?

Marcello Musto: São 500 páginas com uma participação plural. Mas primeiro gostaria de agradecer pelo convite. É um prazer estar aqui com vocês. Esse livro é uma publicação que precisava ser organizada, porque a bibliografia de Marx nos últimos anos ganhou novas características. Começaria dizendo nos últimos quinze anos, porque, depois da crise econômica de 2008, Marx voltou ao interesse geral. Existe a clássica divisão entre o Marx economista, o filósofo, o sociólogo. Marx criticou o capitalismo, a economia política, o que outra vez chamou a atenção, depois de uma crise tão grande, tão forte, como foi a crise financeira mundial. Novos estudos sobre Marx permitiram resgatar o seu pensamento político, que é o que mais me interessa, e me libera para evitar esta divisão de disciplinas acadêmicas. Também porque os estudos publicados sobre ele nos últimos anos não só resgataram Marx, as ideias e interpretações desse autor, mas sobretudo porque Marx foi interrogado novamente em relação a novas questões.

Ou seja, eu falaria que sua obra mudou em alguns aspectos, chamando a atenção para questões que não eram vinculadas a Marx, erroneamente. Então, o primeiro ponto é: como é possível que Marx tenha mudado? Como é possível que um autor como Marx, tão estudado, tão influente politicamente e que tenha chamado a atenção desta forma diferente da que existia antes? Isso está relacionado a vários fatores. O primeiro deles é o fator político, e significa o fim do monopólio da interpretação de Marx, do marxismo leninismo, que fez tanto mal a Karl Marx por décadas: a ideia de que ele era a estátua que defendia o dogmatismo soviético, o Estado da Rússia, o assim chamado socialismo real. Mas há também a questão textual, que não é chata, só de acadêmicos e de especialistas. Marx era um autor muito ambicioso, crítico, autocrítico, então, muito diferente de muitos no marxismo, que era dogmático, e isso fez que ele tenha deixado muitos projetos inacabados. Ademais, Marx tinha a ideia de entender e ajudar o movimento dos trabalhadores a entender como funciona o capitalismo, o que é o modo de produção capitalista, e não só na Inglaterra ou na Europa, como falam hoje muitas pessoas que não o conhecem. Estava concentrado em entender isto como processo mundial, tornou-se verdadeira e completamente a ser pesquisador mundial, o que implicava a necessidade de ler e estudar sobre isso. Essa é a característica da obra de Marx que fez com que muitos documentos e textos que ele estava preparando não tenham sido publicados.

Nos últimos dez, quinze anos, essa nova edição nos está ajudando a olhar Marx de uma forma diferente. Porque muitos textos dele, que se consideram livros completos, não são, a maioria, na verdade. O manuscritos econômicos e filosóficos de 1844, A Ideologia alemã e os esboços preparatórios do Capital e o Teorias sobre a Mais-Valia, ou mesmo o segundo e terceiro livros de O Capital, e muitos outros textos filosóficos. Todos estes materiais agora são publicados de forma mais aberta, menos dogmática. A ideologia alemã não é como a bandeira do materialismo histórico dialético do Instituto Marx, Engels, Lenin, Stalin, mas um texto que possibilita olhar contradições também. Como agora todo O Capital está publicado em forma original, como era o manuscrito, entender quanto a pesquisa de Marx, em alguns pontos, ainda não era definitiva. Tudo isso é interessante para os militantes, partidos políticos e a esquerda porque estes documentos nos ajudam a olhar Marx de uma forma mais rigorosa como pesquisador e também conhecer o caminho que trilhou, mas que não foi capaz de terminar, por muitas razões. E depois há outras questões, quando algumas contradições tomam uma centralidade maior, penso que hoje as questões ecológica, de gênero, os processos migratórios na nossa sociedade são ainda mais importantes do que antes. Um pesquisador, um militante político não dogmático, se pergunta: mas é verdade que Marx não escreveu sobre isso, que Marx estava só interessado no trabalhador branco europeu, na contradição na fábrica? E a resposta é claramente não, não foi assim.

Com esses novos materiais, por exemplo, eu falaria que entre os livros mais importantes dos últimos anos sobre Marx seguramente estão muitos que falam de ecologia marxista. A questão é que Marx teve a possibilidade de olhar o mundo inteiro nos últimos quinze anos da vida muito mais que antes. E isso faz que se possa brincar com a biografia de Marx, um drama de seus amigos, como Berenguer, que sempre estiveram esperando que terminasse O Capital, mas ele tentou estudar novas coisas. Muitos marxistas não entenderam a centralidade da atividade política de Marx como organizador. Na verdade, o meu primeiro livro traduzido para o Brasil foi Trabalhadores com Livros, que é a história da Primeira Internacional. E é sobretudo sobre o quanto Marx aprendeu politicamente não só como pesquisador isolado na biblioteca do British Museum, mas como dirigente político, militante de processos políticos, como a Comuna de Paris, como a experiência dos populistas russos. Nos últimos anos da sua vida, ele pode finalmente pesquisar e estudar mais globalmente o mundo e olhar como o capitalismo estava se desenvolvendo em diferentes formas, nos Estados Unidos de forma muito diferente, muito mais rápida do que a do desenvolvimento clássico na Europa. Marx já estava odiando muito a Rússia e perguntando politicamente se era preciso que o capitalismo se desenvolvesse ou seria possível utilizar formas arcaicas de participação coletiva para futuras experiências socialistas e marxistas. Ele também estava completamente centrado em estudar países como Índia, Indonésia, Argélia, no Sul do mundo, pois entendia que a crítica colonial é fundamental.

Após a primeira exposição do autor, abrimos para que os participantes pudessem também fazer perguntas e comentários comentados por Marcello na sequência, que publicamos a seguir:

Hugo Albuquerque: Como é que você vê a questão do debate acerca da noção de dialética? Qual a importância de entender isso para entender o sistema de Marx de uma maneira mais geral?

Carlos Árabe: A primeira coisa que quero destacar é que ainda estamos na onda de apresentação de ampliação do conhecimento sobre o importante trabalho em que diversos autores se encontraram, através da coordenação e da direção do Marcello Musto, para falar da presença de Marx. Hoje isso é um acontecimento ao qual damos muita importância e insisto que ainda estamos nas primeiras ondas dessa apresentação, desse trabalho importante. Continuamos apostando no tsunami marxista.

Juarez Guimarães: Algumas décadas atrás, um pequeno livro do Pierre Anderson falava da divisão entre o marxismo russo e o marxismo ocidental, uma divisão que pode ser hoje problematizada, como ainda é um modo analítico precário, porque o marxismo ocidental, ele próprio, tem muitas divisões históricas desde o início do século 20. Mas ele apontava para um fenômeno importante, na minha opinião, que é uma separação entre os estudos marxistas que ocorriam no marxismo ocidental e os movimentos sociais e os partidos de esquerda. Isto é, estava se verificando um fenômeno de uma perda de organicidade entre a elaboração do marxismo e que não havia ocorrido nas primeiras gerações, já que o marxismo foi elaborado até a Segunda Internacional, muito inserido nas tradições de militância coletiva, seja dos partidos, seja de movimentos sociais. Talvez o Brasil hoje seja um dos melhores lugares do mundo para se testar a possibilidade de que um renascimento dos estudos de Marx seja enraizado e se relacione com as esquerdas formadas no país. Apesar de todas as limitações vividas de cultura política, institucionalidade e de fundamentos econômicos internacionais, a esquerda governa o país. É um dos raros países do mundo que conseguiram resistir à onda da extrema direita e de repor no centro da vida política do país um sentimento pelo menos de esquerda, e isso pode ser pensado do ponto de vista do marxismo. Então, uma oportunidade para alcançar uma audiência pública, de se tornar cultura política pública através da relação com esses partidos de esquerda e movimentos sociais.

Mas isso pode ser visto também do ponto de vista desses partidos e dos próprios movimentos sociais. Estou convencido que, sem uma cultura socialista democrática e reorganizada, os programas desses partidos e as plataformas reivindicatórias dos movimentos sociais apresentam limites fundamentais na luta contra o neoliberalismo. Isto é, eu aposto na possibilidade de uma fusão entre cultura marxista e partidos e movimentos sociais para se criar um contexto de superação possível do neoliberalismo. Penso, então, que esse trabalho em torno desse livro que nos reúne, que nos chama a reunir, traz um enorme potencial de reorganização da cultura do marxismo no Brasil. E nós, em Minas Gerais, estamos nos organizando para oferecer cursos a lideranças de movimentos sociais. Estamos organizando um circuito nas universidades mineiras a partir do marxismo de professores que estudam, se relacionam com o marxismo.

Adriana Marinho: Sou mestranda no programa de História Econômica da USP, orientanda do professor Lincoln Secco e quero saudar essa atividade que é super importante. Na história recente, algumas coisas levaram à noção de que a análise marxista sobre o capitalismo seria ultrapassada. Quero saber se o Marcello ressaltaria como contribuição para fazer frente a essa ideia alguns textos do Marx que acha mais importante. Porque acho que é uma ideia equivocada, ideológica, no sentido marxista da palavra. Quero que ele fale um pouco mais sobre como a crise de 2008 trouxe à tona novamente os escritos de Marx para os debates, principalmente na esquerda.

Vivian Farias: Quero saudar Marcello aqui, em nome da nossa instituição, do nosso presidente Paulo Okamotto, a importância do seu trabalho. Dizer que o nosso diretor, Carlos Henrique Árabe, já foi muito feliz no que tange ao nosso compromisso e à nossa perspectiva de não encerrar esse processo aqui, pois esse tipo de trabalho traz uma perspectiva de futuro. Toda a base ontológica que ele alicerça, o que temos enquanto esquerda, enquanto perspectiva de mudança de práxis, deve ser prioridade. E essa é a linha da nossa diretoria, do nosso presidente. Em tempos de governo, ainda mais do que antes, a gente precisa não errar os mesmos erros, e isso se sobrepõe à necessidade de voltar a ter uma densidade formativa em níveis diferentes.

Virgílio Guimarães: Muito obrigado, Marcello. A sua exposição, para mim equivale a um conhecimento e é também quase uma música para aqueles que sempre me dizem ser marxistas leninistas. Mas sou, como se dizia no século passado, o jovem Marx, que era visto ainda como alguém que sonhava e que fazia uma espécie de marxismo de alguma maneira utópico, e que o Marx, que não era ainda, no meu entendimento, recoberto da fuligem do socialismo real, do marxismo, da Terceira Internacional e mesmo de outras interpretações. Então, esse renascimento é, na verdade, uma redescoberta, uma reaplicação, do lado vivo do marxismo. Acho que isso merece também o Lênin, os marxistas leninistas não gostam do jovem Marx, chamado jovem no seu vigor, na sua vivacidade. Assim também que o jovem Marx, na sua vivacidade de pensar a transformação, revolucionário, mas também em o que está na cultura, no comunismo, é uma transformação cultural radical, a construção da sociedade comunista dos costumes. Isso que hoje falamos de pauta de costumes está no século XIX. Marx, na sociedade de homens, as mulheres livres, dá um repensar de família, de libertação pessoal da religião, aos dogmas impostos pela sociedade de classes e pela dominação que vem desde o escravismo, enfim, as diversas fases da vida social. Sobretudo hoje, quando vemos que a realidade que Marx colocou no local da transformação via desenvolvimento das forças produtivas, isso é uma realidade impressionante. Ou seja, a profecia de Marx é que no impacto do desenvolvimento das forças produtivas em níveis nunca antes imaginados, quando se pensava em ter acabado por tradição e de cidade, de campo e de trabalho manual e intelectual, pensamos que isso era utopia. Utopia coisa nenhuma. A realidade, que hoje está cada vez mais próxima de nós, os marxistas, ou seja, os revolucionários, os transformadores, os pensadores libertários, temos que saudar com muita paixão. Seu trabalho é também um renascimento da vivacidade da atualidade de Marx, renascendo, quem sabe, os próprios marxistas e esse pensamento marxista vivo que ficou encoberto por essa poeira.

Fernanda Estima: Quais os desafios para tornar Marx e seu pensamento mais popular? Carlos Henrique fala de um tsunami. Juarez tá lá, firme e forte, construindo um circuito de debate marxista. Nós temos aqui a militância conduzida pela nossa casa, pelo PT, na intenção também de fazer isso avançar. Mas nós precisamos que você dê essa resposta para a gente.

Antonio Albino Rubim: Como que o renascimento do pensamento de Marx tem tratado o tema da cultura e afins em um mundo que a disputa político cultural toma a forma de guerra cultural e marxismo cultural.

Marcello Musto: Eu dividiria a minha intervenção e a minha resposta em duas partes, porque acho que há uma parte mais teórica e depois uma parte de organização militante. Então, começaria com a teoria. E a pergunta de Hugo em relação à dialética de Hegel e o que Marx absorveu ou descartou da ideia. Acho que a dialética é um tema central e importante no pensamento do Marx. Dividiria a dialética e a relação com Hegel, com a escola da esquerda hegeliana fundamental pelo jovem Marx e também a ideia metodológica da dialética. Então, como olhar o capitalismo? Nos últimos anos, Marx desenvolveu muito esse tema e passou a uma concepção que era muito menos linear do desenvolvimento do capitalismo e que achava possível que a revolução, que os movimentos sociais não tinham de desenvolver, na forma clássica e mais esperada, mas onde o capitalismo estava mais desenvolvido não era assim. Ao mesmo tempo, Marx não mudou. Para Marx, o capitalismo é necessário, um momento importante do desenvolvimento, e os fatores econômicos claramente não precisam se desenvolver da mesma forma em todos os países. Essa me parece uma atuação da dialética de Marx em relação ao tema. Escolhi essa temática porque Adriana também está perguntando se a análise marxista do capitalismo é ultrapassada hoje. E falei que Marx tem de ser redescoberto. Uma das particularidades do livro O Renascimento de Marx é ser um convite a conhecê-lo. São 22 conceitos centrais do pensamento em Marx, verdadeiramente centrais, porque também há temas como arte, educação, nacionalismo, etnicidade e gênero, que foram centrais na análise de Marx, ainda que não sejam na leitura de muitos marxismos. Então aqui estamos falando o que Marx, e só ele, escreveu sobre estes temas, quais os limites destas interpretações hoje em um capitalismo que mudou e se desenvolveu muito. Mas também quais fundamentos de Marx são centrais para repensar todas essas questões. Esse tema, de que existe menos produção e que o setor produtivo tem menor peso, também é um tema muito difícil e complicado se lido na forma de uma sociologia do trabalho europeia, que fala de fim do trabalho, muitíssimo eurocêntrica e que não olha os processos que ocorrem no Sul global.

Afortunadamente, no Brasil há sociólogos importantes, como meu colega Ricardo Antunes, que fizeram desse sistema uma grande centralidade e também que circula no mundo contra esta interpretação de quais são, nos textos de Marx, para utilizar. Acho que é muito inédito aos que indicavam que são úteis somente para um público de especialistas do tema ou para um diretor acadêmico ou de pesquisadoras. Mas, ao mesmo tempo, acho que a responsabilidade de ter uma nova geração de estudiosos de Marx e organizar ontologias é ajudar os jovens, os ativistas, os militantes e todas as figuras, como lembrou Juarez, a ler uma crítica da nossa sociedade e não uma forma ontológica correta, porque às vezes essas antologias são muito perigosas. Agora precisamos reorganizar novos perfis de Marx e traduzir. E o último comentário que foi feito, sobre a biografia de Marx, acho que também é muito importante. Por isso passei muitos anos escrevendo sobre a biografia de Karl Marx, porque ajuda muito a entender o pensamento de Marx. É uma coisa muito importante para mim. Ajuda também a entender que antes era tudo maravilhoso e perfeito e hoje a esquerda está com enormes dificuldades. Antes também existiam grandíssimos problemas. Então, acho que estudar a história do movimento dos trabalhadores, as tantas dificuldades que passaram, nos ajuda a entender que nossos problemas contemporâneos são muitos, são graves, mas ao mesmo tempo históricos e podem ser mudados e melhorados. Com muita paixão, digo que algo precisa ser feito. Acho que a gente pode trabalhar muito sobre isso, mas não sou um autor de um campo que é importante, como nos anos 1960 e 1970. Há interesse para Marx, mas muito menor, digo que preciso de você e de muitas pessoas. Há a necessidade de fazer formação política em todos os lugares, porque o que existia antes desapareceu completamente. A minha história é biográfica, desde os meus primeiros anos como militante, como estudante na universidade. Venho de um país, a Itália, que tinha uma tradição, como talvez nenhum outro país do mundo, de formação política e da importância disso. Hoje não existe mais. É uma falha enorme no mundo da cultura, no mundo da universidade, no mundo da militância política. E acho que a maneira de organizar esta nova onda – e já estou preparando um segundo trabalho – também é importante agora preparar um trabalho de recepção, de entender o que é marxismo hoje e o que a esquerda precisa para fazer este trabalho de forma plural, de defender posições de formações políticas, mas ao mesmo tempo também de variedade geográfica.

O tema da cultura Marx e Engels sempre acharam importante. E é para mim um tema central, e vou chamar uma vez mais a atenção sobre esse tema que talvez seja prioritário hoje ou pela nossa tradição ou pela tradição do socialismo. Não é verdade que o socialismo é uma uma filosofia ou uma ideologia que se interessa exclusivamente ou quase exclusivamente pela luta de classes, na fábrica, o proletariado. O socialismo é uma ideia que é riquíssima, que se ocupa de todas as contradições do capitalismo e que tem na centralidade da cultura da educação grandíssimos autores e pensamentos que nos servem muito para hoje.

Categories
Interviews

No desestimes a Marx: su crítica del colonialismo es más relevante que nunca

Durante las últimas dos décadas, hemos sido testigos de un resurgimiento del interés en el pensamiento y la obra de Karl Marx, autor de obras filosóficas, históricas, políticas y económicas fundamentales, y, por supuesto, del Manifiesto Comunista, que es quizás el manifiesto político más popular de la historia del mundo. Este resurgimiento se debe en gran medida a las consecuencias devastadoras del neoliberalismo en todo el mundo: niveles sin precedentes de desigualdad económica, decadencia social y descontento popular, así como a la intensificación de la degradación ambiental que acerca al planeta cada vez más a un precipicio climático, y a la incapacidad de las instituciones formales de la democracia liberal para resolver esta creciente lista de problemas sociales. Pero, ¿sigue siendo Marx relevante para el panorama socioeconómico y político que caracteriza el mundo capitalista de hoy? ¿Y qué pasa con el argumento de que Marx era eurocéntrico y tenía poco o nada que decir sobre el colonialismo?

Marcello Musto, un destacado erudito marxista y profesor de sociología en la Universidad de York en Toronto, Canadá, que ha sido parte del renacimiento del interés en Marx, sostiene en una entrevista exclusiva para Truthout con C.J. Polychroniou que Marx sigue siendo muy relevante hoy en día y desacredita la afirmación de que era eurocéntrico. En la entrevista que sigue, Musto argumenta que Marx fue, de hecho, muy crítico con el impacto del colonialismo.

C.J. Polychroniou: En la última década más o menos ha habido un renovado interés en la crítica de Karl Marx al capitalismo entre los intelectuales públicos de izquierda. Sin embargo, el capitalismo ha cambiado drásticamente desde la época de Marx y la idea de que el capitalismo está destinado a autodestruirse debido a las contradicciones inherentes al funcionamiento de su propia lógica no tiene ya credibilidad intelectual. Además, la clase trabajadora hoy no solo es mucho más compleja y diversa que la clase trabajadora de la revolución industrial, sino que tampoco ha cumplido la misión histórica mundial imaginada por Marx. De hecho, fueron tales consideraciones las que dieron lugar al postmarxismo, una corriente intelectual de moda en las décadas de 1970-1990, que ataca la noción marxista de análisis de clase y menosprecia las causas materiales de la acción política radical. Pero ahora, al parecer, hay un retorno una vez más a las ideas fundamentales de Marx. ¿Cómo deberíamos explicar el renovado interés en Marx? De hecho, ¿Marx sigue siendo relevante hoy en día?

Marcello Musto: La caída del Muro de Berlín fue seguida por dos décadas de conspiración del silencio sobre la obra de Marx. En las décadas de 1990 y 2000, la atención hacia Marx era extremadamente escasa y lo mismo se puede decir de la publicación y discusión de sus escritos. El trabajo de Marx, que ya no se identifica con la odiosa función de instrumentum regni de la Unión Soviética, se convirtió en el foco de un renovado interés global en 2008, después de una de las mayores crisis económicas de la historia del capitalismo. Periódicos de prestigio, así como revistas de mucha difusión, describieron al autor de El Capital como un teórico con visión de futuro, cuya actualidad se confirmaba una vez más. Marx se convirtió, en casi todas partes, en tema de cursos universitarios y de conferencias internacionales. Sus escritos reaparecieron en los estantes de las librerías, y su interpretación del capitalismo cobró un impulso cada vez mayor.

En los últimos años, también ha habido una reconsideración de Marx como teórico político y muchos autores con puntos de vista progresistas sostienen que sus ideas siguen siendo indispensables para cualquiera que crea que es necesario construir una alternativa a la sociedad en la que vivimos. El “resurgimiento de Marx” contemporáneo no se limita solo a la crítica de Marx de la economía política, sino que también está abierto a redescubrir sus ideas políticas e interpretaciones sociológicas. Mientras tanto, muchas teorías postmarxistas han demostrado hasta que punto son falaces y han terminado aceptando los fundamentos de la sociedad existente, a pesar de que las desigualdades que la destrozan y socavan profundamente su coexistencia democrática crecen de formas cada vez más dramáticas.

Es cierto, el análisis de Marx de la clase trabajadora necesita ser reformulado, ya que se desarrolló a partir de la observación de una forma diferente de capitalismo. Sin embargo, aunque no se pueden encontrar en Marx las respuestas a muchos de nuestros problemas contemporáneos, plantea, sin embargo, las preguntas esenciales. Creo que esta es su mayor contribución hoy: nos ayuda a hacer las preguntas correctas, a identificar las principales contradicciones. Me parece que no es poca cosa. Marx todavía tiene mucho que enseñarnos. Su trabajo nos ayuda a entender mejor lo indispensable que es para repensar una alternativa al capitalismo, incluso con más urgencia hoy que en su época.

Los escritos de Marx incluyen discusiones sobre temas como la naturaleza, las migraciones y las fronteras, que recientemente han recibido una atención renovada. ¿Puedes hablar brevemente sobre el enfoque de Marx de la naturaleza y su punto de vista sobre las migraciones y las fronteras?

Marx estudió muchos temas, en el pasado a menudo subestimados, o incluso ignorados, por sus eruditos, que son de importancia crucial para la agenda política de nuestro tiempo. La relevancia que Marx asignó a la cuestión ecológica es el foco de algunos de los principales estudios dedicados a su trabajo en las últimas dos décadas. En contraste con las interpretaciones que redujeron la concepción del socialismo de Marx al mero desarrollo de las fuerzas productivas (trabajo, maquinaria y materia prima), mostró un gran interés en lo que hoy llamamos la cuestión ecológica. En repetidas ocasiones, Marx argumentó que la expansión del modo de producción capitalista aumenta no solo la explotación de la clase trabajadora, sino también el saqueo de los recursos naturales. Denunció que “todo progreso en la agricultura capitalista es un progreso en el arte, no solo de robar al trabajador, sino de robar el suelo”. En El Capital, Marx observó que la propiedad privada de la tierra por parte de los individuos es tan absurda como la propiedad privada de un ser humano por parte de otro ser humano.

Marx también estaba muy interesado en las migraciones y entre sus últimos estudios se encuentran notas sobre el pogromo que ocurrió en San Francisco en 1877 contra los migrantes chinos. Marx arremetió contra los demagogos antichinos que afirmaban que los migrantes matarían de hambre a los proletarios blancos, y contra aquellos que trataron de persuadir a la clase trabajadora para que apoyara posiciones xenófobas. Por el contrario, Marx mostró que el desplazamiento forzado del trabajo generado por el capitalismo era un componente muy importante de la explotación burguesa y que la clave para combatirlo era la solidaridad de clase entre los trabajadores, independientemente de sus orígenes o de cualquier distinción entre el trabajo local y el importado.

Una de las objeciones más frecuentes a Marx es que era eurocéntrico e incluso justificaba el colonialismo como necesario para la modernidad. Sin embargo, aunque Marx nunca desarrolló su teoría del colonialismo tan extensamente como su crítica de la economía política, condenó el gobierno británico en la India en los términos más inequívocos, por ejemplo, y criticó a aquellos que no vieron las consecuencias destructivas del colonialismo. ¿Cómo evalúas a Marx en estos temas?

El hábito de usar citas descontextualizadas de la obra de Marx data mucho antes de Orientalismo de Edward Said, un libro influyente que contribuyó al mito del supuesto eurocentrismo de Marx. Hoy en día, a menudo leo reconstrucciones de los análisis de Marx de procesos históricos muy complejos que son puras invenciones.

Ya a principios de la década de 1850, en sus artículos (cuestionados por Said) para el New-York Tribune, un periódico con el que colaboró durante más de una década, Marx no se hacía ilusiones sobre las características básicas del capitalismo. Sabía bien que la burguesía nunca había “efectuado un progreso sin arrastrar a individuos y pueblos por la sangre y la suciedad, a través de la miseria y la degradación”. Pero también estaba convencido de que, a través del comercio mundial, el desarrollo de las fuerzas productivas y la transformación de la producción en algo científicamente capaz de dominar las fuerzas de la naturaleza, “la industria y el comercio burgués [crearían] las condiciones materiales de un nuevo mundo”. Estas consideraciones no reflejaban más que una visión parcial e ingenua del colonialismo por parte de un hombre de apenas 35 años de edad que escribía un artículo periodístico.

Más tarde, Marx llevó a cabo extensas investigaciones sobre las sociedades no europeas y su feroz anticolonialismo fue aún más evidente. Estas consideraciones son demasiado obvias para cualquiera que haya leído a Marx, a pesar del escepticismo en algunos círculos académicos que representan una forma extraña de decolonialización y asimilan a Marx a los pensadores liberales. Cuando Marx escribió sobre la dominación de Inglaterra en la India, afirmó que los británicos solo habían sido capaces de “destruir la agricultura nativa y duplicar el número y la intensidad de las hambrunas”. Para Marx, la supresión de la propiedad comunitaria de la tierra en la India no era más que un acto de vandalismo inglés, que empujaba a los pueblos nativos hacia atrás, desde luego no hacia adelante.

En ninguna parte de las obras de Marx hay la sugerencia de una distinción esencialista entre las sociedades de Oriente y Occidente. Y, de hecho, el anticolonialismo de Marx, en particular su capacidad para comprender las verdaderas raíces de este fenómeno, contribuye a la nueva ola contemporánea de interés en sus teorías, desde Brasil hasta Asia.

El último viaje que Karl Marx emprendió antes de morir fue a Argel. ¿Puedes destacar sus reflexiones sobre el mundo árabe y lo que pensó de la ocupación francesa de Argelia?

He contado esta historia, tan poco conocida, en mi reciente libro, Los últimos años de Karl Marx: una biografía intelectual. En el invierno de 1882, durante el último año de su vida, Marx tuvo una bronquitis severa y su médico le recomendó un período de descanso en un lugar cálido como Argel, para escapar de los rigores del invierno. Fue la única vez en su vida que viajó fuera de Europa.

Debido a su mala salud, Marx no pudo estudiar la sociedad argelina como le hubiera gustado. En 1879, ya había examinado la ocupación francesa de Argelia y había argumentado que la transferencia de la propiedad de la tierra de las manos de los nativos a las de los colonos tenía un objetivo central: “la destrucción de la propiedad colectiva indígena y su transformación en un objeto de libre compra y venta”. Marx había señalado que esta expropiación tenía dos propósitos: proporcionar a los franceses la mayor cantidad de tierra posible; y arrancar a los árabes de sus lazos naturales con la tierra, lo que implicaba extinguir cualquier peligro de rebelión. Marx comentó que este tipo de individualización de la propiedad de la tierra no solo había asegurado enormes beneficios económicos a los invasores, sino que también había logrado un objetivo político: “destruir los cimientos de la sociedad”.

Aunque Marx no pudo continuar con esta investigación, hizo una serie de observaciones interesantes sobre el mundo árabe cuando estaba en Argel. Atacó, con indignación, el abuso violento de los franceses, sus repetidos actos de provocación, su arrogancia desvergonzada, presunción y obsesión por vengarse, como Moloch frente a cada acto de rebelión de la población árabe local.

En sus cartas de Argel, Marx informó que cuando un asesinato era cometido por un grupo de árabes, generalmente con la intención de robar, y los malhechores reales eran debidamente detenidos, juzgados y ejecutados en su momento, la familia colona afectada no lo consideraba expiación suficiente. Exigía además la “inculpación” de al menos media docena de árabes inocentes: “La policía aplica una especie de tortura, para obligar a los árabes a ‘confesar’, similar a lo que hacen los británicos en la India”. Marx escribió que cuando un colono europeo habita entre aquellos que se consideran “razas inferiores”, ya sea como colono o simplemente por negocios, generalmente se considera a sí mismo incluso más inviolable que el rey. Y Marx también hizo hincapié en que, en la historia comparativa de la ocupación colonial, “los británicos y los holandeses superan a los franceses”.

¿Estas reflexiones arrojan algo de luz sobre la perspectiva general de Marx sobre el colonialismo?

Marx siempre se expresó inequívocamente en contra de los estragos del colonialismo. Es un error sugerir lo contrario, a pesar del escepticismo instrumental que está tan de moda hoy en día en ciertos sectores académicos liberales. Durante su vida, Marx observó de cerca los principales acontecimientos de la política internacional y, como podemos ver en sus escritos y cartas, expresó su firme oposición a la opresión colonial británica en la India, al colonialismo francés en Argelia y a todas las demás formas de dominación colonial. Era todo menos un eurocéntrico obsesionado solo con el conflicto de clases. Marx pensó que el estudio de nuevos conflictos políticos y las áreas geográficas de la periferia era fundamental para su crítica del sistema capitalista. Lo más importante es que siempre se puso del lado de los oprimidos contra los opresores.

Categories
Interviews

Don’t Dismiss Marx. His Critique of Colonialism Is More Relevant Than Ever

During the last couple of decades, we have been witnessing a resurgence of interest in the thought and work of Karl Marx, author of major philosophical, historical, political and economic works — and of course, of The Communist Manifesto, which is perhaps the most popular political manifesto in the history of the world. This resurgence is largely due to the devastating consequences of neoliberalism around the world — unprecedented levels of economic inequality, social decay and popular discontent, as well as intensifying environmental degradation bringing the planet ever closer to a climate precipice — and the inability of the formal institutions of liberal democracy to solve this growing list of societal problems. But is Marx still relevant to the socio-economic and political landscape that characterizes today’s capitalist world? And what about the argument that Marx was Eurocentric and had little or nothing to say about colonialism?

Marcello Musto, a leading Marxist scholar, and professor of sociology at York University in Toronto, Canada, who has been a part of the revival of interest in Marx, contends in an exclusive interview for Truthout that Marx is still very much relevant today and debunks the claim that he was Eurocentric. In the interview that follows, Musto argues that Marx was, in fact, intensely critical of the impact of colonialism.

C.J. Polychroniou: In the last decade or so there has been renewed interest in Karl Marx’s critique of capitalism among leftist public intellectuals. Yet, capitalism has changed dramatically since Marx’s time and the idea that capitalism is fated to self-destruct because of contradictions that arise from the workings of its own logic no longer commands intellectual credibility. Moreover, the working class today is not only much more complex and diverse than the working class of the industrial revolution but has also not fulfilled the worldwide historical mission envisioned by Marx. In fact, it was such considerations that gave rise to post-Marxism, a fashionable intellectual posture from the 1970s to the 1990s, which attacks the Marxist notion of class analysis and underplays the material causes for radical political action. But now, it seems, there is a return once again to the fundamental ideas of Marx. How should we explain the renewed interest in Marx? Indeed, is Marx still relevant today?

Marcello Musto: The fall of the Berlin Wall was followed by two decades of conspiracy of silence on Marx’s work. In the 1990s and 2000s, the attention toward Marx was extremely scarce and the same can be said for the publication, and discussion, of his writing. Marx’s work — no longer identified with the odious function of instrumentum regni of the Soviet Union — became the focus of a renewed global interest in 2008, after one of the biggest economic crises in the history of capitalism. Prestigious newspapers, as well as journals with wide readerships, described the author of Capital as a farsighted theorist, whose topicality received confirmation one more time. Marx became, almost everywhere, the theme of university courses and international conferences. His writings reappeared on bookshop shelves, and his interpretation of capitalism gathered increasing momentum.

In the last few years, there has also been a reconsideration of Marx as a political theorist and many authors with progressive views maintain that his ideas continue to be indispensable for anyone who believes it is necessary to build an alternative to the society in which we live. The contemporary “Marx revival” is not confined only to Marx’s critique of political economy, but also open to rediscovering his political ideas and sociological interpretations. In the meantime, many post-Marxist theories have demonstrated all their fallacies and ended up accepting the foundations of the existing society — even though the inequalities that tear it apart and thoroughly undermine its democratic coexistence are growing in increasingly dramatic forms.

Marx argued that the expansion of the capitalist mode of production increases not only the exploitation of the working class, but also the pillage of natural resources.

Certainly, Marx’s analysis of the working class needs to be reframed, as it was developed on the observation of a different form of capitalism. If the answers to many of our contemporary problems cannot be found in Marx, he does, however, center the essential questions. I think this is his greatest contribution today: he helps us to ask the right questions, to identify the main contradictions. That seems to me to be no small thing. Marx still has so much to teach us. His elaboration helps us better understand how indispensable he is in rethinking an alternative to capitalism — today, even more urgently than in his time.

Marx’s writings include discussions of issues, such as nature, migration and borders, which recently have received renewed attention. Can you briefly discuss Marx’s approach to nature and his take on migration and borders?

Marx studied many subjects — in the past often underestimated, or even ignored, by his scholars — which are of crucial importance for the political agenda of our times. The relevance that Marx assigned to the ecological question is the focus of some of the major studies devoted to his work over the past two decades. In contrast to interpretations that reduced Marx’s conception of socialism to the mere development of productive forces (labor, instruments and raw material), he displayed great interest in what we today call the ecological question. On repeated occasions, Marx argued that the expansion of the capitalist mode of production increases not only the exploitation of the working class, but also the pillage of natural resources. He denounced that “all progress in capitalist agriculture is a progress in the art, not only of robbing the worker but of robbing the soil.” In Capital, Marx observed that the private ownership of the earth by individuals is as absurd as the private ownership of one human being by another human being.

Marx was also very interested in migration and among his last studies are notes on the pogrom that occurred in San Francisco in 1877 against Chinese migrants. Marx railed against anti-Chinese demagogues who claimed that the migrants would starve the white proletarians, and against those who tried to persuade the working class to support xenophobic positions. On the contrary, Marx showed that the forced movement of labor generated by capitalism was a very important component of bourgeois exploitation and that the key to combating it was class solidarity among workers, regardless of their origins or any distinction between local and imported labor.

One of the most frequently heard objections to Marx is that he was Eurocentric and that he even justified colonialism as necessary for modernity. Yet, while Marx never developed his theory of colonialism as extensively as his critique of political economy, he condemned British rule in India in the most unequivocal terms, for instance, and criticized those who failed to see the destructive consequences of colonialism. How do you assess Marx on these matters?

The habit of using decontextualized quotations from Marx’s work dates much before Edward Said’s Orientalism, an influential book that contributed to the myth of Marx’s alleged Eurocentrism. Today, I often read reconstructions of Marx’s analyses of very complex historical processes that are outright fabrications.

Already in the early 1850s, in his articles (contested by Said) for the New-York Tribune — a newspaper with which he collaborated for more than a decade — Marx had been under no illusion about the basic characteristics of capitalism. He well knew that the bourgeoisie had never “effected a progress without dragging individuals and people through blood and dirt, through misery and degradation.” But he had also been convinced that, through world trade, development of the productive forces and the transformation of production into something scientifically capable of dominating the forces of nature, “bourgeois industry and commerce [would create] these material conditions of a new world.” These considerations reflected no more than a partial, ingenuous vision of colonialism held by a man writing a journalistic piece at barely 35 years of age.

For Marx, the suppression of communal landownership in India was nothing but an act of English vandalism, pushing the native people backwards, certainly not forwards.

Later, Marx undertook extensive investigations of non-European societies and his fierce anti-colonialism was even more evident. These considerations are all too obvious to anyone who has read Marx, despite skepticism in some academic circles that represent a bizarre form of decoloniality and assimilate Marx to liberal thinkers. When Marx wrote about the domination of England in India, he asserted that the British had only been able to “destroy native agriculture and double the number and intensity of famines.” For Marx, the suppression of communal landownership in India was nothing but an act of English vandalism, pushing the native people backwards, certainly not forwards.

Nowhere in Marx’s works is there the suggestion of an essentialist distinction between the societies of the East and the West. And, in fact, Marx’s anti-colonialism — particularly his ability to understand the true roots of this phenomenon — contributes to the new contemporary wave of interest in his theories, from Brazil to Asia.

The last journey that Karl Marx undertook before he died was in Algiers. Can you highlight his reflections on the Arab world and what he thought of the French occupation of Algeria?

I have told this story — so little known — in my recent book, The Last Years of Karl Marx: An Intellectual Biography. In the winter of 1882, during the last year of his life, Marx had a severe bronchitis and his doctor recommended him a period of rest in a warm place like Algiers, in order to escape the rigors of winter. It was the only time in his life that he spent outside Europe.

Owing to his ill health, Marx was unable to study Algerian society as he would have liked. In 1879, he had already examined the French occupation of Algeria and had argued that the transfer of landownership from the hands of the natives into those of the colonists’ had a central aim: “the destruction of the indigenous collective property and its transformation into an object of free purchase and sale.” Marx had noted that this expropriation had two purposes: to provide the French as much land as possible; and to tear away the Arabs from their natural bonds to the soil, which meant to break any danger of rebellion. Marx commented that this type of individualization of landownership had not only secured huge economic benefits for the invaders but also achieved a political aim: “to destroy the foundation of the society.”

Marx closely observed the main events in international politics and expressed firm opposition to British colonial oppression in India, to French colonialism in Algeria, and to all the other forms of colonial domination.

Although Marx could not pursue this research further, he made a number of interesting observations on the Arab world when he was in Algiers. He attacked, with outrage, the violent abuse from the French, their repeated provocative acts, their shameless arrogance, presumption and obsession with taking revenge — like Moloch in the face of every act of rebellion by the local Arab population.

In his letters from Algiers, Marx reported that when a murder is committed by an Arab gang, usually with robbery in view, and the actual miscreants are in the course of time duly apprehended, tried and executed, this is not regarded as sufficient atonement by the injured colonist family. They demand into the bargain the “pulling in” of at least half a dozen innocent Arabs: “A kind of torture is applied by the police, to force the Arabs to ‘confess,’ just as the British do in India.” Marx wrote that when a European colonist dwells among those who are considered the “lesser breeds,” either as a settler or simply on business, he generally regards himself as even more inviolable than the king. And Marx also emphasized that, in the comparative history of colonial occupation, “the British and Dutch outdo the French.”

Do these reflections shed any light on Marx’s general perspective on colonialism?

Marx always expressed himself unambiguously against the ravages of colonialism. It is a mistake to suggest otherwise, despite the instrumental scepticism so fashionable nowadays in certain liberal academic quarters. During his life, Marx closely observed the main events in international politics and, as we can see from his writings and letters, he expressed firm opposition to British colonial oppression in India, to French colonialism in Algeria, and to all the other forms of colonial domination. He was anything but Eurocentric and fixated only on class conflict. Marx thought the study of new political conflicts and peripherical geographical areas to be fundamental for his critique of the capitalist system. Most importantly, he always took the side of the oppressed against the oppressors.

Categories
Interviews

El pensamiento vivo del viejo Marx

Entrevista de Romaric Godin a Marcello Musto, autor de “Los últimos años de Karl Marx” (Les Dernières Années de Karl Marx: une biographie intellectuelle 1881-1883), una biografía intelectual del viejo Marx, entre 1881 y 1883, que permite redescubrir a un pensador en constante movimiento, más abierto a la diversidad del mundo de lo que se podría creer.

Profesor de sociología en la Universidad de York, cerca de Toronto, Canadá, Marcello Musto es uno de los investigadores más importantes de los estudios modernos sobre Marx. Este italiano de 47 años ha centrado desde hace años su investigación en los últimos años del pensador de Tréveris, con un estudio sistemático y en profundidad de los cuadernos publicados en la edición completa en alemán que todavía está en curso, la famosa “MEGA” (Marx-Engels Gesamtausgabe, obras completas de Marx y Engels publicadas en Berlín).

La MEGA ha publicado los textos de cuadernos y esboces entre 1875 y 1883 primero en 1985 y más tarde en 1999, así como diversos textos de lecturas sobre diversas ciencias naturales como la biología, la mineralogía y la agronomía en 2011. Pero estos textos han sido ignorados en gran medida por los investigadores marxistas.

Para Marcello Musto, esconden a un Marx en trabajo permanente, que corrige, enmienda, aclara y desarrolla sus ideas a la luz de nuevas ideas, nuevos intereses y la evolución de la historia. Esta realidad permite retratar a un Marx finalmente más histórico que el que conocíamos, es decir, más marxista, pero también a un Marx más abierto y complejo que el que dibuja la vulgata oficial escrita años después de su muerte.

En un libro publicado por primera vez en inglés en 2020 y que fue traducido este año por la Presses universitaires de France bajo el título Les Dernières Années de Karl Marx: une biographie intellectuelle 1881-1883 (281 páginas, 19 euros), Marcello Musto cuenta los dos últimos años de la vida del pensador. Una vida compartida entre dramas familiares, salud frágil, viajes y estudios intensos que le llevan a emborronar decenas de páginas de cuadernos.

El Marx que se describe aquí está lejos de la imagen que Occidente ha heredado a lo largo de la historia del movimiento comunista. Es un hombre en constante ebullición intelectual, que piensa en la contribución de las culturas extraeuropeas, el surgimiento del poder estadounidense y las cuestiones ecológicas, entre otras.

Marcello Musto escribió en italiano una biografía intelectual más amplia de Marx, comenzando en 1857 (Karl Marx. Biografia intellettuale e politica, 1857-1883, Einaudi, 2018, no traducida), y, en francés, una introducción a los textos de la Primera Internacional (Para leer la Primera Internacional, Ediciones sociales, 2021, 408 páginas, 17 euros). Su trabajo ha abierto el camino a otras reflexiones, como las del japonés Kohei Saito, y constituye uno de los ejes del actual redescubrimiento de Marx.

Mediapart: Durante décadas, el debate en el pensamiento marxista se centró en el “joven Marx”, los últimos años de Karl Marx fueron ampliamente olvidados, incluso después de la publicación de los nuevos volúmenes de la MEGA. ¿Cómo explicas esto?

Marcello Musto: Durante mucho tiempo, muchos investigadores pusieron en primer plano los escritos del supuesto “joven Marx”. Dado que la Segunda Guerra Mundial creó un profundo sentimiento de angustia resultante de las barbaridades del nazismo y el fascismo, el tema de la condición del individuo en la sociedad adquirió gran importancia y el interés filosófico por Marx comenzó a crecer en toda Europa. Este fenómeno fue particularmente fuerte en Francia, donde el estudio de los primeros escritos de Marx (especialmente los Manuscritos económicos y filosóficos de 1844 y la Ideología alemana) fue muy amplio. Henri Lefebvre argumentó que su asimilación era “el acontecimiento filosófico decisivo de la época”. En este proceso muy diverso que se extendió en la década de 1960, muchos escritores de diferentes orígenes culturales y políticos buscaron lograr una síntesis filosófica entre marxismo, hegelanismo, existencialismo y pensamiento cristiano.

El debate dio lugar a muchos escritos de mala calidad en más de un caso, retorciendo los textos de Marx para alinearlo con las convicciones políticas de quienes participaban en él. Raymond Aron ridiculizó precisamente la fascinación de algunos escritores por la oscuridad, el carácter inacabado y, a veces, contradictorio de estos escritos tempranos. En estos textos hay muchas ideas que serán mejoradas, o incluso superadas, en la obra posterior de Marx. Pero es sobre todo en El Capital y en sus borradores preliminares, así como en su investigación de los últimos años, donde se encuentran algunas de las reflexiones sobre la crítica del modo de producción capitalista que son más útiles hoy en día.

Durante mucho tiempo se ignoró la existencia de manuscritos que agrupaban las investigaciones de los últimos años de la vida de Marx, especialmente las de principios de la década de 1880, y esto impidió el conocimiento de los importantes avances que hizo allí. Por eso todos sus biógrafos dedicaron tan pocas páginas a su actividad después del fracaso de la Primera Internacional (la Asociación Internacional de Trabajadores – AIT) en 1872. Pensaron erróneamente que Marx había abandonado la idea de completar su obra y no miraron en los archivos lo que realmente hizo durante ese período (aunque la existencia de estos textos era evidente por la correspondencia).

Por lo tanto, debemos añadir que la mayoría de estos materiales son difíciles de entender. Son principalmente bocetos de ideas incluidos en cuadernos que Marx llenó con extractos de libros que estaba leyendo y las reflexiones que estas lecturas le inspiraron.

Pero si hay algunas justificaciones para tales opciones en el pasado, los nuevos materiales disponibles en la MEGA hoy y el volumen de literatura secundaria sobre el “Marx tardío” desde la década de 1970 deberían haber invertido la tendencia. Ahora bien, por el contrario, la larga biografía de Gareth Stedman Jones, Karl Marx: Greatness and Illusion (Penguin, 2016) que examina todo el período 1872-1883 como un breve epílogo, mientras dedica tres capítulos y 150 páginas al período 1845-49, es sólo un ejemplo de mala investigación. Por no hablar del deplorable libro de Jonathan Sperber, Karl Marx: hombre del siglo XIX (traducido al francés en Piranha en 2017), que simplemente ignora los últimos textos de Marx.

¿Con qué fines ha emprendido esta investigación sobre el fin de la vida de Marx?

Una de las principales razones de mi investigación es para oponerme a las malas representaciones de Marx, como autor eurocentrista, economicista y que reduciría todo a las oposiciones de clases, unas interpretaciones que están de moda hoy en día. No hace falta decir que los que defienden esta tesis nunca han leído a Marx o todavía están apegados a las interpretaciones mecanicistas que prevalecían en los libros de texto marxistas-leninistas que leyeron en su juventud.

Marx emprendió extensas investigaciones sobre las sociedades no europeas y siempre se manifestó inequívocamente contra los estragos del colonialismo. Estas consideraciones son absolutamente obvias para cualquiera que haya leído a Marx, a pesar del escepticismo de ciertos círculos académicos que lo describen como un descolonialismo extranjero y asimilan a Marx a un pensador liberal. Por ejemplo, cuando Marx escribió sobre la dominación británica en la India (después de los escritos periodísticos de la década de 1850, volverá al tema en 1881), afirmó que los colonos ingleses solo habían sido capaces de “destruir la agricultura indígena y duplicar el número y la intensidad de las hambrunas”.

En sus últimos años, Marx creyó que el desarrollo del capitalismo en todas partes no era una condición para la revolución: también podía comenzar fuera de Europa. La “ductilidad” [capacidad de deformarse sin romper – ed] teórica de Marx es muy diferente de las posiciones de algunos de sus discípulos y contribuye a la nueva ola de interés por sus teorías, desde Brasil hasta Asia.

La impresión que tenemos tras leerte es la de un trabajo muy intenso durante ese período. Pero esto no condujo ni a publicaciones ni a la redacción del segundo libro de El Capital. ¿Cómo explicar esta incapacidad de Marx para terminar su obra?

La constante mala salud de Marx, a la que se sumaron sus preocupaciones cotidianas, jugó un papel significativo en la incapacidad de Marx para finalizar parte de la investigación llevada a cabo durante sus últimos años. Pero también hay que añadir que su método riguroso y su autocrítica despiadada aumentaron las dificultades para terminar mucho de lo que había emprendido.

Ya era así cuando era más joven, cuando dejó muchos de sus manuscritos inacabados, y también ocurrió al final de su vida. Su pasión por el conocimiento permaneció intacto a lo largo del tiempo y siempre le empujó a nuevos estudios. Por esta razón, a finales de la década de 1870, se embarcó en un nuevo estudio sobre la banca y el comercio y, hasta principios de 1881, escribió nuevas versiones de diferentes partes del volumen 2 de El Capital, especialmente con respecto a un estudio que había hecho considerando que las representaciones monetarias eran solo una simple cobertura del contenido real de las relaciones monetarias.

Un ejemplo similar son los estudios que ha realizado sobre agronomía, geología y la propiedad de la tierra en Rusia y Estados Unidos. Los hizo para reelaborar completamente la sección sobre la renta de la tierra en el volumen 3 de El Capital, ya que Marx no estaba satisfecho con lo que había escrito antes. Finalmente, otras dificultades acompañaron el trabajo de revisión del volumen I, como lo demuestra el tiempo que tardó Marx en revisar la traducción francesa de Joseph Roy, publicada entre 1872 y 1875.

Además de sus estudios específicos, un gran obstáculo para la finalización de El Capital fue el hecho de que Marx profundizó su conocimiento del desarrollo económico de Rusia y Estados Unidos. Esto supuso un esfuerzo considerable, lo que hizo que su objetivo fuera aún más difícil de alcanzar. A partir de 1878, Marx estudió los informes de la Oficina de Estadísticas de Ohio y, poco después, dirigió su atención a Pensilvania y Massachusetts. Planeaba seguir las dinámicas del modo de producción capitalista a una escala más global en los volúmenes de El Capital que quedaban por escribir. Si Inglaterra fue el telón de fondo del volumen I, Estados Unidos podría haber representado un nuevo campo de observación que le hubiera permitido ampliar su trabajo.

Se centró en verificar más de cerca las formas en las que se desarrollaba el modo de producción capitalista en los diferentes contextos y períodos. Por ejemplo, Marx estaba particularmente interesado en el desarrollo de las compañías por acciones y en el impacto de la construcción de ferrocarriles en la economía. Según él, los ferrocarriles habían dado un impulso nunca antes imaginado a la concentración del capital, y esto había ocurrido en países donde el capitalismo todavía estaba subdesarrollado.

Lo mismo había sucedido con los préstamos de capital. Se había convertido en una actividad cosmopolita, que rápidamente había abrazado al mundo entero, creando una red de estafas financieras y deudas mutuas. Le tomó tiempo comprender estos fenómenos y Marx era muy consciente de la magnitud de la tarea que tenía por delante. No sólo necesitaba revisar algunas partes de sus manuscritos y mejorar su contenido, sino que se enfrentaba a una tarea aún más urgente, que era resolver los problemas teóricos que quedaban sin resolver. Sólo la energía que tenía en la década de 1850, cuando escribió los Grundrisse (y los estudios relativos a las teorías de la plusvalía), le habría permitido realizar esta nueva tarea de titán que él mismo se había impuesto.

Una de las cuestiones centrales de los dos años que describes en tu libro es la de Rusia y, más en general, el vínculo entre capitalismo y socialismo. Con la famosa carta a Véra Zassoulich de 1881, ¿Marx deja de ser eurocentrista? Y, a partir de entonces, ¿Engels no fue capaz de comprender este movimiento dentro del pensamiento de Marx?

A partir de 1870, después de aprender a leer ruso, Marx comenzó un estudio serio sobre los cambios socioeconómicos que se estaban produciendo en Rusia. Así es como conoció el trabajo de Nikolay Chernyshevsky, figura principal del “populismo” ruso (en ese momento, este término tenía una connotación de izquierda y anticapitalista). Al estudiar esta obra, Marx descubre ideas originales sobre la posibilidad de que, en algunas partes del mundo, el desarrollo económico sea capaz de superar sin tener que pasar por el modo de producción capitalista, con todas sus terribles consecuencias para la clase trabajadora en Europa Occidental.

Chernyshevsky escribió que no todos los fenómenos sociales pasaban necesariamente por todas las etapas lógicas en la vida real de las sociedades. En consecuencia, las características positivas de la comuna rural rusa (obchtchina) debían preservarse, pero solo podían garantizar el bienestar de las masas campesinas si se insertaban en un contexto productivo diferente. La obchtchina solo podía contribuir a una etapa inicial de la emancipación social si se convertía en el embrión de una nueva organización social radicalmente diferente. Sin los descubrimientos científicos y las innovaciones tecnológicas que están asociadas con el auge del capitalismo, la obchtchina nunca podría transformarse en una experiencia de cooperación agrícola moderna, un elemento relevante para una futura sociedad socialista.

Cuando Vera Zassoulich le preguntó a Marx en 1881 si la obchtchina estaba destinada a desaparecer o si podía transformarse en una forma socialista de producción, Marx defendió un punto de vista crítico del proceso de transición de las formas comunales del pasado al capitalismo. No creía que el capitalismo fuera un paso necesario para Rusia. Marx no creía que obchtchina estuviera destinada a seguir el mismo destino que los comunes del mismo tipo en Europa Occidental en los siglos anteriores, donde la transformación de la sociedad basada en la propiedad común hacia una sociedad basada en la propiedad privada había sido más o menos uniforme. Por lo tanto, la acusación de eurocentrismo (uno de los principales argumentos de quienes se oponen hoy al “retorno de Marx”) no se sostiene. Las interpretaciones unilaterales y superficiales de Marx a la Edward Said han sido desmontadas por la investigación más rigurosa de los últimos quince años.

En cuanto a Engels, creo que hacia el final de su vida fue demasiado culpable de una aceptación pasiva del curso de la historia (y de caer en la ilusión de su tendencia progresista). La duda de Marx fue reemplazada por la convicción de que, incluso en un país como Rusia, el capitalismo era un paso indispensable en el desarrollo económico. Por supuesto, Rusia estaba cambiando mucho y rápidamente. Después de todo, también por eso Marx fue muy cauteloso en su respuesta a Zassoulich y decidió publicar solo una pequeña parte de esta última. No hace falta decir que la Rusia de principios de la década de 1880 no se puede comparar con lo que se había convertido en la época de Lenin.

En su último libro, el investigador japonés Kohei Saito, que también te cita, defiende la idea de un “corte epistemológico” en la obra de Marx después de la publicación en 1867 del volumen I de “El Capital”. Un corte que cambiaría por completo su visión del socialismo. ¿Estás de acuerdo con esta idea?

No, estoy en desacuerdo. Siempre he sido escéptico sobre las interpretaciones a la Louis Althusser en las que los imaginarios “cortes” dividirían la obra de Marx en varias piezas. No hay dos o tres Marx, sino solo un autor, muy riguroso y muy crítico de sí mismo, que desarrolla constantemente sus ideas. La apertura teórica del “último” Marx que lo lleva a considerar otros caminos hacia el socialismo no debe confundirse con un cambio dramático con respecto a sus escritos anteriores.

En el pasado, autores como Haruki Wada, Enrique Dussel u otros compartieron una lectura supuestamente “tercer mundista” del último Marx, incluso sugiriendo que a partir de un determinado momento, para él, el sujeto revolucionario ya no era el trabajador de las fábricas, sino las masas del campo y de la periferia.

Marx ciertamente estaba más atento a las especificidades históricas y a las divergencias de desarrollo económico y político en diferentes contextos nacionales y sociales, y por eso sigue siendo muy útil para comprender el “Sur global”. Pero las ideas de Marx siempre han estado en completa oposición a las de personas como Alexander Herzen [1812-1870, otro pensador populista ruso que defiende un socialismo de pequeñas comunas independientes formadas por individuos libres unidos por el panslavismo – ed], por tomar solo un ejemplo. La posibilidad de una revolución en Rusia no podía inscribirse en el panslavismo, teniendo en cuenta tanto las formas necesarias de conquista del poder político como las condiciones necesarias para el nacimiento de una sociedad post-capitalista.

¿Cuál podría ser la importancia de este descubrimiento de los últimos años de Marx en el legado de su pensamiento para nuestro tiempo? ¿Por qué sigue siendo, por inacabado que sea, un pensamiento crucial para comprender nuestro tiempo?

Durante esa época, Marx ha profundizado en muchas otras cuestiones, que en el pasado han sido subestimadas e incluso ignoradas por los investigadores, que son de importancia crucial para la agenda política de nuestro tiempo. La importancia que Marx da a la cuestión ecológica está en el centro de algunos de los principales estudios dedicados a su obra en las últimas dos décadas. En numerosas ocasiones, ha denunciado el hecho de que la expansión del modo de producción capitalista no sólo aumentaba la explotación de la clase trabajadora, sino también el saqueo de los recursos naturales. En El Capital, Marx observa que, cuando el proletariado haya establecido un modo de producción comunista, la propiedad privada del planeta por parte de los individuos parecerá tan absurda como la propiedad privada de seres humanos por parte de otros seres humanos.

Marx también estaba muy interesado en la cuestión de la migración y, entre sus últimas notas, se encuentran escritos sobre el pogrom que tuvo lugar en San Francisco en 1877 contra los migrantes chinos. Marx se enfrenta a los demagogos antichinos que afirman que los migrantes “van a matar de hambre a los proletarios blancos” y contra aquellos que intentaban imponer posiciones xenófobos a la clase trabajadora. Por el contrario, Marx demostró que el movimiento forzoso del trabajo creado por el capitalismo era un componente importante de la explotación burguesa y que la clave para combatirla era la solidaridad de clase entre los trabajadores, independientemente de sus orígenes y sin distinción entre trabajo local e “importado”.

Podría continuar con muchos otros ejemplos sobre la crítica al nacionalismo, la libertad individual en la esfera económica y también la emancipación de género.

Marx todavía tiene mucho que enseñarnos y la última fase de su vida intelectual nos ayuda a comprender lo indispensable que es para repensar una alternativa al capitalismo. Y es aún más urgente hoy que en su época.

Categories
Interviews

La pensée vive du vieux Marx

Entretien avec Marcello Musto, auteur des « Dernières Années de Karl Marx », une biographie intellectuelle du vieux Marx entre 1881 et 1883 qui permet de redécouvrir un penseur en mouvement permanent, plus ouvert à la diversité du monde qu’on pouvait le croire. P rofesseur Professeur de sociologie à l’université d’York, près de Toronto, au Canada, Marcello Musto est un des chercheurs les plus importants des études modernes sur Marx. Cet Italien de 47 ans a centré, depuis quelques années, ses recherches sur les dernières années du penseur de Trèves, avec une étude systématique et en profondeur des cahiers publiés dans l’édition complète en allemand qui est toujours en cours, la fameuse « MEGA » (pour Marx-Engels Gesamtausgabe , œuvres complètes de Marx et Engels publiées à Berlin).

La MEGA avait publié les textes de carnets de notes et d’esquisses entre 1875 et 1883 dès 1985 , et en 1999, puis en , des textes issus des lectures sur diverses sciences naturelles comme la biologie, la minéralogie et l’agronomie. Mais ces textes ont très largement été ignorés par les chercheurs marxistes.

Pour Marcello Musto, ils recèlent un Marx en travail permanent, venant corriger, amender, préciser et développer ces idées à la lumière de nouvelles idées, de nouveaux intérêts et de l’évolution de l’histoire. Cette réalité permet de dresser le portrait d’un Marx finalement plus historique que celui qu’on connaissait, autrement dit plus marxien, mais aussi d’un Marx plus ouvert et complexe que celui que dessine la vulgate officielle écrite des années après sa mort.

Dans un ouvrage paru d’abord en anglais en 2020 et qui a été traduit cette année aux Presses universitaires de France sous le titre Les Dernières Années de Karl Marx : une biographie intellectuelle 1881-1883 (281 pages, 19 euros), Marcello Musto raconte les deux dernières années de la vie du penseur. Une vie partagée entre drames familiaux, santé fragile, voyages et études intenses qui l’amènent à noircir des dizaines de pages de carnets.

Le Marx qui est ici décrit est loin de l’image dont l’Occident a hérité au travers de l’histoire du mouvement communiste. C’est un homme en bouillonnement intellectuel permanent, pensant l’apport des cultures extra-européennes, l’émergence de la puissance étasunienne et les questions écologiques, entre autres.

Marcello Musto a rédigé en italien une biographie intellectuelle plus large de Marx, commençant en 1857 ( Karl Marx. Biografia intellettuale e politica, 1857-1883 , Einaudi, 2018, non traduit), et, en français, une introduction aux textes de la Première Internationale ( Pour lire la Première Internationale , Éditions sociales, 2021, 408 pages, 7 euros). Son travail a ouvert la voie à d’autres réflexions, comme celles du Japonais Kohei Saito, et constitue un des axes de la redécouverte actuelle de Marx.

Mediapart: Durant des décennies, le débat dans la pensée marxiste a porté sur le « jeune Marx », les dernières années de Karl Marx étaient largement oubliées, même après la publication des nouveaux volumes de la MEGA. Comment expliquez-vous cela ?

Marcello Musto : Pendant longtemps, de nombreux chercheurs ont mis au premier plan les écrits du prétendu « jeune Marx ». Alors que la Seconde Guerre mondiale créait un sentiment d’angoisse profonde résultant des barbaries du nazisme et du fascisme, le sujet de la condition de l’individu dans la société a acquis une grande importance et l’intérêt philosophique pour Marx a commencé à croître partout en Europe. Ce phénomène était particulièrement fort en France, où l’étude des premiers écrits de Marx (surtout les Manuscrits économiques et philosophiques de 184 4 et l’ Idéologie allemande ) s’est le plus répandue. Henri Lefebvre avançait que leur assimilation était « l’événement philosophique décisif de l’époque » . Dans ce processus très varié s’étendant dans les années 1960, de nombreux écrivains de différentes origines culturelles et politiques ont cherché à accomplir une synthèse philosophique entre marxisme, hégélianisme, existentialisme et pensée chrétienne.

Beaucoup de biographes ont pensé à tort que Marx avait abandonné l’idée de compléter son œuvre et ils n’ont pas regardé dans les archives ce qu’il a effectivement fait durant cette période.

Le débat a donné lieu à beaucoup d’écrits de mauvaise qualité dans plus d’un cas, tordant les textes de Marx pour coller aux convictions politiques de ceux qui y participaient. Raymond Aron a justement ridiculisé la fascination de certains écrivains pour l’obscurité, l’incomplétude et parfois le caractère contradictoire de ces écrits précoces. Dans ces textes, on trouve de nombreuses idées qui seront améliorées, ou même dépassées, dans l’œuvre plus tardive de Marx. Mais c’est surtout dans le Capital et dans ses brouillons préliminaires, ainsi que dans ses recherches des dernières années, que l’on trouve certaines des réflexions sur la critique du mode de production capitaliste qui sont les plus utiles aujourd’hui.

Pendant longtemps, on a ignoré l’existence de manuscrits regroupant les recherches des dernières années de la vie de Marx, spécialement celles du début des années 1880, et cela a empêché la connaissance des avancées importantes qu’il y a effectuées. C’est pourquoi tous ses biographes ont consacré si peu de pages à son activité après l’échec de la Première Internationale (l’Association internationale des travailleurs – AIT) en 1872. Ces derniers ont pensé à tort que Marx avait abandonné l’idée de compléter son œuvre et ils n’ont pas regardé dans les archives (alors que l’existence de ces textes était rendue évidente par la correspondance) ce qu’il a effectivement fait durant cette période. Nous devons donc ajouter que la majorité de ces matériaux sont difficiles à comprendre. Ce sont surtout des esquisses d’idées incluses dans des cahiers de notes que Marx a remplis avec des extraits de livres qu’il était en train de lire et des réflexions que ces lectures lui inspiraient.

Mais s’il existe quelques justifications pour de tels choix dans le passé, les nouveaux matériaux disponibles dans la MEGA aujourd’hui et le volume de littérature secondaire sur le « Marx tardif » depuis les années 1970 auraient dû inverser la tendance. Or, au contraire, la longue biographie de Gareth Stedman Jones, Karl Marx : Greatness and Illusion (Penguin, 2016, non traduit) qui examine toute la période 1872-1883 comme un court épilogue, tout en consacrant trois chapitres et 150 pages à la période 1845-49, est juste un exemple de mauvaise recherche. Pour ne pas parler du déplorable livre de Jonathan Sperber, Karl Marx : homme du XIX siècle (traduit en français chez Piranha en 2017), qui ignore simplement les derniers textes de Marx.

Mediapart: Dans quels buts avez-vous entrepris ces recherches sur la fin de la vie de Marx ?

Marcello Musto:Une des principales raisons de ma recherche est de m’opposer aux mauvaises représentations de Marx – comme un auteur eurocentriste, économiste et qui réduirait tout aux oppositions de classes – qui sont en vogue aujourd’hui. Inutile de dire que ceux qui défendent cette thèse n’ont jamais lu Marx ou sont encore attachés aux interprétations mécanistes qui prévalaient dans les manuels marxistes-léninistes qu’ils ont lus dans leur jeunesse.

Marx a entrepris des investigations étendues sur les sociétés non-européennes et s’est toujours exprimé sans ambiguïté contre les ravages du colonialisme. Ces considérations sont absolument évidentes pour quiconque a lu Marx, en dépit du scepticisme de certains cercles académiques qui représentent un décolonialisme étranger et assimilent Marx à un penseur libéral. Par exemple, quand Marx a écrit sur la domination britannique en Inde (après les écrits journalistiques des années 1850, il reviendra sur le sujet en 1881), il a affirmé que les colons anglais avaient seulement été capables de « détruire l’agriculture indigène et de doubler le nombre et l’intensité des famines »

Dans ses dernières années, Marx a cru que le développement du capitalisme partout n’était pas une condition pour la révolution : elle pouvait aussi commencer en dehors de l’Europe. La « ductilité » [capacité de se déformer sans rompre – ndlr] théorique de Marx est très différente des positions de certains de ses disciples et contribue à la nouvelle vague d’intérêt pour ses théories, du Brésil à l’Asie.

Mediapart:  L’impression que l’on a à vous lire est celle d’un travail très intense durant cette période. Mais cela n’a conduit ni à des publications, ni à la rédaction du deuxième livre du Capital . Comment expliquer cette incapacité de Marx de terminer son œuvre ?

Marcello Musto:  La mauvaise santé constante de Marx, à laquelle se sont ajoutés ses soucis quotidiens, a joué un rôle significatif dans l’incapacité de Marx de finaliser une partie de la recherche conduite pendant ses dernières années. Mais il faut également ajouter que sa méthode rigoureuse et son autocritique sans pitié ont augmenté les difficultés à finir beaucoup de ce qu’il avait entrepris.

C’était déjà le cas quand il était plus jeune – avec beaucoup de ses manuscrits laissés inachevés – et cela était encore plus le cas à la fin de sa vie. Sa passion pour le savoir est restée intacte au fil du temps et l’a toujours conduit à de nouvelles études. Pour cette raison, à la fin des années 1870, il s’est embarqué dans une nouvelle étude sur la banque et le commerce et, jusqu’au début de 1881, il a écrit de nouvelles versions de différentes parties du volume 2 du Capital – particulièrement concernant une étude qu’il a faite quand il avait considéré les représentations monétaires comme n’étant que qu’une simple couverture du contenu réel des relations monétaires.

À côté de ses études spécifiques, un obstacle majeur à l’achèvement du “Capital” a été le fait que Marx a approfondi sa connaissance des développements économiques de la Russie et des États-Unis. Cela a représenté un effort considérable, qui a rendu son objectif encore plus difficile à atteindre.

Un exemple similaire peut être pris au regard des études qu’il a faites au sujet de l’agronomie, de la géologie et de la propriété de la terre en Russie et aux États-Unis. Elles ont été menées pour retravailler complètement la section sur la rente foncière dans le volume 3 du Capital puisque Marx n’était pas satisfait de ce qu’il avait écrit auparavant. Finalement, d’autres difficultés ont accompagné le travail de révision du volume 1, comme le prouve le temps pris par Marx pour réviser la traduction française de Joseph Roy, publiée entre 1872 et 1875. 

À côté de ses études spécifiques, un obstacle majeur à l’achèvement du Capital a été le fait que Marx a approfondi sa connaissance des développements économiques de la Russie et des États-Unis. Cela a représenté un effort considérable, qui a rendu son objectif encore plus difficile à atteindre. À partir de 1878, Marx a étudié les rapports du Bureau de statistiques de l’Ohio et, peu après, a tourné son attention vers la Pennsylvanie et le Massachussetts. Il prévoyait de suivre les dynamiques du mode de production capitaliste à une échelle plus globale dans les volumes du Capital qui restaient à écrire. Si l’Angleterre avait été la toile de fond du volume 1, les États-Unis auraient pu représenter un nouveau champ d’observation qui lui aurait permis d’étendre son travail.

Il s’attachait à vérifier de plus près les formes dans lesquelles le mode de production capitaliste se développait dans les différents contextes et les différentes périodes. Par exemple, Marx était particulièrement intéressé par le développement des compagnies par actions et par l’impact de la construction des chemins de fer sur l’économie. Selon lui, les chemins de fer avaient donné un élan jamais imaginé auparavant à la concentration du capital, et cela était arrivé dans des pays où le capitalisme était encore sous-développé.

La même chose était arrivée avec les prêts de capitaux. C’était devenu une activité cosmopolite, qui avait rapidement embrassé le monde entier, créant un réseau d’arnaques financières et d’endettements mutuels. Cela lui a pris du temps pour comprendre ces phénomènes et Marx était bien conscient de l’ampleur de la tâche qui était devant lui. Non seulement, il avait besoin de revenir sur certaines parties de ses manuscrits et d’améliorer leur contenu, mais il devait faire face à une tâche encore plus pressante, qui était de régler les problèmes théoriques qui demeuraient non résolus. Seule l’énergie qu’il avait dans les années 1850, quand il a écrit les Grundrisse (et les études relatives aux théories de la plus-value), lui aurait permis d’accomplir cette nouvelle tâche de titan qu’il s’était lui-même imposée.

Mediapart:  Une des questions centrales des deux années que vous décrivez dans le livre est celle de la Russie et, plus globalement, du lien entre capitalisme et socialisme. Avec la fameuse lettre à Véra Zassoulich de 1881, Marx cesse-t-il d’être eurocentriste ? Et, dès lors, y a-t-il eu une impossibilité d’Engels, ensuite, de comprendre ce mouvement à l’intérieur de la pensée de Marx ?

Marcello Musto: À partir de 1870, après avoir appris à lire le russe, Marx commence une étude sérieuse sur les changements socio-économiques qui ont lieu en Russie. C’est ainsi qu’il fait connaissance avec le travail de Nikolay Chernyshevsky, figure principale du « populisme » russe (à l’époque, ce terme a une connotation de gauche et anticapitaliste). En étudiant cette œuvre, Marx découvre des idées originales sur la possibilité que, dans certaines parties du monde, le développement économique passe par-dessus le mode de production capitaliste avec toutes ses terribles conséquences pour la classe ouvrière en Europe occidentale.

Chernyshevsky écrivait que tous les phénomènes sociaux ne passaient pas nécessairement à travers toutes les étapes logiques dans la vie réelle des sociétés. En conséquence, les caractéristiques positives de la commune rurale russe (l ‘obchtchina ) devaient être préservées mais elles ne pouvaient assurer le bien-être des masses paysannes que si elles étaient insérées dans un contexte productif différent. L’ obchtchina ne pouvait contribuer à une étape initiale de l’émancipation sociale que si elle devenait l’embryon d’une nouvelle organisation sociale radicalement différente. Sans les découvertes scientifiques et les innovations technologiques qui sont associées à la montée du capitalisme, l’ obchtchina ne pourrait jamais être transformée en une expérience de coopération agricole moderne, un élément pertinent pour une future société socialiste.

Quand Véra Zassoulich a demandé à Marx en 1881 si l’ obchtchina était destinée à disparaître ou si elle pouvait être transformée dans une forme socialiste de production, Marx a défendu un point de vue critique du processus de transition des formes communales du passé vers le capitalisme. Il ne croyait pas que le capitalisme fût une étape nécessaire pour la Russie. Marx ne pensait pas que l’ obchtchina était destinée à suivre le même sort que les communes du même genre en Europe occidentale au cours des siècles précédents, où la transformation de la société basée sur la propriété commune vers une société basée sur la propriété privée avait été plus ou moins uniforme. L’allégation d’eurocentrisme (un des principaux arguments de ceux qui s’opposent aujourd’hui au « retour de Marx ») ne tient donc pas. Les interprétations unilatérales et superficielles de Marx à la Edward Said [XXXX, ndlr] ont été démontées par la recherche la plus rigoureuse au cours des quinze dernières années.

Concernant Engels, je pense que vers la fin de sa vie, il a été trop coupable d’une acceptation passive du cours de l’histoire (et de l’illusion de sa tendance progressiste). Le doute de Marx a été remplacé par une conviction que, même dans un pays comme la Russie, le capitalisme était une étape indispensable du développement économique. Bien sûr, la Russie changeait beaucoup et vite. Après tout, c’est aussi pour cela que Marx était très prudent dans sa réponse à Zassoulich et a décidé de publier seulement une petite partie de cette dernière. Inutile de dire que la Russie du début des années 1880 ne peut pas être comparée avec ce qu’elle était devenue à l’époque de Lénine.

Mediapart: Dans son dernier livre , le chercheur japonais Kohei Saito, qui vous cite par ailleurs, défend l’idée d’une « coupure épistémologique » dans l’œuvre de Marx après la parution en 1867 du volume 1 du « Capital ». Une coupure qui modifierait entièrement sa vision du socialisme. Êtes-vous en accord avec cette idée ?

Marcello Musto:  Non, je suis en désaccord. J’ai toujours été sceptique au sujet des interprétations à la Louis Althusser dans laquelle d’imaginaires « coupures » viendraient diviser l’œuvre de Marx en plusieurs morceaux. Il n’y a pas deux ou trois Marx, mais seulement un auteur – très rigoureux et très critique de lui-même – qui développe constamment ses idées. L’ouverture théorique du « dernier » Marx qui l’amène à considérer d’autres routes vers le socialisme ne devrait pas être confondue avec un changement dramatique au regard de ses écrits précédents.

Dans le passé, des auteurs comme Haruki Wada, Enrique Dussel ou d’autres ont partagé une lecture prétendument « tiers-mondiste » du dernier Marx, suggérant même qu’après un certain point, pour lui, le sujet révolutionnaire n’était plus l’ouvrier des usines, mais les masses de la campagne et de la périphérie.

Marx était certainement plus attentif aux spécificités historiques et aux divergences de développement économique et politique dans des contextes nationaux et sociaux différents, et c’est pourquoi il continue à être très utile pour comprendre le « Sud global »). Mais les idées de Marx sont toujours restées en opposition complète avec des gens comme Alexander Herzen [1812-1870, autre penseur populiste russe défendant un socialisme de petites communes indépendantes formées d’individus libres soudés par le panslavisme – ndlr] , pour ne prendre qu’un exemple. La possibilité d’une révolution en Russie ne pouvait pas s’inscrire dans le panslavisme, au regard tant des formes nécessaires de capture du pouvoir politique que des conditions nécessaires à la naissance d’une société post-capitaliste.

Mediapart:  Quelle pourrait être l’importance de cette découverte des dernières années de Marx dans l’héritage de sa pensée pour notre époque ? Pourquoi est-il encore, aussi inachevé soit-il, une pensée cruciale pour comprendre notre époque ?

Marcello Musto:  Durant cette époque, Marx est allé en profondeur sur de nombreuses autres questions – qui ont été par le passé sous-estimée et même ignorée par les chercheurs –, qui sont d’une importance cruciale pour l’agenda politique de notre temps. L’importance que Marx accorde à la question écologique est au centre de quelques-unes des études majeures consacrées à son œuvre au cours des deux dernières décennies. À de nombreuses reprises, il a dénoncé le fait que l’expansion du mode de production capitaliste augmentait non seulement l’exploitation de la classe laborieuse, mais aussi le pillage des ressources naturelles. Dans le Capital , Marx observe que, quand le prolétariat aura établi un mode de production communiste, la propriété privée du globe par des individus paraîtra aussi absurde que la propriété privée des êtres humains par d’autres êtres humains.

Marx était aussi très intéressé par la question des migrations et, parmi ses dernières notes, on trouve des écrits sur le pogrom qui a eu lieu à San Francisco en 1877 contre des migrants chinois. Marx se dresse contre les démagogues antichinois qui prétendent que les migrants « vont affamer les prolétaires blancs » et contre ceux qui tentaient d’imposer des positions xénophobes dans la classe ouvrière. Au contraire, Marx a montré que le mouvement forcé du travail créé par le capitalisme était une composante importante de l’exploitation bourgeoise et que la clé pour la combattre était la solidarité de classe entre les travailleurs, quelles que soient leurs origines et sans distinction entre travail local et « importé ».

Je pourrais continuer avec de nombreux autres exemples concernant la critique du nationalisme, de la liberté individuelle dans la sphère économique et aussi de l’émancipation de genre.

Marx a encore tant à nous apprendre et la dernière phase de sa vie intellectuelle nous aide à comprendre combien il est indispensable pour repenser une alternative au capitalisme. Et c’est encore plus urgent aujourd’hui qu’à son époque.

Categories
Interviews

Marx non era un marxista-leninista e a rileggerlo nei naufragi di oggi è ancora sorprendentemente attuale

Metti un napoletano a Toronto, Canada. Che ci fa? Insegna sociologia teorica alla York University, oltre a essere visiting professor a Pisa e Roma, Nanchino e Santiago, Parigi e Helsinki. Di Marcello Musto, classe 1976, si può cominciare a parlare così. Aggiungendo subito che, parola del filosofo francese Étienne Balibar, è con ogni probabilità il più grande conoscitore al mon- do della vita di Marx. Al quale ha dedicato libri importanti e tradotti in venticinque lingue. Come Ripensare Marx e i marxismi (Carocci, 2011), L’ultimo Marx (Donzelli, 2016) e Karl Marx. Biografia intellettuale e politica 1857-1883 (Einaudi, 2018). Sottratto all’agiografia e ai santini del socialismo reale, tratteggiato come pensatore in costante divenire, il suo Marx si rivela ricco di spunti per leggere il nostro confuso presente.

 

1. Marx revival. Lei dice che arriva dopo una ventennale congiura del silenzio e dopo l’imbalsamazione del suo pensiero da parte del marxismo/leninismo. In che cosa è consistita questa imbalsamazione?

Critico rigorosissimo e mai pago di punti d’approdo, fu spesso associato a un grossolano dottrinarismo. Strenuo sostenitore della auto-emancipazione della classe operaia, venne ingabbiato in una ideologia che sosteneva il primato delle avanguardie politiche. Propugnatore dell’idea che la condizione fondamentale per il socialismo fosse la riduzione della giornata lavorativa, fu assimilato al credo produttivistico dello stakhanovismo. Interessato come pochi altri pensatori al libero sviluppo delle individualità degli esseri umani, affermando, contro il diritto borghese che cela le disparità sociali dietro una mera uguaglianza legale, che “il diritto, invece di essere uguale, dovrebbe essere diseguale”, è stato accomunato a una concezione che ha neutralizzato la ricchezza della dimensione collettiva nell’indistinto dell’omologazione. Contrario a “prescrivere ricette per l’osteria dell’avvenire”, venne illegittimamente trasformato nel padre di un sistema sociale molto differente dalle sue idee.

2. Alcuni studiosi di Marx hanno privilegiato il critico del capitalismo, l’economista, come separandolo dal filosofo e dal politico. I numerosi inediti di Marx, in corso di pubblicazione nell’edizione tedesca MEGA, offrono invece una sorta di genio leonardesco.

Fin dal periodo universitario, Marx assunse l’abitudine di compilare quaderni di estratti dai libri che leggeva, intervallandoli con le riflessioni che questi gli suggerivano. I manoscritti di Marx contengono circa 200 quaderni (molti ancora inediti) che sono essenziali per la comprensione della genesi della sua teoria e per poter meglio intuire le parti di essa che non ebbe modo di sviluppare come avrebbe voluto. Non è eccessivo affermare che, tra i classici del pensiero economico e filosofico, Marx sia quello il cui profilo è maggiormente mutato nel corso degli ultimi anni. Egli scrisse i suoi estratti in otto lingue e questi vennero desunti da testi delle più svariate discipline. Comprendono anche appunti da centinaia di resoconti parlamentari, statistiche economiche e rapporti di uffici governativi di mezzo mondo. Marx era uno studioso globale e molto analitico. Altro che – com’è stato scritto – limitarsi soltanto a mettere in evidenza il nocciolo razionale della dialettica di Hegel!

3. È possibile parlare di un Marx, fatti salvi i punti cardine del suo pensiero, mai definitivo e sempre in divenire?

Il Capitale non fu l’unico progetto rimasto incompiuto. La convinzione di Marx che le sue informazioni fossero insufficienti e i suoi giudizi ancora immaturi gli impedirono di pubblicare diversi scritti che rimasero solo abbozzati o frammentari. Ciò non significa che i suoi testi incompleti abbiano lo stesso peso di quelli pubblicati. Si dovrebbero distinguere cinque tipi di scritti: le opere pubblicate, i loro manoscritti preparatori, gli articoli giornalistici, le lettere e i quaderni di estratti. Inoltre, alcuni dei testi dati alle stampe non devono essere considerati come la sua parola finale sui temi in questione. Ad esempio, il Manifesto del Partito Comunista venne considerato da Engels e Marx come un documento storico, non come il testo definitivo in cui venivano enunciate le loro principali concezioni politiche. Marx continuò a sviluppare le sue idee fino alla fase finale della sua esistenza. Non a caso, il suo motto preferito era De omnibus dubitandum.

4. Marx giornalista, con oltre 500 articoli pubblicati.

Per oltre un decennio, Marx fu uno dei principali corrispondenti europei del New-York Tribune, il più diffuso quotidiano negli Stati Uniti. Nei numerosi articoli redatti, egli si occupò di tutte le crisi economiche che si susseguirono e dei principali eventi politici del tempo, diventando uno stimato giornalista. In pochi sapevano che dietro quella firma c’era un impenitente rivoluzionario. Alcuni di questi testi sono utili per conoscere il pensiero di Marx su questioni delle quali non poté occuparsi in maniera sistematica. Ad esempio, egli scrisse sulla Guerra di Crimea del 1853-56 e, nonostante si fosse sempre opposto alle politiche di Mosca, dichiarò, contro i democratici liberali che esaltavano la coalizione antirussa: “è un errore definire la guerra contro la Russia come un conflitto tra libertà e dispotismo. A parte il fatto che, se ciò fosse vero, la libertà sarebbe attualmente rappresentata da un Bonaparte, l’obiettivo manifesto della guerra è il mantenimento dei trattati di Vienna, ossia di quegli stessi trattati che cancellano la libertà e l’indipendenza delle nazioni». Se sostituissimo Bonaparte con gli Stati Uniti e i trattati di Vienna con la NATO, queste osservazioni sembrano scritte per l’oggi.

5. Marx in qualche modo antesignano della questione ecologica, quando parla non solo dello sfruttamento dell’uomo sull’uomo ma dello sfruttamento della terra da parte del capitalismo…

La rilevanza che Marx assegnò alla questione ecologica è al centro di alcuni dei principali studi dedicati alla sua opera negli ultimi vent’anni. In ripetute occasioni, egli denunciò che l’espansione del modo di produzione capitalistico aumenta non solo lo sfruttamento della classe lavoratrice, ma anche il saccheggio delle risorse naturali. Nel Capitale Marx osservò che quando il proletariato avrebbe instaurato un modo di produzione comunista la proprietà privata del globo terrestre da parte di singoli individui sarebbe apparsa così assurda come la proprietà privata di un essere umano da parte di un altro essere umano. Egli manifestò la sua più radicale critica verso l’idea di possesso distruttivo insita nel capitalismo, ricordando che “un’intera nazione o anche tutte le società di una stessa epoca prese complessivamente non sono proprietarie della terra”. Per Marx gli esseri umani sono “soltanto i suoi usufruttuari” e, dunque, hanno “il dovere di tramandare alle generazioni successive un pianeta migliore, come boni patres familias”.

6. Marx contro le immigrazioni, si è scritto. Ma quando presiedeva la Prima Internazionale volle operai irlandesi alla testa della sezione londinese…

Si tratta di una delle più grandi idiozie scritta su Marx negli ultimi anni. Egli si interessò molto di migrazioni e tra i suoi ultimi appunti ci sono delle annotazioni sul pogrom avvenuto a San Francisco, nel 1877, contro i migranti cinesi. Marx si scagliò contro i demagoghi anticinesi che sostenevano che i migrati avrebbero “affamato i proletari bianchi” e contro coloro che cercavano di convincere la classe operaia a sostenere posizioni xenofobe. Al contrario, Marx dimostrò che il movimento forzato di manodopera generato dal capitalismo era una componente molto importante dello sfruttamento borghese e che la chiave per combatterlo era la solidarietà di classe tra i lavoratori, indipendentemente dalle loro origini o da qualsiasi distinzione tra manodopera locale e importata.

7. Marx anticolonialista, attento al Sud del mondo, il che spiega la sua fortuna fuori dal circuito europeo…

Marx intraprese indagini approfondite sulle società extraeuropee e si espresse sempre senza ambiguità contro le devastazioni del colonialismo. Queste considerazioni sono fin troppo ovvie per chiunque abbia letto Marx, nonostante lo scetticismo oggi di moda in certi ambienti accademici. Ad esempio, quando scrisse sulla dominazione britannica in India affermò che questi erano stati capaci soltanto di “distruggere l’agricoltura indigena e raddoppiare il numero e l’intensità delle carestie”. Durante gli ultimi anni di vita, sviluppo una concezione multilineare del progresso e ciò lo portò a guardare con maggiore attenzione alle specificità storiche e alle disomogeneità economiche e politiche dei paesi del sud. Egli ritenne che lo sviluppo del capitalismo non fosse un prerequisito necessario per la rivoluzione; questa poteva cominciare anche fuori dall’Europa. La duttilità teorica di Marx – molto diversa dalle posizioni di alcuni suoi seguaci – contribuisce alla nuova ondata di interesse per le sue teorie, dal Brasile all’India.

8. E Marx, per dirla con parole di oggi, attento alle questioni di genere, come i socialisti utopisti alla Fourier e Saint-Simon che lei invita a rileggere…

Ritornare a leggere la variegata storia del movimento operaio, prestando attenzione a tutte le lotte che la hanno caratterizzata, aiuta a comprendere quanto siano errate quelle letture che rappresentano il socialismo come un’ideologia esclusivamente interessata al conflitto tra capitale e lavoro. Questo implica anche superare la vecchia vulgata marxista che ha ritenuto che quello di Marx fosse l’unico “socialismo scientifico” e che ha usato l’aggettivo “utopistico” in senso puramente denigratorio. Per ripensare l’alternativa al capitalismo occorre riutilizzare l’intero arsenale del pensiero socialista, anche se Marx rimane l’elemento centrale.

Categories
Interviews

Sol, sokak ve parlamento: ‘Ehvenişer’ politikasını tavan arasına koymanın zamanı geldi

Daha az kötüyü seçmek ne kadar sık can sıkıcı bir tercih değil mi? Yine de bu tavra güzel isimler verenler de var: Mesela ‘stratejik derinlik’ diyor kimileri. Tabii sadece seçim kabininde yapılan tercihler değil, sizi temsil edenlerin yaptığı stratejik seçimler de bu ‘taktiğin’ bir parçası oluyor. Zamanla daha az kötüyü seçişler sıkça tekrarlanınca ehvenişerin ‘şer’ kısmı törpülenebiliyor.

Sol için de yeni bir tartışma değil. Toplumsal mücadeleler tarihinde ‘stratejik’ hamlelerle daha korkunç ihtimallerin önüne bazı taviz verilerek geçilmeye çalışılmış. Bazen başarısız da olsa en azından o amaçla hareket edilmiş. Fakat kimileri bu hamleleri bir alışkanlığa dönüştürmüş, neticede de benliğini kaybedip burjuva siyaset içerisinde eriyip gitmiş.

O halde ne yapmalı? Stratejik hamlelerden mahrum kalmak ve kendi dünyamıza hapsolmak mı lazım? Çıkıp “Bakın en saf biziz işte” diyebilmek mi marifet? Ya da adına ‘akılcılık’ deyip varlığımızı unutma pahasına bu taktikleri mi benimsemeli? Yoksa Marksist bir perspektifle günümüzün sapmalarına mesafe koymak mümkün mü? Tarih bize bu anlamda neler öğretebilir?

Ehvenişer politikalarının şiddetli sonuçlar doğurduğu İtalya örneğini geçtiğimiz haftalarda konuşmuştuk. Şimdi ise konunun çapını daha da genişleterek ele alacağız. Kanada-Toronto’daki York Üniversitesi’nde Sosyoloji profesörü Marcello Musto ile bir söyleşi yaptık. Marksist çalışmaların canlanması ve canlılığı üzerine çalışmalarıyla bilinen Musto ile Avrupa solunun ‘ehvenişer’ deneyimlerini konuştuk.

‘BİRLEŞİK CEPHE’ MESELESİ
Daha genel bir soruyla başlayalım. Uzun bir zamandır ‘daha az kötüyü’, ‘ehvenişeri’ seçme gündemi sol için bir tartışma konusu. Bunun farklı örnekleri var, 1930’larda faşizmin yükselişine karşı örgütlenen ‘halk cephesi’ deneyimleri ya da savaş sonrası dönemde zaman zaman komünistlerin liberal, sosyal-demokrat ve reformist güçlerle yaptıkları ittifaklar… Hal böyle olunca ‘daha az kötüyü seçme’ konusunda İkinci Dünya Savaşı öncesinde ve sonrasında farklı refleksler söz konusu mu?

Faşistlerin ya da gerici sağın zaferini önlemek üzere seçimlerde burjuva güçlerin adaylarını destekleme ya da reformistlerle/merkezdekilerle birleşik cephe kurma amacında olan politikanın ehvenişer taktiğine baktığımızda uzun bir geçmişe sahip olduğunu görüyoruz. Bu konuya verebileceğimiz en çarpıcı örnek, Nazizm’in yükselişi sırasında yaşandı: Bazısı önce, bazısı sonra olmak üzere tüm sol partiler, burjuva devlete eleştiriyi azaltarak Nazi-faşizmine karşı liberallerle güçlerini birleştirme kararı verdi. Ancak zaman içerisinde bu konjonktürel kararlar, hükümette kalma yönündeki uzun vadeli hedeflere dönüştü.

Bence iki türü birbirinden ayırmalıyız. Brezilya’da Bolsonaro, Türkiye’de Erdoğan örneklerinde olduğu gibi gerici devlet başkanlarının seçilmesini engellemek için akıllıca seçim koalisyonu niteliklerini oluşturanlar ve daha sonra seçimler bittiğinde yeniden bir muhalefet gücü olarak kalmaya devam edenler. Öte yandan, ‘ehven-i şer’ siyasetini, ilan ettiklerinin aksine, kesinlikle ekonomik veya siyasi programlar geliştirmemiş olan liberal hükümetlere dahil olmak için kullananlar. Maalesef Avrupa’daki radikal solun yakın tarihi, ikinci durumun pek çok örneğiyle dolu.

‘EHVENİŞER MANTIĞI, ORANTILI TEMSİLDEN YOKSUN SİSTEMLERE ÖZGÜDÜR’
Ehvenişer politikası dendiğinde sık sık İtalya örneği hatırlatılıyor. 1990’ların başında İtalya Komünist Partisi (PCI) bölündü. Bir taraf ‘kibarca’ komünist köklerini reddetti, diğer taraf ise (PRC) bir şekilde bu köklerine sahip çıktı. Ancak hikayenin sonunda PRC de (tıpkı 1990 öncesi PCI gibi) kendini ‘faşizmin yükseliş tehlikesine karşı’ tekrar ‘ehvenişer’ seçmek zorunda hissetti: En nihayetinde burjuva hükümete dışarıdan destek sundu ki bu hükümetin neoliberal politikaları ağır bir şekilde yürürlüğe koyuşu, dolaylı olarak PRC’yi de suça ortak etti. 2000’lerde de benzeri politikalara imza attılar. Bugün PRC’nın erimiş olmasını ve azalan desteğini böylesi stratejilere kolayca bağlayabilir miyiz?

İtalya örneği 1989 sonrası Avrupa solundaki pek çok gücün aynı şekilde yaşadığı yörünge sapması konusunun uç bir örneğidir. PCI’nın çoğunluğu, reformist solun ideolojik ve programsal olarak derin değişim yaşadığı bir anda Solun Demokratik Partisi’ni (PDS) kurdu ve Sosyalist Enternasyonal’e katıldı. Sosyal demokratik politikalar, bir dizi karşı reform üretip, Avrupa solunu aşındıran ‘üçüncü yol’ lehine kesin olarak terk edildi. [İngiltere’nin İşçi Partili Eski Başbakanı Tony] Blair, [Almanya’nın Sosyal-Demokrat Eski Şansölyesi Gerhard] Schröder, [Eski İtalya Başbakanı Romano] Prodi ve ortakları, sosyal harcamalarda derin kesintiler başlattı, emek ilişkilerini daha istikrarsız hale getirdi, ücret ‘moderasyonu’ politikaları uyguladı ve piyasalarla hizmetleri serbestleştirdi.

Ekonomik politikalar anlamında o dönem iktidarda olan sosyal demokrat ve muhafazakar hükümetler arasında minimal farklar hariç herhangi bir ayrım gözlemlemek çok zor. Aslında bakarsanız, birçok durumda merkez-sol, neoliberal projeyi hayata geçirmede daha bile etkiliydi. Çünkü ne de olsa sendikalar, emek hareketinin ‘dostu’ olan hükümetlerle müzakere ettikleri gibi hayali bir eski inancı takip ettiler. Hiçbir şey bundan daha yanlış olamazdı.

Pek çok durumda bu hükümetler aynı zamanda ‘radikal sol’ güçlerce de desteklendi. Bu neoliberal ajandaya rağmen pek çok komünist parti, sosyal-demokratik güçlerle ittifak yaptı -İster durumu daha da kötüleştirecek sağcı hükümetlerin ortaya çıkmasını engellemeye yönelik meşru bir kaygıyla, ister ‘stratejik oy’ mantığı tarafından cezalandırılma korkusuyla (‘ehvenişer’ mantığı, orantısal temsiliyet eksikliği olan seçim sistemlerine özgüdür). İtalya’da PRC ile yaşanan tek başına bir örnek değildi.

‘SOL HEP ACI REÇETEYE ZORLANDI’
Şu an İtalya’da solun durumuna baktığımızda geçmişe göre çok daha güçsüz olduğunu görüyoruz. Bölgesel olarak değerlendirdiğimizde dahi diğer Güney Avrupa ülkeleriyle arasında bu anlamda bir orantısızlık var mı? Elbette bunu tek bir nedene bağlamak güç. Ancak sizce mevcut durumun sebepleri neler?

Tüm Avrupa’da karşı konulmaz bir şekilde esen neoliberal rüzgar, sosyalist bir doğrultuda hükümetlerin eylemlerini şekillendirebilecek toplumsal hareketlerin eksikliğiyle birlikte, radikal sol partilerin açıkça hafife alınarak olumsuz olarak kümelenmesini temsil ediyordu. Bu senaryoda anti-kapitalist sol, temel ekonomik yönergelere karşı çıkan herhangi bir kayda değer kazanım elde etmeyi başaramadı: Başarabildikleri tek şey, ara sıra alınan bir cılız yatıştırıcı kadardı. Çoğunlukla acı reçeteyi kabul etmek zorunda kaldılar ve uzlaşılması olanaksız muhalefete, daha önceden vaat ettikleri önlemler için oy vermeye mecbur oldular. Sandıktan çıkan sonuç her yerde felaketti. 2007 Cumhurbaşkanlığı seçimlerinde Fransız Komünist Partisi (PCF) yüzde 2’den daha az oy aldı ve bir sonraki yıl İspanya’da Sol Birlik (Izquierda Unida) yüzde 3.8 ile dibe vurdu. İtalya’da da Cumhuriyet tarihinde ilk kez Komünistler parlamento dışında kaldı, yüzde 3.1 gibi iç karartıcı bir orana ulaştı ve buna da ancak Gökkuşağı Sol çatısı altında varıldı.

‘YAŞANAN TAKTİK DEĞİL, GENETİK MUTASYON’
Sizin de vurguladığınız üzere bugün ‘ehvenişercilik’ artık dönemsel bir strateji olmaktan çok daha uzağa savrulmuş durumda. Konjonktürel değil, uzun vadeli bir tavır söz konusu. Mesela yine bahsini açtığımız İspanya üzerinden devam etmek gerekirse sol çatı örgütü Unidos Podemos ile geleneksel sosyal-demokrat parti PSOE, son seçimlerde bir koalisyon hükümeti kurdu. Unidos Podemos -ki içerisinde İspanya Komünist Partisi (PCE) de buluyor- koalisyona katılırken ‘sağın yükselişini engelleme’ yine gündemdeydi. Ancak burada solun görevini tartışmak gerekiyor belki de? Marksist bir örgütün görevi asli olarak milliyetçilerin-sağın yükselişini engellemek midir? Sadece buna sarılmak, bir şekilde solu içeriden felce uğratmaz mı?

Geçtiğimiz yıllarda İspanya’da ve Fransa’da heyecan uyandırıcı sosyal hareketler gelişti, solun güçleri yeniden kuvvetlendi. Bununla birlikte geçmişin hatalarını tekrarlıyorlar gibi görünüyor. Bunun en belirgin örneği, İspanya hükümetinin Başbakan Yardımcısı Yolanda Diaz (eski bir Unidos Podemos üyesi) tarafından kurulan Sumar. Yaklaşan seçimlerde başbakanlık için fazlasıyla basit ve ılımlı bir platformla [Sumar] yarışacak olan Diaz, acil çözüm bekleyen Ukrayna’daki savaş konusunda muğlak bir sessizliğe bürünmeyi tercih etti.

Tarih bize gösteriyor ki, ilerici güçler savaşa karşı çıkmadıkları zaman, varoluş sebeplerinin asli parçasını yitirirler ve sonunda karşı tarafın ideolojisini yutarlar. Ne zaman sol partiler hükümet içerisindeki varlıklarını siyasi eylemlerini ölçmenin ‘esas’ yolu olarak kabul ederse bu durum yaşanır. Tıpkı bazı İtalyan Komünistlerin, Kosova ve Afganistan’daki NATO müdahalelerini desteklerken yaptıkları gibi. Böylesi ikincil tutumlar geçmişte çok kez cezalandırıldı, buna fırsat doğar doğmaz alınan seçim sonuçları da dahil. Bulunduğumuz noktada artık taktiksel kararların karşısında değiliz; biz genetik bir mutasyonun içindeyiz. Bu da anti-kapitalist ufkunu tamamen terk etmiş solun yeni (ve çok hafif) bir versiyonudur.

‘SOKAK’ İLE ‘PARLAMENTO’ ARASINDA YOLU BULMAK
Bir tarafta militan işçi sınıfı hareketlerine olan inancını yitirenler var, diğer tarafta ise neoliberalizmin vahşileşmesiyle birlikte işçi hareketinin militan mücadelesi için gittikçe sağlamlaşan zemin var. Belki Avrupa için bile bunu söyleyebiliriz. Bu anlamda sizce sol için sokak ile parlamento arasındaki ilişki nasıl olabilir?

Kıtasal anlamda, gerçek bir alternatif ancak geniş bir sosyal hareket yeni bir anti-kapitalist ajandayı dayatma yeteneğine sahipse düşünülebilir. Bu da ancak radikal sol, daha büyük bir kararlılık ve tutarlılıkla çeşitli siyasi kampanyalar ve ulusötesi seferberlikler geliştirirse gerçekleşebilir. Bunlar, savaşın ve yabancı düşmanlığının reddedilmesiyle (Avrupa topraklarına gelen göçmenlere vatandaşlık ve sosyal hakların eksiksiz genişletilmesi desteğiyle) ve iklim felaketini durdurmakla başlamalıdır.

Alternatif siyaset kestirme yollara izin vermez. Yeni siyasi örgütler inşa etmek gerekiyor. Solun bunlara 20. yüzyılda olduğu kadar ihtiyacı var. Çalışma alanlarında yaygın olarak bulunan örgütler; işçilerin ve alt sınıfların mücadelelerini -hiçbir zaman bu kadar parçalı olmadığı bir zamanda- birleştirmeye çalışan örgütler; organizasyon içi yapıları toplumsal dışlanma ve yoksulluktan doğan dramatik sorunlara acil yanıtlar üretebilen bir örgüt (genel iyileştirmeler için yasamadan bile önce). Sol, işçi hareketinin diğer tarihsel dönemlerde uyguladığı toplumsal direniş ve dayanışma biçimlerinden yeniden yararlanırsa, bahsettiğimiz yaratımın gerçekleşmesine de yardımcı olacaktır. Yeni önceliklerin de tanımlanması gerekiyor, özellikle gerçek bir cinsiyet eşitliği ve genç üyelerin kapsamlı bir siyasal eğitimi anlamında. Demokrasinin teknokratik organizmalarca rehin alındığı bir çağda bu tür çalışmaların kutup yıldızı, tabandan katılımın teşvik edilmesi ve toplumsal mücadelelerin geliştirilmesidir. Radikal solun olayların gidişatını gerçekten değiştirmeye talip olabilecek yegane girişimlerinin önünde tek bir yol var: Maastricht Antlaşması[1] ile başlatılan politikalara karşı kitlesel muhalefetin ufkunu açabilecek yeni toplumsal bloğu örgütlemek ve böylece günümüz Avrupa’sında hakim olan ekonomik yaklaşımları kökten değiştirmek.

Sözün özü, neoliberal merkez-sol hükümetlerin sağ kanat güçlere yol açmak dışında bir şey yapmadığı Avrupa’da, (demokrasi kesin bir tehlikeyle karşılaştığında kullanılan bir seçim taktiği olarak değil, istikrarlı bir siyasi ittifak olarak tasarlanan) ‘ehvenişer’ politikasını tavan arasına koymanın zamanı geldi…

NOTLAR:

[1] 1992 yılında imzalanan Maastricht Antlaşması ile Avrupa Birliği’nin ekonomik birliği para politikalarının temeli netleştirildi.

Categories
Interviews

Marx a beaucoup écrit sur la liberté individuelle

Professeur de sociologie à l’université de York à Toronto, au Canada, Marcello Musto est l’auteur de plusieurs ouvrages sur Karl Marx, dont Pour lire la Première Internationale, publié aux Éditions sociales en 2022. Dans les Dernières Années de Karl Marx, ouvrage traduit de l’anglais par Antony Burlaud et publié cette année aux PUF dans la collection « Questions républicaines », c’est la fin de la vie du militant et théoricien allemand qui fait l’objet de son investigation. Une période souvent méconnue mais cruciale pour la compréhension d’une pensée dont le mouvement, libéré de certaines interprétations sclérosées, interpelle notre temps.

La fin de l’expérience du socialisme soviétique a libéré la lecture de Marx. Dans quelles directions ?

La fin du marxisme-léninisme a finalement libéré l’œuvre de Marx du carcan d’une idéologie à des années-lumière de sa conception de la société. Mais la chute du mur de Berlin a été suivie de deux décennies de conspiration du silence autour de l’œuvre de Marx. Dans les années 1990 et 2000, la littérature secondaire sur Marx était extrêmement rare et on peut en dire autant de la réimpression de ses écrits. L’œuvre de Marx – qui n’est plus confondue avec la fonction odieuse d’un instrumentum regni [1] – est redevenue l’objet d’un regain d’intérêt mondial en 2008. Ce retour à Marx, après l’une des plus grandes crises économiques de l’histoire du capitalisme, a été distinct de sa critique de l’économie. Des journaux prestigieux, ainsi que des revues à large lectorat, ont décrit l’auteur du Capital comme un théoricien clairvoyant dont l’actualité s’est une fois de plus confirmée. Marx est devenu, presque partout, le thème des cours universitaires et des conférences internationales. Ses écrits ont réapparu dans les rayons des librairies et son interprétation du capitalisme a pris de plus en plus d’ampleur. Ces dernières années, cependant, on a également reconsidéré Marx en tant que théoricien politique et de nombreux auteurs aux opinions progressistes ont soutenu que ses théories continuent d’être indispensables pour quiconque estime qu’il est nécessaire de construire une alternative à la société dans laquelle nous vivons. Ce « Marx revival » contemporain ne se limite pas seulement à la critique marxienne de l’économie politique, mais ouvre aussi à la redécouverte de ses idées politiques et de ses interprétations sociologiques.

Dans l’histoire de son œuvre, quelle est l’importance de la période d’écriture que vous abordez dans votre travail ?

Dans ses dernières années, l’éventail des intérêts de Marx était large. Par exemple, les recherches de Marx en anthropologie, inspirées du livre Ancient Society, publié en 1877 par Henry Morgan, étaient particulièrement pertinentes. Ce qui a le plus frappé Marx, c’est la façon dont Morgan a traité la production et les facteurs technologiques comme des conditions préalables au progrès social, et il s’est senti poussé à assembler une compilation d’une centaine de pages denses d’extraits de ce livre. Ceux-ci constituent l’essentiel de ce que l’on appelle les « carnets ethnologiques ». Ils contiennent également des extraits d’autres anthropologues qui ont été critiqués par Marx pour leurs observations pleines de connotations racistes. Son rejet d’une telle idéologie était catégorique, et il l’a commenté d’un ton caustique : « Encore ce non-sens ! C’est le diable qui parle ce “jargon aryen” !» Par une coïncidence fortuite, la célèbre lettre écrite par Vera Zassoulitch a été adressée à Marx à l’époque même où son intérêt pour les formes primitives de communauté s’accentuait. La théorie et la pratique l’avaient conduit au même endroit. S’appuyant sur les idées suggérées par Morgan, il écrit alors que le capitalisme pouvait être remplacé par une forme supérieure de la production collective primitive. Cette affirmation ambiguë appelle au moins deux précisions.

Lesquelles ?

Premièrement, grâce à ce qu’il avait appris du sociologue russe Nikolaï Tchernychevsky, Marx soutient que la Russie n’avait pas à répéter servilement toutes les étapes historiques de l’Angleterre et des autres pays d’Europe occidentale. En principe, la transformation socialiste de l’« obshchina », la communauté villageoise traditionnelle russe, pourrait se faire sans passage obligé par le capitalisme. Mais cela ne signifie pas que Marx ait changé son jugement critique sur la commune rurale en Russie, ou qu’il croyait que les pays où le capitalisme était encore sous-développé étaient plus proches de la révolution que d’autres avec un développement productif plus avancé. Il n’est pas devenu subitement convaincu que les communes rurales archaïques étaient un lieu d’émancipation plus avancé pour l’individu que les rapports sociaux existant sous le capitalisme. Deuxièmement, son analyse de la possible transformation progressive de l’« obshchina » n’était pas censée être élevée à un modèle plus général. C’était une analyse spécifique d’une production collective particulière à un moment historique précis. En d’autres termes, Marx a fait preuve d’une souplesse théorique et d’une absence de schématisme qui ont manqué à beaucoup de marxistes après lui. À la fin de sa vie, Marx a révélé une ouverture théorique toujours plus grande qui lui a permis d’envisager d’autres voies possibles vers le socialisme qu’il n’avait jamais prises au sérieux auparavant ou qu’il avait considérées comme inaccessibles. Malheureusement, les doutes de Marx ont été plus tard remplacés par la conviction de nombreux marxistes que le capitalisme était une étape incontournable du développement économique dans tous les pays et toutes les conditions historiques.

Quel fut, à cette époque, le fil conducteur de ses études ?

Il n’y a pas qu’un seul fil conducteur dans les dernières années de recherche de Marx. Certaines de ses études découlaient simplement de découvertes scientifiques récentes sur lesquelles il souhaitait rester à jour ou d’événements politiques qu’il jugeait significatifs. Par exemple, lorsque Joseph Cowen, député et président du Cooperative Congress – que Marx considérait comme « le meilleur des parlementaires anglais » –, a justifié l’invasion britannique de l’Égypte en 1882, Marx a exprimé sa totale désapprobation. Surtout, il a ironisé contre le gouvernement britannique : « Très joli ! En fait, il ne pourrait y avoir d’exemple plus flagrant d’hypocrisie chrétienne que la “conquête de l’Égypte” – conquête en pleine paix ! » Et lorsque Cowen exprima son admiration pour l’« exploit héroïque » du peuple britannique, Marx écrivit qu’il n’était qu’un exemple typique de « ces pauvres bourgeois britanniques » caractérisés par le « sens de la responsabilité » à l’égard de « l’intérêt domestique national ». D’autres sujets d’intérêt de cette période incluent le féminisme, l’Inde et l’histoire mondiale. Marx avait déjà appris auparavant dans sa vie que le niveau général d’émancipation dans une société dépendait du niveau d’émancipation des femmes, mais les études anthropologiques menées dans les années 1880 lui ont donné l’occasion d’analyser plus en profondeur l’oppression de genre. De plus, il a rempli un cahier intéressant intitulé Notes sur l’histoire indienne (664-1858) et il a travaillé intensivement sur ce qui est appelé les « extraits chronologiques », une chronologie annotée, année par année, de 550 pages. Ceux-ci comprenaient des exposés d’événements mondiaux, du Ier siècle avant J.-C. à la guerre de Trente Ans en 1648, résumant leurs causes et leurs traits saillants. Il est possible que Marx ait voulu tester si ses conceptions étaient bien fondées à la lumière des développements politiques, militaires, économiques et technologiques majeurs du passé.

Quel est l’intérêt aujourd’hui de la lecture du « vieux » Marx  ?

Des recherches récentes ont réfuté les diverses approches qui réduisaient la conception de Marx de la société communiste au développement des forces productives. En particulier, a été montrée l’importance qu’il attachait à la question écologique : à plusieurs reprises, Marx a dénoncé le fait que l’expansion du mode de production capitaliste accroît non seulement le vol du travail des travailleurs, mais aussi le pillage des ressources naturelles. Une autre question à laquelle Marx s’est intéressé de près était la migration. Il a montré que le mouvement forcé de main-d’œuvre généré par le capitalisme était une composante majeure de l’exploitation bourgeoise et que la clé pour lutter contre cela était la solidarité de classe entre les travailleurs, quelles que soient leurs origines ou toute distinction entre travail local et travail importé. De plus, Marx a entrepris des études approfondies sur les sociétés extra-européennes et s’est exprimé sans ambiguïté contre les ravages du colonialisme. Ces considérations ne sont que trop évidentes pour quiconque a lu Marx, malgré le scepticisme à la mode aujourd’hui dans certains milieux académiques. De plus, à la fin de sa vie, Marx a beaucoup écrit sur la liberté individuelle dans la sphère économique et politique, l’émancipation des sexes, la critique du nationalisme et les formes de propriété collective non contrôlées par l’État. En d’autres termes, il a approfondi de nombreuses questions qui acquièrent une importance cruciale pour l’agenda politique de notre époque. Le « vieux » Marx nous aide à mieux la comprendre encore et ce serait une grave erreur de le considérer comme un penseur dogmatique, économiciste et eurocentrique.

Comment prendre au sérieux la pensée de Marx sans en faire une « statue de commandeur » ou la stériliser ?

À bien des égards, Marx diffère du penseur que de nombreux partisans et opposants ont présenté au fil des ans – sans parler des statues de pierre que l’on trouvait sur les places publiques sous les régimes d’Europe de l’Est, qui le montraient pointant vers l’avenir avec une certitude impérieuse. En revanche, il serait trompeur d’affirmer dévotement qu’il a toujours eu raison et que ses écrits contiennent tous les outils critiques dont nous avons besoin pour comprendre le monde d’aujourd’hui. Marx s’est trompé sur le rôle révolutionnaire permanent de la classe ouvrière européenne. Il s’en est rendu compte dans les dernières années de sa vie, lorsqu’il affirma, amèrement, que les prolétaires anglais avaient préféré devenir les « contremaîtres de leurs propres esclavagistes ». Son analyse des classes sociales doit également être réajustée, et sa théorie de la crise, d’ailleurs inachevée, appartient au capitalisme de son temps. Marx n’a pas la réponse à tous les problèmes de notre temps, mais il en cerne les questions essentielles. Je pense que c’est sa plus grande contribution aujourd’hui. Marx aide à nous poser les bonnes questions, à identifier les principales contradictions. Ce qui, me semble-t-il, n’est pas une mince affaire.

Plus généralement, comment penser « avec » Marx pour relever les défis du monde contemporain ?

Partout en Europe, en Amérique du Nord et dans de nombreuses autres régions du monde, l’instabilité économique et politique est désormais une caractéristique persistante de la vie sociale contemporaine. La mondialisation, les crises financières, la montée des problèmes écologiques, la récente pandémie mondiale et une nouvelle guerre dramatique ne sont que quelques-uns des chocs et des tensions qui produisent les tensions et les contradictions de notre époque. Pour la première fois depuis la fin de la guerre froide, il existe un consensus mondial croissant sur la nécessité de repenser la logique d’organisation dominante de la société contemporaine et de développer de nouvelles solutions économiques et politiques. Contrairement à l’équation du communisme et de la dictature du prolétariat, chère à la propagande du « socialisme réellement existant », il est nécessaire de revenir sur les réflexions de Marx sur la société communiste. Il l’a un jour définie comme« une association d’individus libres ». Si le communisme se veut une forme supérieure de société, il doit promouvoir les conditions du « plein et libre épanouissement de chaque individu ». Dans le Capital, Marx a révélé le caractère mensonger de l’idéologie bourgeoise. Le capitalisme n’est pas une organisation de la société dans laquelle les êtres humains, protégés par des normes juridiques impartiales capables de garantir la justice et l’équité, jouissent d’une véritable liberté et vivent dans une démocratie accomplie. En réalité, ils sont dégradés en de simples objets dont la fonction première est de produire des marchandises et du profit pour les autres. Pour renverser cet état de fait, il ne suffit pas de modifier la répartition des biens de consommation. Ce qu’il faut, c’est un changement radical au niveau des actifs productifs de la société : « Les producteurs ne peuvent être libres que lorsqu’ils sont en possession des moyens de production. » Le modèle socialiste que Marx avait en tête ne laissait pas de place à un état de pauvreté générale mais visait la réalisation d’une plus grande richesse collective et d’une plus grande satisfaction des besoins. Le « vieux Maure » (2) nous est encore très utile aujourd’hui. Peut-être même plus qu’à son époque.

Entretien réalisé par Jérôme Skalski

[1] En latin, « instrument de gouvernement despotique ». (2) Par allusion au héros du Marchand deVenise, de Shakespeare, surnom familier de Karl Marx.

Categories
Interviews

The Unknown Paths of the Late Marx

Why do you think there has been a return to Marx’s work in the 21st century? Why do you focus on the last period of his life?

In the final years of his life, Marx elaborated on many questions that, while often underestimated or even ignored by scholars of his work, are critically important for the political agenda of our time. These include ecology, individual freedom in the economic and political sphere, queer liberation, the critique of nationalism, and forms of collective property not controlled by the state.

In addition, Marx researched non-European societies and spoke out against the ravages of colonialism in no uncertain terms. It is incorrect to suggest otherwise. This is evident in Marx’s unfinished manuscripts — recently published in the historical-critical edition of his complete works, the Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA2) — in spite of the skepticism that is fashionable in certain academic quarters. Thus, 30 years after the end of the Soviet Union, it is possible to read a very different Marx than the dogmatic, economistic, and Eurocentric theorist who has been criticized for so many years by those who have not read his work or have only done so superficially.

Almost all the intellectual biographies of Marx published to date give excessive weight to his earlier writings. For a long time, the difficulty of accessing the scholarship he did in the last years of his life obstructed an understanding of his important achievements. All of Marx’s biographers dedicated just a few pages to his activity after the dissolution of the International Workingmen’s Association in 1872, and have almost always used the generic title “the final decade” to summarize this phase of his life, rather than delving into what he actually did. My book aims to contribute to filling that gap.

Looking at “the late Marx,” what can we learn from his notebooks on pre-capitalist societies and his ethnological studies?

From 1881–82, Marx made remarkable theoretical progress in his studies of anthropology, pre-capitalist modes of production, non-Western societies, socialist revolution, and the material conception of history. He believed that the study of new political conflicts and new topics and geographical areas was fundamental for his critique of the capitalist system. This allowed him to be open to new national particularities and consider the possibility that the communist movement could develop in different ways than he had previously imagined.

The so-called Ethnological Notebooks (1881), which are a collection of annotated summaries of the book Ancient Society (1877) by the U.S. anthropologist Lewis H. Morgan, and of other texts on history and anthropology, represent one of the most significant investigations from the final period of his life. This work allowed Marx to acquire specific information about the social characteristics and institutions of the distant past, which had not been in his possession when he published Capital in 1867. Marx did not study anthropology out of mere intellectual curiosity, but rather with an absolutely theoretical-political intention. He wanted to reconstruct, on the basis of correct historical understanding, the sequence in which different modes of production had succeeded one another over time. This also served to give him more solid historical foundations for the possible communist transformation of society.

In pursuit of this objective, Marx devoted himself to the study of prehistory, the development of family ties, the condition of women, the origin of property relations, the community practices that existed in pre-capitalist societies, the formation and the nature of state power, and the role of the individual in society. Among his most thought-provoking ideas are his notes on the accumulation of wealth, in which he pointed out that “private property in houses, lands, herds [is connected] with the monogamous family.” As had already been argued in the Manifesto of the Communist Party (1848), this represented the starting point of history as the “history of class struggles.”

Marx also paid great attention to Morgan’s considerations on the emancipation of women. The U.S. anthropologist had asserted that ancient societies were more progressive than modern ones in their treatment of and behavior toward women. In Ancient Greece, the switch from female to male lines of descent was detrimental to the position and rights of women, and Morgan judged this social model very negatively. For the author of Ancient Society, the Greeks “remained essentially barbarian in their treatment of the female sex at the height of their civilization … inferiority was inoculated as a principle, until it came to be accepted as a fact by the women themselves.” Thinking about the contrast with the myths of the classical world, Marx added a pointed comment in his Ethnological Notebooks: “But the situation of the goddesses on Olympus demonstrates nostalgia for the former more free & influential position of the females. Powerhungry Juno, the goddess of wisdom, springs from the head of Zeus.”

Perhaps the only well-known interest of the “late Marx” is the debate on the Russian rural commune. Is this an example of his dialectical, anti-teleological thinking?

From 1870 onwards, after having learned to read Russian, Marx began a serious study of the socio-economic changes taking place in Russia. This is how he encountered the work of Nikolay Chernyshevsky, the main figure of Russian “populism” (in the 19th century, the term had a leftist and anti-capitalist connotation). In studying Chernyshevsky’s work, Marx discovered original ideas about the possibility that, in some parts of the world, economic development could leap over the capitalist mode of production with all its terrible social consequences for the working class in Western Europe. Chernyshevsky wrote that not every social phenomenon necessarily has to pass through all the logical steps in the real life of all societies. Therefore, the positive characteristics of the Russian rural commune (obshchina) should be preserved, but they could only ensure the welfare of the peasant masses if they were inserted into a different productive context. The obshchina could only contribute to a new, incipient stage of social emancipation if it became the embryo of a new and radically different social organization. Without the scientific discoveries and technological innovations associated with the rise of capitalism, the obshchina would never be transformed into an experiment in truly modern agricultural cooperativism. On this basis, the populists had two goals for their program: to prevent the advance of capitalism in Russia and to utilize the emancipatory potential of the existing rural communes.

Although this is unknown to most Marx scholars, Chernyshevsky’s work was very useful for the author of Capital. When Vera Zasulich asked him in 1881 whether the obshchina was destined to disappear or if it could be transformed into a socialist form of production, Marx had a very critical view of the process of transition from communal forms of the past to capitalism. For example, referring to India, he said that the only thing the British managed to do was to “to spoil indigenous agriculture and to swell the number and intensity of famines.” In a similar vein, Marx did not believe that capitalism was a necessary stage for Russia. He did not think that the obshchina was destined to follow the same fate as similar communes in Western Europe in previous centuries, where the transition from a society based on communal property to a society based on private property had been more or less uniform. At the same time, Marx had not altered his critical assessment of the Russian rural communes. In his view, the importance of individual development and the development of social production in order to build a socialist society remained intact. For Marx, the archaic rural communes did not foster more advanced emancipation for the individual than did the social relations that existed within capitalism.

This debate has been interpreted in various ways. A “Third Worldist” reading of Marx, for example, has proposed that in his final years he broke with his earlier ideas and switched his revolutionary subject. What do you think of these readings?

In the drafts of his letter to Vera Zasulich, there are no indications of a dramatic break with Marx’s earlier positions, as certain scholars like Haruki Wada and Enrique Dussel have believed to detect. Nor can I support the view of authors who have proposed a “Third Worldist” reading of Marx, claiming that the revolutionary subjects are no longer the factory workers, but rather the masses of the countryside and the periphery.

In line with his theoretical principles, Marx did not suggest that Russia or other countries where capitalism was still underdeveloped would necessarily become the primary focus of a revolutionary upsurge. Nor did he think that nations with backwards capitalism were closer to the goal of socialism than those with more advanced development of productive forces. In his view, sporadic rebellions or resistance struggles should not be confused with the establishment of a new socio-economic order based on socialism. The possibility he had considered at a very particular moment in Russian history, when favorable conditions existed for a progressive transformation of the agrarian communes, could not be elevated to the status of a general model. Not in Algeria ruled by the French, nor in British India, for example, could these special conditions that Chernyshevsky had identified be observed. The Russia of the early 1880s could not be compared with what might come to pass in Lenin’s times. The new element in Marx’s thinking consisted in a growing theoretical openness, which enabled him to contemplate other possible paths to socialism that he had not previously considered or which he had seen as impossible.

Marx’s considerations about the future of the obshchina can be placed at the antipode of the belief that socialism can be equated to the productive forces — a conception marked by nationalist overtones and colonialist sympathies that was present in the Second International and the social democratic parties. Marx’s views also differed greatly from the supposedly “scientific method” of social analysis prevalent in 20th century Marxism-Leninism.

The absence of any rigid schematism and the ability to develop a flexible revolutionary theory — never separated from its historical context — is useful not only for understanding Marx’s thought, but also for recalibrating the compass of the political action of the forces of the contemporary transformative Left.

At the end of his life, when he was already quite ill, Marx traveled to Algeria. This episode is not well-known. What did Marx take away from the experience?

In a desperate attempt to treat his lung disease with a temperate climate, Marx arrived in Africa in February of 1882. He stayed in Algiers for 72 days — the only period of his life he spent outside Europe. Unfortunately, almost no biographer of Marx has paid particular attention to this trip.

His terrible health prevented Marx from gaining a thorough understanding of Algerian reality. He could not even complete his plan to study the characteristics of common property among the Arabs. He became interested in this subject in the course of his studies on agrarian property and pre-capitalist societies, which he had begun in 1879. At that time, he wrote that the individualization of land ownership, carried out during the entire period of French rule, had not only procured enormous economic benefits for the invaders, but also furthered the political objective of destroying the foundations of Algerian society.

Marx was greatly distressed by the fact that he was forced to abandon any kind of laborious intellectual activity. Despite his ailments, however, he was able to summarize interesting observations about European colonialism in letters he wrote from Algiers. He furiously attacked the violent abuses and repeated provocations by the French against every act of rebellion by the local population. He stressed that, in relation to the damage caused by the great powers throughout the history of colonial occupations, the British and the Dutch had been even worse.

To conclude: In his final years, Marx continued to polemicize with people who thought it was possible to democratize the capitalist state. What do you think about this?

At the end of his life, Marx returned to the study of the origin and function of the state. Studying the anthropologist Lewis H. Morgan and criticizing the British historian Henry Maine, Marx dedicated himself to analyzing the role the state played in the transitional stage of society “from barbarism to civilization,” while also looking at the relationship between the individual and the state. Marx’s notes on the subject were in line with his most significant elaborations from the past. In the Critique of Hegel’s Philosophy of Right (1843), Marx wrote that the French were correct in asserting that “In true democracy the political state disappears.” In The Civil War in France, published in 1871, he called state power the “public force organized for social enslavement” or the “engine of class despotism.”

Similarly, in the Ethnological Notebooks of 1881, Marx defined the state as a force for social servitude that prevents the full emancipation of the individual. Moreover, in these little-known studies, he insisted on the parasitic and transitory character of the state: “that the seeming supreme independent existence of the State is itself only seeming and that it is in all its forms an excrescence of society; just as its appearance itself arises only at a certain stage of social development, it disappears again as soon as society has reached a stage not yet attained.”

These reflections seem far removed from our times, faced with the need for state intervention to mitigate the undisputed rule of the market. However, we must never forget that the socialist society theorized by Marx has nothing to do with the statism of so-called “really-existing socialisms” of the 20th century. Marx directed harsh criticism against those on the Left who wanted to govern by satisfying themselves with palliative corrections to the economic and social rules of liberalism. For this reason as well, Marx remains indispensable for all those who struggle to reconstruct an emancipatory alternative. His political critique of state communism and “socialism” that is compatible with liberalism is no less important than his economic critique of the capitalist mode of production.

Originally published in Spanish in ctxt on January 6, 2022.

Translation: Nathaniel Flakin

Categories
Interviews

Marx definiu o Estado como um poder de servidão social e uma força que impede a plena emancipação do indivíduo

A publicação em espanhol do livro de Marcello Musto, Karl Marx, 1881-1883. A última viagem do mouro (México, Siglo XXI, 2020) e sua recente tradução para o catalão (L’últim Marx. Uma biografia política, Tigre de Paper, 2021) reabriram o debate sobre o último período da vida e obra de Marx. A boa recepção deste livro em vários países – publicado em italiano em 2016, já traduzido em 15 idiomas – parece mostrar um interesse renovado por novas leituras da obra do revolucionário alemão. Entrevistamos Marcello Musto, autor de vários livros sobre a obra de Marx e professor de Sociologia na York University (Toronto).

 

Qual você acha que é a razão para esse retorno à obra de Marx no início do século XXI? E por que se concentrar agora no último período de sua vida?

Nos últimos anos de sua vida, Marx mergulhou em muitas questões que, embora muitas vezes subestimadas, ou mesmo ignoradas pelos estudiosos de sua obra, são de crucial importância para a agenda política de nosso tempo. Entre elas estão a ecologia, a liberdade individual na esfera econômica e política, a emancipação de gênero, a crítica ao nacionalismo e as formas de propriedade coletiva não controladas pelo Estado.

Além disso, Marx investigou minuciosamente as sociedades extra-europeias e se manifestou inequivocamente contra os estragos do colonialismo. É errado sugerir o contrário. Isso ficou evidente graças aos manuscritos inacabados de Marx, recentemente publicados pela edição histórico-crítica de suas obras completas – o Marx-Engels Gesamtusgabe (MEGA 2) –, apesar do ceticismo que ainda está na moda em certos setores acadêmicos. Assim, trinta anos após o fim da União Soviética, é possível ler um Marx muito diferente do teórico dogmático, economicista e eurocêntrico que foi criticado, durante tantos anos, por aqueles que não leram sua obra ou fizeram então apenas superficialmente.

Quase todas as biografias intelectuais de Marx publicadas até hoje deram peso excessivo ao exame de seus primeiros escritos. Por muito tempo, a dificuldade de examinar os estudos dos últimos anos de sua vida impediu o conhecimento das importantes conquistas que alcançou. Todos os biógrafos de Marx dedicaram pouquíssimas páginas à sua atividade após a dissolução da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1872, e quase sempre usaram o título genérico de “ultima década” para resumir essa parte de sua existência, em vez de investigar no que ele realmente fez durante esse período. Meu livro visa ajudar a preencher essa lacuna.

 

Colocando o foco no “último Marx”, o que seus cadernos contribuem sobre as sociedades pré-capitalistas e seus estudos etnológicos?

Entre 1881 e 1882, Marx fez notável progresso teórico em relação à antropologia, modos de produção pré-capitalistas, sociedades não-ocidentais, revolução socialista e concepção materialista da história. Considerou que o estudo de novos conflitos políticos e novos temas e áreas geográficas era fundamental para sua crítica ao sistema capitalista. Isso permitiu que ele se abrisse para novas especificidades nacionais e considerasse a possibilidade de desenvolvimento do movimento comunista de maneiras diferentes do que havia pensado anteriormente.

Os chamados Cadernos Antropológicos de 1881 – que são uma coleção de resumos anotados do livro Ancient Society (1877) do antropólogo americano Lewis Morgan e outros textos de história e antropologia – representam uma das investigações mais significativas do período final de sua vida. Esse trabalho permitiu a Marx adquirir informações particulares sobre as características sociais e instituições do passado mais remoto, que ainda não estavam em seu poder quando publicou O capital em 1867. Marx não se preocupava com a antropologia por mera curiosidade intelectual, embora o fizesse com uma intenção primorosamente teórico-política. Ele queria reconstruir, com base em um conhecimento histórico correto, a sequência com que, no decorrer do tempo, os diferentes modos de produção se sucederam. Isso serviu também para dar fundamentos históricos mais sólidos à possível transformação do tipo comunista de sociedade.

Perseguindo esse objetivo, Marx dedicou-se ao estudo da pré-história, o desenvolvimento dos laços familiares, a condição da mulher, a origem das relações de propriedade, as práticas comunitárias existentes nas sociedades pré-capitalistas, a formação e a natureza do poder estatal e o papel do indivíduo na sociedade. Entre as considerações mais sugestivas estão suas notas sobre a acumulação de riquezas, onde indicou que “a propriedade privada de casas, terras e rebanhos está ligada à família monogâmica”. Como já havia sido argumentado no Manifesto do Partido Comunista (1848), isso representava o ponto de partida da história como “história da luta de classes”.

Marx também prestou grande atenção às considerações de Morgan sobre a emancipação das mulheres. O antropólogo americano havia afirmado que as sociedades antigas eram mais progressistas do que as contemporâneas em termos de tratamento e comportamento em relação às mulheres. Na Grécia Antiga, a mudança de descendência de linha feminina para masculina era prejudicial à posição e direitos das mulheres e Morgan avaliou esse modelo social de forma muito negativa. Para o autor de Ancient Society, os gregos ainda eram “bárbaros, no auge de sua civilização, no tratamento do sexo feminino. A inferioridade lhes foi incutida como princípio, a ponto de ser aceita como fato pelas próprias mulheres.
Pensando em contraste com os mitos do mundo clássico, nos Cadernos Antropológicos Marx acrescentou um comentário contundente: “A situação das deusas do Olimpo mostra reminiscências de uma posição anterior das mulheres. Mais livre e influente. A sedenta de poder Juno, a deusa da sabedoria que nasceu da cabeça de Zeus.”

 

Talvez o único tópico conhecido do “último Marx” seja o debate sobre a comuna rural russa. É uma amostra do pensamento dialético e anti teleológico de Marx? Quais foram suas principais fontes teóricas nesse caso?

A partir de 1870, depois de ter aprendido a ler russo, Marx começou a estudar seriamente as mudanças socioeconômicas que ocorreram na Rússia. Assim, ocorreu um encontro fundamental com a obra de Nikolai Chernyshevski – a principal figura do populismo (expressão que, no século XIX, tinha um sentido de esquerda e anticapitalista) naquele país. Ao estudar a obra de Chernyshevsky, Marx descobriu ideias originais sobre a possibilidade de que, em algumas partes do mundo, o desenvolvimento econômico tenha contornado o modelo capitalista de produção e as terríveis consequências sociais que ele teve para a classe trabalhadora da Europa Ocidental. Chernyshevski escreveu que qualquer fenômeno social não precisa necessariamente passar por todos os momentos lógicos da vida real de todas as sociedades. Portanto, as características positivas da comuna rural (Obshchina) tinham que ser preservadas, mas só poderiam garantir o bem-estar das massas camponesas se estivessem inseridas em um contexto produtivo diferente. A obschina só poderia contribuir para um estágio incipiente de emancipação social se se tornasse o embrião de uma organização social nova e radicalmente diferente. Sem as descobertas científicas e as aquisições tecnológicas associadas à ascensão do capitalismo, a obschina jamais se transformaria em um experimento verdadeiramente moderno de cooperativismo agrícola. Com base nisso, os populistas propõem dois objetivos para seu programa: impedir o avanço do capitalismo na Rússia e usar o potencial emancipatório das comunas rurais pré-existentes.

Embora isso seja desconhecido para a maioria dos estudiosos de Marx, o trabalho de Chernyshevsky foi muito útil para o autor de O capital. Quando, em 1881, Vera Zasulich lhe perguntou se a obschina estava destinada a desaparecer ou se havia se transformado em uma forma de produção socialista, Marx tinha uma visão muito crítica dos processos de transição das formas comunais do passado para o capitalismo. Por exemplo, referindo-se à Índia, ele afirmou que a única coisa que os britânicos conseguiram foi “arruinar a agricultura nativa e dobrar o número de fomes e sua gravidade” e Marx não considerava o capitalismo uma etapa obrigatória para a Rússia. Ele não achava que a obschina estivesse destinada a ter o mesmo destino que formas semelhantes na Europa Ocidental em séculos anteriores, onde a transição de uma sociedade baseada na propriedade comunal para uma sociedade baseada na propriedade privada havia sido mais ou menos uniforme. Ao mesmo tempo, Marx não alterou seu julgamento crítico sobre as comunas rurais russas e, em sua análise, a importância do desenvolvimento individual e da produção social, para a construção de uma sociedade socialista, permaneceu intacta. Para Marx, as comunas rurais arcaicas não eram um foco mais avançado de emancipação do indivíduo do que as relações sociais que existiam dentro do capitalismo.

 

Este debate tem sido interpretado de várias maneiras. Por exemplo, a partir de uma leitura “terceiro-mundista”, foi proposto um Marx que em seus últimos anos rompe consigo mesmo e muda seu sujeito revolucionário. Qual a sua opinião sobre essas leituras?

Nos rascunhos da carta a Vera Zasulich não há indícios de uma ruptura dramática de Marx com suas posições anteriores, como alguns estudiosos como Haruki Wada e Enrique Dussel pensaram detectar. Tampouco podemos compartilhar a perspectiva dos autores que sugeriram uma leitura de “terceiro mundo” do último Marx, segundo a qual os sujeitos revolucionários não são mais os trabalhadores das fábricas, mas as massas do campo e da periferia.

De acordo com seus princípios teóricos, Marx não sugeriu que a Rússia ou outros países onde o capitalismo ainda era subdesenvolvido tivessem que se tornar o foco principal de uma explosão revolucionária. Tampouco pensava que nações com capitalismo mais atrasado estivessem mais próximas da meta do socialismo do que aquelas caracterizadas por desenvolvimento produtivo mais avançado. Em sua opinião, rebeliões esporádicas ou lutas de resistência não devem ser confundidas com o estabelecimento de uma nova ordem socioeconômica baseada no socialismo. A possibilidade que ele havia considerado em um momento muito particular da história russa, quando surgiram as condições favoráveis ​​para uma transformação progressiva das comunas agrárias, não podia ser elevada ao status de modelo geral. Nem a Argélia dominada pelos franceses nem a Índia britânica, por exemplo, tinham as condições especiais que Chernyshevsky havia identificado, e a Rússia no início da década de 1880 não era páreo para o que poderia acontecer lá na Rússia dos tempos de Lenin. O elemento novo no pensamento de Marx era uma abertura teórica cada vez maior que lhe permitia contemplar outros caminhos possíveis para o socialismo que antes ele não havia considerado seriamente, ou considerado inatingível.

As considerações de Marx sobre o futuro da obschina estão no extremo oposto da equação do socialismo com as forças produtivas, concepção marcada por conotações nacionalistas e simpatias colonialistas presentes na Segunda Internacional e nos partidos social-democratas. Eles também diferem muito do chamado “método científico” de análise social predominante no marxismo-leninismo do século XX.

A ausência de qualquer tipo de esquematismo rígido e a capacidade de desenvolver uma teoria revolucionária dúctil – e nunca separada de seu contexto histórico – é útil não só para uma melhor compreensão do pensamento de Marx, mas também para recalibrar o compasso da ação política de Marx com as forças da esquerda transformadora contemporânea.

 

No final da vida, já bastante doente, Marx fez uma viagem à Argélia, pouco conhecida em sua biografia. O que o olhar de Marx contribui a partir daí?

Em uma tentativa extrema de curar sua doença pulmonar, em busca de um clima temperado, Marx chegou à África em fevereiro de 1882. Ele se estabeleceu por 72 dias em Argel e este foi o único período de sua vida que passou fora da Europa. Quase nenhum biógrafo de Marx prestou atenção especial a essa jornada.

As terríveis condições de saúde impediram Marx de compreender plenamente a realidade argelina. Nem mesmo, como desejava, lhe foi possível estudar as características da propriedade comum entre os árabes. Ele já havia se interessado por esse assunto no curso de seus estudos sobre propriedade agrária e sociedades pré-capitalistas, iniciados em 1879. Escreveu então que a individualização da propriedade da terra, realizada ao longo do domínio francês, não apenas proporcionou um enorme benefício econômico para os invasores, mas também promoveu o objetivo político de destruir os fundamentos da sociedade argelina.

Marx estava muito angustiado por ter que abandonar à força qualquer tipo de atividade intelectual laboriosa. No entanto, apesar de suas doenças, entre as observações mais interessantes que conseguiu resumir nas cartas escritas em Argel, destacam-se as contra o colonialismo europeu. Atacou furiosamente os violentos ultrajes e repetidas provocações dos franceses diante de cada ato de rebelião da população local, sublinhando que, em relação aos danos causados ​​pelas grandes potências na história das ocupações coloniais, os britânicos e os holandeses, eles tinham sido ainda piores.

 

Para concluir: nos últimos anos, Marx continuou a se envolver em polêmica com aqueles que pensam que é possível democratizar o estado capitalista. O que você acha?

No final de sua vida, Marx voltou a estudar a origem e as funções do Estado. Através dos estudos do antropólogo Morgan e criticando o historiador britânico Henry Maine, Marx dedicou-se à análise do papel desempenhado pelo Estado na fase de transição “da barbárie à civilização” e às relações entre o indivíduo e o Estado. As últimas anotações de Marx de propósito estavam em continuidade com suas elaborações mais significativas do passado. Em Sobre a Crítica da Filosofia Hegeliana do Direito Público, de 1843, Marx havia escrito que os franceses estavam certos ao afirmar que “o Estado político deve desaparecer na verdadeira democracia” e em A Guerra Civil na França, publicado em Em 1871, ele havia representado o poder estatal como a “força pública organizada para a escravização social” ou como a “máquina do despotismo de classe”.

Da mesma forma, nos Cadernos Antropológicos de 1881, Marx definiu o Estado como um poder de servidão social e uma força que impede a emancipação plena do indivíduo. Além disso, nesses estudos pouco conhecidos, ele insistia no caráter parasitário e transitório do Estado: “a existência, supostamente suprema e independente, do Estado é apenas uma aparência. O Estado, em todas as suas formas, é uma consequência da sociedade. Mesmo sua aparência não aparece até que a sociedade tenha atingido um certo estágio de desenvolvimento e desaparecerá novamente assim que a sociedade atingir um nível até então inatingido.

Essas reflexões parecem muito distantes do nosso tempo e da necessidade de intervenção do Estado para mitigar o domínio indiscutível do mercado. No entanto, nunca devemos esquecer que a sociedade socialista teorizada por Marx nada tem a ver com o estatismo dos chamados “socialismos reais” do século XX e que Marx sempre dirigiu uma dura crítica contra a esquerda que queria governar contente com fazendo meros paliativos às diretrizes econômicas e sociais do liberalismo. Por esta razão também Marx continua indispensável a todos aqueles que lutam para reconstruir uma alternativa emancipatória, e sua crítica política do comunismo de Estado e socialismos compatíveis com o liberalismo não é menos importante do que sua crítica econômica do modo de produção capitalista.

Categories
Interviews

Marx definió al Estado como un poder de servidumbre social y una fuerza que impide la plena emancipación del individuo

La publicación en castellano del libro de Marcello Musto, Karl Marx, 1881-1883. El último viaje del Moro (México, Siglo XXI, 2020) y su traducción reciente al catalán (L’últim Marx. Una biografia política, Tigre de Paper, 2021) han reabierto el debate sobre el último período de la vida y la obra de Marx. La buena recepción de este libro en varios países –publicado en italiano en 2016, ya ha sido traducido en 15 idiomas– parece mostrar un renovado interés por nuevas lecturas de la obra del revolucionario alemán. Entrevistamos a Marcello Musto, autor de numerosos libros sobre la obra de Marx y catedrático de Sociología en la Universidad de York (Toronto).

¿A qué crees que se debe este retorno a la obra de Marx a comienzos del siglo XXI? ¿Y por qué concentrarnos ahora en el último período de su vida?

En los últimos años de su vida, Marx profundizó muchas cuestiones que, aunque a menudo subestimadas, o incluso ignoradas por los estudiosos de su obra, adquieren una importancia crucial para la agenda política de nuestro tiempo. Entre ellas está la ecología, la libertad individual en la esfera económica y política, la emancipación de género, la crítica al nacionalismo y las formas de propiedad colectiva no controladas por el Estado.

Además, Marx investigó a fondo las sociedades extra-europeas y se expresó sin ambages contra los estragos del colonialismo. Es un error sugerir lo contrario. Esto se ha hecho evidente gracias a los manuscritos inacabados de Marx, recién publicados por la edición histórico-crítica de sus obras completas – la Marx-Engels Gesamtusgabe (MEGA2)–, a pesar del escepticismo que todavía está de moda en ciertos sectores académicos. Así, treinta años después del fin de la Unión Soviética, es posible leer a un Marx muy distinto del teórico dogmático, economicista y eurocéntrico que ha sido criticado, durante tantos años, por quienes no habían leído su obra o lo habían hecho solo superficialmente.

Casi todas las biografías intelectuales de Marx publicadas hasta hoy han dado un peso excesivo al examen de sus escritos de juventud. Durante mucho tiempo, la dificultad de examinar los estudios de los últimos años de su vida ha obstaculizado el conocimiento de los importantes logros que él alcanzó. Todos los biógrafos de Marx han dedicado muy pocas páginas a su actividad después de la disolución de la Asociación Internacional de Trabajadores, en 1872, y han utilizado casi siempre el título genérico de “la última década” para resumir esta parte de su existencia, en lugar de profundizar en lo que realmente hizo durante ese período. Mi libro pretende contribuir a llenar este vacío.

 

Poniendo el foco en “el último Marx”, ¿qué aportan sus cuadernos sobre las sociedades precapitalistas y sus estudios etnológicos?

Entre 1881 y 1882, Marx hizo notables progresos teóricos en relación con la antropología, los modos de producción precapitalistas, las sociedades no occidentales, la revolución socialista y la concepción materialista de la historia. Él consideraba que el estudio de nuevos conflictos políticos y de nuevos temas y zonas geográficas era fundamental para su crítica del sistema capitalista. Esto le permitió abrirse a nuevas especificidades nacionales y considerar la posibilidad del desarrollo del movimiento comunista en formas diferentes de las que había pensado anteriormente.

Los denominados Cuadernos antropológicos de 1881 –que son una colección de resúmenes comentados del libro La sociedad antigua (1877) del antropólogo estadounidense Lewis Morgan y de otros textos de historia y de antropología– representan una de las investigaciones más significativas del período final de su vida. Este trabajo permitió a Marx adquirir información particularizada sobre las características sociales y las instituciones del pasado más remoto, que no estaban aún en su posesión cuando había publicado El capital, en 1867. Marx no se ocupó de la antropología por mera curiosidad intelectual, aunque sí con una intención exquisitamente teórico-política. Quería reconstruir, sobre la base de un correcto conocimiento histórico, la secuencia con la cual, en el curso del tiempo, se habían sucedido los diferentes modos de producción. Ésta le servía también para dar fundamentos históricos más sólidos a la posible transformación de tipo comunista de la sociedad.

Persiguiendo este objetivo, Marx se dedicó al estudio de la prehistoria, del desarrollo de los vínculos familiares, de la condición de las mujeres, del origen de las relaciones de propiedad, de las prácticas comunitarias existentes en las sociedades precapitalistas, de la formación y la naturaleza del poder estatal y del rol del individuo en la sociedad. Entre las consideraciones más sugerentes están sus notas sobre la acumulación de riqueza, donde se indicaba que “la propiedad privada de casas, tierras y rebaños está vinculada con la familia monógama”. Como se había argumentado ya en El Manifiesto del partido comunista (1848), esto representaba el punto de partida de la historia como “historia de la lucha de clases”.

También Marx prestó gran atención a las consideraciones de Morgan sobre la emancipación de las mujeres. El antropólogo americano había afirmado que las sociedades antiguas fueron más progresistas que las contemporáneas en cuanto al trato y al comportamiento hacia las mujeres. En la Antigua Grecia, el cambio de la descendencia por línea femenina a la masculina fue perjudicial para la posición y los derechos de la mujer y Morgan evaluó muy negativamente este modelo social. Para el autor de La sociedad antigua, los griegos seguían siendo “bárbaros, en el apogeo de su civilización, en el tratamiento del sexo femenino. La inferioridad les era inculcada como un principio, hasta el punto de que llegó a ser aceptada como un hecho por las mujeres mismas”. Pensando en contraste con los mitos del mundo clásico, en los Cuadernos antropológicos Marx agregó un agudo comentario: “La situación de las diosas del Olimpo muestra reminiscencias de una posición anterior de las mujeres. Más libre e influyente. La ansiosa de poder Juno, la diosa de la sabiduría que nace de la cabeza de Zeus”.

 

Quizás el único tema que se conoce del “último Marx” es el debate sobre la comuna rural rusa. ¿Es una muestra del pensamiento dialéctico, anti teleológico de Marx? ¿Cuáles fueron sus principales fuentes teóricas en este caso?

A partir de 1870, después de haber aprendido a leer en ruso, Marx se puso a estudiar muy seriamente los cambios socioeconómicos que acontecieron en Rusia. Así se produjo un encuentro fundamental con la obra de Nikolái Chernishevski –la principal figura del populismo (expresión que, en el siglo XIX, tenía sentido izquierdista y anticapitalista) de aquel país. Al estudiar la obra de Chernishevski, Marx descubrió ideas originales acerca de la posibilidad de que, en algunas partes del mundo, el desarrollo económico saltara el modelo productivo capitalista y las terribles consecuencias sociales que había tenido para la clase trabajadora de Europa occidental. Chernishevski había escrito que un fenómeno social cualquiera no tiene que atravesar necesariamente todos los momentos lógicos en la vida real de todas las sociedades. Por lo tanto, las características positivas de la comuna rural (obschina) debían ser preservadas, pero solo podrían asegurar el bienestar de las masas campesinas si se insertaban en un contexto productivo diferente. La obschina solo podría contribuir a una etapa incipiente de la emancipación social si se transformaba en el embrión de una organización social nueva y radicalmente distinta. Sin los descubrimientos científicos y las adquisiciones tecnológicas asociadas al ascenso del capitalismo, la obschina nunca se transformaría en un experimento de cooperativismo agrícola verdaderamente moderno. Sobre esta base, los populistas plantearon dos objetivos para su programa: impedir el avance del capitalismo en Rusia y utilizar el potencial emancipatorio de las comunas rurales preexistentes.

Aunque esto es desconocido por la mayoría de los estudiosos de Marx, la obra de Chernishevski fue muy útil para el autor de El capital. Cuando, en 1881, Vera Zasulich le preguntó si la obschina estaba destinada a desaparecer o había podido ser transformada en una forma de producción socialista, Marx tenía una visión muy crítica sobre los procesos de transición de las formas comunales del pasado hacia el capitalismo. Por ejemplo, al referirse a India, él afirmó que lo único que los británicos lograron fue “arruinar la agricultura nativa y duplicar la cantidad de hambrunas y su gravedad” y Marx no consideraba al capitalismo como una etapa obligatoria para Rusia. Él no pensaba que la obschina estaba predestinada a seguir el mismo destino que otras formas similares de Europa occidental en siglos anteriores, donde la transición de una sociedad fundada en la propiedad comunal a una sociedad fundada en la propiedad privada había sido más o menos uniforme. Al mismo tiempo, Marx no había alterado su juicio crítico de las comunas rurales rusas y, en su análisis, la importancia del desarrollo individual y de la producción social, al fin de construir una sociedad socialista, permaneció intacta. Para Marx las comunas rurales arcaicas no eran un foco de emancipación más avanzado para el individuo que las relaciones sociales que existían dentro del capitalismo.

 

Este debate se ha interpretado de variadas formas. Por ejemplo, desde una lectura “tercermundista” se ha propuesto un Marx que en sus últimos años rompe consigo mismo y cambia de sujeto revolucionario. ¿Cuál es su opinión sobre estas lecturas?

En los borradores de la carta a Vera Zasulich no existen indicios de un quiebre dramático de Marx con sus posturas anteriores, como han creído detectar algunos estudiosos como Haruki Wada y Enrique Dussel. Tampoco se puede compartir la mirada de los autores que han sugerido una lectura “tercermundista” del Marx tardío, según la cual los sujetos revolucionarios ya no son los obreros fabriles sino las masas del campo y la periferia.

En concordancia con sus principios teóricos, Marx no sugirió que Rusia u otros países donde el capitalismo todavía estaba infradesarrollado tuviesen que transformarse en el foco primordial de un estallido revolucionario. Ni tampoco pensaba que las naciones con un capitalismo más atrasado estuviesen más cerca del objetivo del socialismo que aquellos caracterizados por un desarrollo productivo más avanzado. En su opinión, no se debían confundir las rebeliones o luchas por la resistencia esporádicas con el establecimiento de un nuevo orden socioeconómico basado en el socialismo. La posibilidad que él había considerado en un momento muy particular de la historia de Rusia, cuando se dieron condiciones favorables para una transformación progresiva de las comunas agrarias, no podía elevarse al estatus de modelo general. Ni en la Argelia dominada por los franceses, ni en la India británica, por ejemplo, se observaban las condiciones especiales que Chernishevski había identificado, y la Rusia de principios de la década de 1880 no podía compararse con lo que pudiese llegar a ocurrir allí en tiempos de Lenin. El nuevo elemento en el pensamiento de Marx consistió en una apertura teórica, cada vez mayor, que le permitió contemplar otros caminos posibles al socialismo que anteriormente no había considerado seriamente o que había considerado inalcanzables.

Las consideraciones de Marx sobre el futuro de la obschina se encuentran en las antípodas de la equiparación del socialismo con las fuerzas productivas, una concepción marcada por tintes nacionalistas y simpatías colonialistas que se hizo presente en la Segunda Internacional y los partidos socialdemócratas. También difieren en gran medida del supuesto “método científico” de análisis social preponderante en el marxismo-leninismo del siglo XX.

La ausencia de cualquier tipo de rígido esquematismo y la capacidad de desarrollar una teoría revolucionaria dúctil –y nunca separada de su contexto histórico– es útil no sólo para una mejor comprensión del pensamiento de Marx, sino también para recalibrar la brújula de la acción política de las fuerzas de la izquierda transformadora contemporánea.

 

Al final de su vida, ya bastante enfermo, Marx hizo un viaje a Argelia, poco conocido en su biografía. ¿Qué aporta la mirada de Marx desde allí?

En un intento extremo por curar su enfermedad pulmonar, en busca de un clima templado, Marx llegó a África en febrero de 1882. Se estableció por 72 días en Argel y este fue el único período de su vida que pasó fuera de Europa.Lamentablemente, casi ningún biógrafo de Marx ha prestado particular atención a este viaje.

Las terribles condiciones de salud impidieron a Marx comprender a fondo la realidad argelina. Ni siquiera, como deseaba, le fue posible estudiar las características de la propiedad común entre los árabes. Él ya se había interesado por este tema en el curso de sus estudios sobre la propiedad agraria y las sociedades precapitalistas, que había iniciado en 1879. Entonces escribió que la individualización de la propiedad de la tierra, realizada a lo largo del dominio francés, había procurado no sólo un enorme beneficio económico a los invasores, sino también había favorecido el objetivo político de destruir las bases de la sociedad argelina.

Marx estaba muy afligido por haber tenido que abandonar, de manera forzosa, cualquier tipo de actividad intelectual laboriosa. Sin embargo, a pesar de sus dolencias, entre las observaciones más interesantes que logró resumir en las cartas redactadas en Argel destacan aquellas contra el colonialismo europeo. Él atacó furibundamente los violentos atropellos y las repetidas provocaciones de los franceses frente a cada acto de rebelión de la población local, subrayando que, en relación con los daños producidos por las grandes potencias en la historia de las ocupaciones coloniales, los británicos y los holandeses habían sido aún peores.

 

Para terminar: en los últimos años, Marx sigue abocado a la polémica con aquellos que piensan que es posible democratizar el Estado capitalista. ¿Qué piensas?

Al final de su vida, Marx volvió a estudiar el origen y las funciones del Estado. A través de los estudios del antropólogo Morgan y criticando al historiador británico Henry Maine, Marx se dedicó al análisis del papel desarrollado por el Estado en la fase de transición “de la barbarie a la civilización” y a las relaciones entre individuo y Estado. Las últimas anotaciones de Marx a propósito fueron en continuidad con sus elaboraciones más significativas del pasado. En De la crítica de la filosofía hegeliana del derecho público, de 1843, Marx había escrito que los franceses estaban en lo correcto al afirmar que “el Estado político tiene que desaparecer en la verdadera democracia” y en La guerra civil en Francia, publicada en 1871, él había representado el poder estatal como la “fuerza pública organizada para la esclavización social” o como la “máquina del despotismo de clase”.

De manera similar, en los Cuadernos antropológicos de 1881, Marx definió al Estado como un poder de servidumbre social y una fuerza que impide la plena emancipación del individuo. Además, en estos estudios muy poco conocidos, él insistió sobre el carácter parasitario y transitorio del Estado: “la existencia, supuestamente suprema e independiente, del Estado no es más que una apariencia. El Estado, en todas sus formas, es una excrecencia de la sociedad. Incluso su apariencia no se presenta hasta que la sociedad ha alcanzado un cierto grado de desarrollo y desaparecerá de nuevo en cuanto la sociedad llegue a un nivel hasta ahora inalcanzado”.

Estas reflexiones parecen muy alejadas de nuestro tiempo y de la necesidad de la intervención del Estado para mitigar el dominio indiscutible del mercado. Sin embargo, nunca hay que olvidar que la sociedad socialista teorizada por Marx no tiene nada que ver con el estatismo de los llamados “socialismos reales” del siglo XX y que Marx siempre dirigió una crítica aspérrima contra la izquierda que quisiera gobernar contentándose con hacer meros paliativos a las directrices económicas y sociales del liberalismo. También por esta razón, Marx sigue siendo indispensable para todos los que luchan por reconstruir una alternativa emancipadora y su crítica política del comunismo de Estado y de los socialismos compatibles con el liberalismo no es menos importante que su crítica económica del modo de producción capitalista.