Esta preciosa antologia política organizada por Marcello Musto, de manifestos, documentos e intervenções da AIT – Associação Internacional dos Trabalhadores (1864-1872), a “primeira” Internacional –, é uma excelente maneira de brindar aos seus 150 anos de fundação.
É bem-vinda e oportuna porque repõe um dos episódios de maior vitalidade da práxis histórica dos trabalhadores do século XIX nestes dias de profunda desorganização, depressão ideológica e submissão do trabalho ao capital.
Reproduzindo o debate das diversas correntes ideológicas do movimento dos trabalhadores, esta publicação desintoxica, oxigena e municia corações e mentes para a compreensão e o enfrentamento das mazelas do presente e dos desafios futuros do mundo do trabalho.
A escolha dos textos – grande parte inédita no Brasil – que compõem o volume apresenta pelo menos três eixos fundamentais.
O primeiro recai no desenho econômico e político organizativo da futura sociedade projetado pelos protagonistas da AIT. O segundo trata das questões internacionais no conturbado contexto europeu das décadas de 1860 e 1870 do século XIX, marcado por guerras de libertação nacional e movimentos insurrecionais (Irlanda e Polônia), de guerra civil (Estados Unidos), de guerra entre nações (franco-prussiana) e da primeira revolução proletária (Comuna de Paris). E, finalmente, o terceiro eixo, a questão política, das suas formas, do debate entre a luta política versus abstencionismo, do fim do Estado.
Surgem ainda outros temas de relevância, como as questões de organização e forma da luta sindical, crédito, cooperativismo, propriedade coletiva, a questão fundiária, sobre o direito ou abolição de herança, internacionalismo e nacionalismo.
Diante dessa extensa pauta, expressando seu caráter de federações de organizações e movimentos, tomam postos na tribuna da AIT e animam o debate tradeunionistas, owenistas, marxistas, bakuninistas, blanquistas, mazzinistas, proudhonianos, entre outros.
Nesse ponto, expondo as manifestações de um leque amplo de militantes, esta antologia se diferencia daquelas vinculadas a uma certa ortodoxia, que viam a AIT não como trabalho coletivo, mas como exclusivamente restrita à figura e à participação de Marx, interrompida em 1872.
Ainda que o Doutor Vermelho – como os jornais burgueses da época se referiam a Marx após a Comuna de Paris – tenha escrito os documentos mais importantes de seu Conselho Geral e tenha sido sua alma, obviamente a AIT, um dos mais importantes feitos da humanidade, não pode ser reduzida à sua personalidade ou à de qualquer outro protagonista.
Um destaque final à competente introdução de Marcello Musto, que muito contribui para tornar esta antologia política leitura indispensável para estudiosos, militantes do movimento dos trabalhadores e para todos aqueles que se interessam pela ciência da história.
Marcello
Musto