No dia 5 de janeiro de 1879, o jornal “The Chicago Tribune” publicava uma entrevista com o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883).
Ja com 61 anos, Marx deixa uma resposta lapidar e premonitória: “Se eu fasse responder a tudo o que foi dito e escrito sobre mim, teria de contratar 20 secretários.” Longe de ser ditada por sobranceria, a frase revela, antes de mais, a essencial noção do quanto, jà então, o seu pensamento era deturpado e manipulado, como continuou e continua a suceder, não obstante o renovado interesse e estudo dos seus conceitos teóricos. Embora se circunscreva aos últimos anos de vida de Marx, num arco temporal situado entre 1881 e 1883, quando sucumbe à sua própria doença e após dois anos marcados por dramas familiares, problemas económicos e a morte da mulher e companheira de luta, a ativista Johanna von Westphalen, o livro do italiano Marcello Musto e um bom ponto de partida para uma viagem por algumas componentes do universo marxista. Centrado nos dois últimos anos de vida do filósofo, um período sobre o qual ha a tendência para acolher a ideia de um Marx menos produtivo e incisivo, esta pequena biografia põe em evidencia o modo como, ate naquele período difícil do ponto de vista pessoal, este não deixou de estender as suas investigações aos mais diverses domínios. Com base em manuscritos pouco conhecidos, Musto mostra como o autor de “O Capital” passa a interessar-se pela matemática, pela antropologia, pelas particularidades do mundo árabe e até pelas questões do colonialismo europeu. Musto inclui ainda entrevistas com Eric Hobsbawm (1917-2012), um dos mais reputados historiadores marxistas ingleses, membro do PC da Grã-Bretanha desde 1931 ate a sua extinção em 1991, e com Immanuel Wallerstein (1930-2019), um dos mais influentes sociólogos dos EUA e membro do “Gang of Four”, grupo de academicos dedicados ao estudo e abolição do capitalismo global.
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